![Impichar ou não impichar: eis a questão! Impichar ou não impichar: eis a questão!](https://media.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/2015/12/dilma-duvida-89f95cb0.jpg)
Deixemos de lado por um segundo a reação cínica e previsível dos petistas, de que impeachment é golpe quando é o PT o alvo. Há, do outro lado mais sério, dois grupos: os que defendem o impeachment porque não aguentam mais tanta incompetência e corrupção do governo; e os que não estão seguros de que esse é o melhor caminho, pois vai jogar Lula de vez na oposição e impedir um fator pedagógico nos eleitores de Dilma, que precisam compreender as duras consequências de seus atos impensados.
Em cima do muro está, por exemplo, o colunista Helio Schwartsman, que explica a evolução do conceito de impeachment e conclui não ter forte opinião sobre qual o melhor caminho para o país hoje:
Nada impede que o instituto do impeachment, que surgiu na Inglaterra medieval como procedimento puramente judicial, evolua ainda mais até tornar-se um mecanismo exclusivamente político, como a moção de desconfiança no parlamentarismo. Pior do que a suposta insegurança institucional que ele promoveria, é a existência de um Poder sobre o qual não incidam os devidos freios e contrapesos, como pode ser a Presidência. O campo progressista deveria ser o primeiro a aplaudir esse tipo de aperfeiçoamento democrático.
Isso diz algo sobre a legitimidade do impeachment, mas não sobre sua oportunidade. Se Dilma cair agora, corremos o risco de não extrair as boas lições da história. Será viável forjar uma narrativa segundo a qual foi o ajuste fiscal do segundo mandato e não o populismo do primeiro o responsável por nossos infortúnios.
De minha parte, balanço entre o didatismo de manter o PT no poder para responsabilizar-se por suas decisões e a chance de, com a saída antecipada, reduzir a duração da crise.
Do lado que pensa ser um equívoco aliviar a barra do PT e de Dilma temos jornalistas sérios como Carlos Alberto Di Franco. Já rebati alhures esse raciocínio, que respeito, mas discordo. Seguem os principais pontos que levantei na época:
Entendo seus pontos. Muitos acham que o impeachment seria bom para o PT ou para Lula, que poderia virar oposição logo de uma vez, num momento de profunda crise econômica. Mas tenho ressalvas. Primeiro, os casos da Venezuela e da Argentina mostram que, mesmo em severas crises econômicas, o poder político não necessariamente muda. Controle da máquina estatal, quiçá das urnas eletrônicas, compra de votos, ameaças: o fato é que nem Maduro caiu ainda!
O leitor poderá dizer, com razão, que o Brasil ainda não é a Venezuela, nem mesmo a Argentina, e que ainda temos instituições funcionando. Mas pagar para ver é um risco e tanto. O PT tem milhares de soldados incrustados na máquina do estado, e isso seria desmontado com o eventual impeachment. Há a questão das urnas eletrônicas: o leitor confia nelas mesmo, de olhos fechados? Enfim, é sempre um risco deixar a raposa no galinheiro, mesmo que machucada e sangrando. Nunca se sabe do que ela será capaz de fazer para não largar o osso. Especialmente quando já deixou claro que faria o “diabo”.
Em segundo lugar, acho que há um efeito pedagógico importante em impedir que Dilma termine seu mandato. O PT precisa ser desmascarado, ainda mais. Collor carregou o estigma e ainda carrega, apesar de ter se tornado senador anos depois (só no Brasil mesmo!), e já estar envolvido em escândalos enormes. Dilma e o PT merecem essa mancha no currículo: impeachment. É uma forma de mostrar que todo esse descalabro não pode ficar impune. E aí vem o xis da questão: há mesmo razão para o impeachment, além da revolta popular com a crise e os escândalos? Tudo indica que sim, que Dilma, no mínimo, pode ser enquadrada no crime de responsabilidade. Então, cumpra-se a lei e o desejo dos brasileiros!
O processo será traumático? Há incertezas quanto ao que vem depois? Sem dúvida. Mas pergunto: e por acaso não será muito traumático também manter uma presidente sem nenhuma credibilidade e capacidade no poder? Não é totalmente incerto o futuro até 2018 com a manutenção do status quo? Trauma por trauma, incerteza por incerteza, eu, particularmente, prefiro encarar a pedreira sem o PT no poder, e sem uma presidente como Dilma Rousseff ainda com poder de causar inúmeros estragos. E você?
Somente após 16 anos de chavismo os venezuelanos conseguiram impor uma importante derrota a Maduro, e mesmo assim não sabemos qual será a reação dele e de seus comparsas criminosos. A Argentina conseguiu se livrar de Kirchner, o que é alvissareiro. Mas será que teremos de esperar a situação econômica ficar tão ruim como nesses dois países para nos livrarmos do PT? Eis a piora acelerada nas estimativas dos analistas para o “crescimento” e a inflação de 2016:
Mais 3 anos disso? Sério? Vamos aguentar o rojão? Sem falar de que não há garantias de que o típico eleitor do PT, um tanto alienado e ignorante, vá ligar causa e efeito mesmo com Dilma no governo até 2018. Afinal, a turma da má-fé já faz o trabalho sujo de desinformação, como o queridinho da esquerda caviar, Marcelo Freixo, que diz em sua coluna de hoje que Dilma é indefensável por ser… ortodoxa! Isso mesmo!
O deputado do partido que defende oficialmente Maduro na Venezuela não defende Dilma, mas… não quer o impeachment. É aquele conhecido “não sou petista, mas…”, o que age sempre como linha auxiliar da quadrilha fingindo ser um crítico independente. Quem garante que mesmo com o PT no poder a narrativa canalha de que a crise é culpa do “ajuste fiscal” inexistente não vai colar? Nunca subestimem a estupidez dos eleitores petistas!
Portanto, posso compreender o receio de quem teme jogar o PT e Lula na oposição de vez, mas ainda acho o risco de manter Dilma no “comando” da nação até 2018 muito maior. Arrisco dizer que não vamos suportar o tranco. Nossa economia vai afundar de vez. Vamos quebrar! O impeachment, hoje, é isso: questão de sobrevivência, tanto da democracia como da economia. O dilema shakesperiano não chega a me atormentar tanto assim. Minha escolha está bem clara: fora, Dilma!
Rodrigo Constantino
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