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Impeachment: valeu a pena?

Por João César de Melo, publicado pelo Instituto Liberal

Michel Temer completa 30 dias de governo. Um mês e não acabou com a crise econômica!  Um mês e não acabou com a pobreza! A saúde, a educação e tudo mais continuam um lixo! Não acabou com a corrupção! Fora Temer!

Sarcasmo a parte, só de vermos pela primeira vez em mais de 13 anos artistas, estudantes, sindicalistas,inteligentinhos de classe média e movimentos disso e daquilo protestando contra o governo, já faz do impeachment uma grande vitória. Enfim, o Brasil volta a ter um presidente que não conta com um exército de militantes em sua defesa. Isso é ótimo.

A todos os “golpistas”, obrigado!

A verdade é que nem Deus conseguiria reconstruir em 30 dias o que o PT destruiu em 13 anos.

Se considerarmos que o Brasil sofreu durante 10 anos (2° metade da década de 1980 e 1° metade da década de 1990) as consequências das políticas econômicas do regime militar e precisou de outros 10 anos (governos FHC e metade do 1° governo Lula) para ajustar suas contas, não seria exagero prever que o país levará mais 10 anos para se refazer economicamente do estrago causado por Dilma.

O que está ao alcance de Michel Temer é fazer o que ele já está fazendo, iniciando um processo de reorganização das contas públicas, demitindo parasitas, extinguindo órgãos e cortando dinheiro das milícias petistas. Já é algo para se comemorar.

Obrigado, Temer!

Foi ingênuo quem esperou um quadro ministerial composto apenas por “notáveis”, afinal, Temer tinha que subornar os partidos de alguma forma. Mas as nomeações de pessoas implicadas na Lava Jato somadas a novas denúncias acabaram sendo mais um indicativo de que o impeachment valeu a pena. O PMDB tornou-se alvo. Tão bom quanto ver seus líderes sendo enquadrados pela justiça é a destruição da narrativa de “perseguição ao PT”.

O pedido de prisão feito por Rodrigo Janot contra Renan Calheiros, José Sarney, Romero Jucá e Eduardo Cunha darão sustentação ao pedido de prisão de Lula, de Aloisio Mercadante, de Fernando Pimentel e até da própria Dilma Rousseff. Aécio já tem dois inquéritos nas costas. O ex-presidente da OAS promete detalhar o caixa dois da campanha de Marina Silva. Ou seja: Todos os principais nomes da política brasileira estão relacionados de alguma forma com os mesmos esquemas de corrupção.

O impeachment foi uma grande vitória da sociedade por também comprovar que a Lava Jato tem vida própria. As gravações de Sérgio Machado não mostraram apenas o medo dos políticos e o fracasso das tentativas de se melar a operação, mas também que a classe política é formada por um único grupo que tenta se preservar a despeito do partido que cada um representa. Quando votam pela queda de algum colega, não estão punindo alguém. Estão apenas sacrificando um membro em nome da preservação da classe. As críticas, as acusações, as denúncias de uns contra os outros diante das câmeras são apenas encenações.

Nas gravações de Sérgio Machado ficou evidente a preocupação da alta cúpula do PMDB em salvar Lula e Dilma. O plano A era colocar Lula como chefe da Casa Civil para governar no lugar de Dilma, sem afastar a presidente. O plano B era propor novas eleições ou a instauração de uma gambiarra parlamentarista, também para se preservar Lula e Dilma. Sérgio Moro estragou tudo divulgando as fitas com as conversas de Dilma, Lula e Mercadante. Só a partir disso que o PMDB decidiu votar pelo impeachment.

Nunca antes na história do Brasil, a podridão da política esteve tão em evidência.

“O Brasil precisa de uma reforma política”, continuam dizendo, sem perceber que ela já começou. Primeiro, com a Lava Jato, depois com o próprio impeachment. A Lava Jato continua.

A sociedade precisa entender que nunca haverá uma reforma política positiva enquanto a política for controlada por uma dúzia de nomes do PMDB, do PT e do PSDB; e que não existe outra forma de tirá-los de cena se não colocando-os na cadeia. É uma burrice descomunal pedir que o atual congresso proponha e vote alguma reforma. Caso isso ocorra no atual cenário, é certo que criarão formas mais eficientes de se beneficiarem do dinheiro público e de se blindarem da justiça.

É compreensível a ansiedade da sociedade, mas é preciso que ela compreenda também que nada será feito de um dia para o outro, como mágica. Hoje, agora, só nos cabe apoiar o ajuste das contas públicas e a operação Lava Jato. Só a primeira pode criar condições para a economia voltar a crescer. Só a segunda pode criar condições para a política ser renovada; e só com ela renovada é que teremos boas condições de propor uma reforma política realmente moderna e construtiva.

Em paralelo a isso temos pessoas e partidos com viés liberal ganhando cada dia mais atenção da população. Enquanto os partidos de bandeira vermelha perdem eleitores, uma agenda liberal já começa a ser compreendida pela população, sendo defendida até por socialistas recém-curados.

A incerteza na qual embarcamos com Temer já se mostra melhor do que as certezas que tínhamos com o PT no poder.

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