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Por Lucas Berlanza, para Sentinela Lacerdista

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O mundo se dividiu entre a estupefação e a euforia, unindo-se no reconhecimento da importância histórica do episódio, ao assistir, na madrugada do dia 8 para o dia 9 de novembro, à eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos da América. O polêmico magnata, empresário e ex-apresentador de televisão, um autêntico outsider, que jamais ocupou cargo público, se sentará, a partir de janeiro, na cadeira mais importante do planeta.

Deixando para trás já nas primárias opções mais fiéis ao conservadorismo clássico americano, ao conservadorismo propriamente liberal, tais como Ted Cruz, representante do Tea Party, e o cirurgião Ben Carson, os americanos, a nosso ver, já não tinham feito a melhor das escolhas. Porém, Trump não passou adiante apenas por sua retórica inflamada e boquirrota e seus apelos incensados; os ditos conservadores também erraram. Ted, por exemplo, apontou o dedo para Trump quando manifestos contra seus comícios saíram do controle, encampando a narrativa da esquerda. Do ponto de vista daperformance, portanto, embora não nos parecesse o ideal, a sua nomeação à disputa final foi justa.

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E então os americanos chegaram à sua grande decisão com duas opções impopulares. De um lado, a Democrata Hillary Clinton, defensora de estupradores, capaz de se gabar de clientes que mentiram no tribunal e de ironizar vítimas, como os áudios comprovam; envolvida em uma vasta soma de acusações de corrupção e tráfico de influência contra ela, seu marido e a Fundação Clinton; alvo de investigações do FBI e de um sem-número de revelações do Wikileaks. Mais do que isso, e talvez mais importante até: tendo o poder de fazer com que, por muito tempo, a Suprema Corte, a instância suprema da Justiça no país, estivesse dentro das rédeas do projeto dos Democratas, que, em uma inflexão indiscutível para a esquerda, atiçaram as minorias, instauraram os devaneios belicistas do politicamente correto, acabaram levando ao aumento da violência no país e pretendiam, tal como dissera o ainda presidente Barack Obama, “transformar fundamentalmente a América”, deformando de vez o maior bastião do Ocidente, e instigando um confronto aquecido com a Rússia de Putin.

Do outro lado, estava Donald Trump. Felizmente, o povo fez a única escolha possível e, mesmo com todos os defeitos que possui, o candidato Republicano – que já teve ligações com os Democratas no passado – cumpriu a obrigação de vencer uma mulher de índole no mínimo duvidosa e sem carisma, que representava um projeto perigoso para a América e o mundo. O partido ainda conseguiu a maioria em todas as casas do Legislativo.

Vencendo dos males o menor, o que esperar agora, olhando para o futuro, de Donald Trump? É difícil cravar o que a vitória do “trumpismo” e seu mandato representarão para o mundo. Alguns analistas o comparam ao antigo presidente Andrew Jackson (1767-1845), um líder militar e herói de guerra que, durante o período conhecido como Democracia Jacksoniana, mobilizou parcelas do sentimento popular, olhando particularmente para o homem branco provinciano e declamando contra as “elites” corruptas. Não que nos deixemos iludir por esse discurso racista de que somente brancos votam em Donald Trump, mas de fato ele cresceu numa cruzada contra o que chamou de “establishment” globalista, uma faixa que engloba os esquerdistas Democratas e mesmo alguns Republicanos mais tradicionais na crença em que é preciso reforçar núcleos de poder supranacionais sobre as soberanias nacionais mundo afora, e de que os EUA têm que se incumbir decisivamente desse papel.

Se por um lado Trump fala ao conservadorismo real, aquele com que pessoalmente nos identificamos – ataca o aborto, o politicamente correto, defende o ideário de nação e pátria, defende um juiz conservador para a Suprema Corte, defende o porte de armas, defende cortar impostos e regulações, chama o “terrorismo radical islâmico” pelo nome -, por outro, seu lado populista, com direito à proposta ridícula da construção do muro entre o México e os EUA financiado parcialmente pelos mexicanos, sugere um isolacionismo um pouco além da conta que, conquanto alveje com razão as pretensões ideológicas globalistas, sustentadas desavergonhadamente pelos burocratas de Bruxelas e por outros magnatas como George Soros, pode gerar tensões nas relações comerciais e incrementar as incertezas já naturais num cenário em que não se sabe o que significará o seu governo. Se a direita mundial ganha com Trump? Ganha, por um lado, pela derrota do projeto Democrata. Por outro: o triunfo de Trump instigará a emergência, em outros países, de uma direita liberal-conservadora autêntica, ao melhor estilo Reagan, Thatcher e Carlos Lacerda (com os quais Trump tem pouco a ver), ou animará movimentos nacionalistas e protecionistas que, em reação extremada ao status quo degenerado do Ocidente, cairão no colo do autoritarismo ao estilo russo-eurasiano? É o que nos resta aguardar para ver.

Descrito o cenário de dúvidas, há, porém, ao menos mais um motivo, esse realmente retumbante e indiscutível, para comemorar esse resultado: a derrota da imprensa e da “elite iluminada”, dos tiranos do bom mocismo, daqueles que, no Jornalismo, na classe artística ou na intelectualidade, se consideram a inteligência superior e saneadora dos males da humanidade. Estou falando, naturalmente, da Globo News, da imprensa brasileira, de comentaristas como Guga Chacra e Eliane Cantanhêde, que publicou, em seu Twitter, que, diante da derrota do acordo de paz com as FARC na votação popular colombiana, do Brexit e da vitória de Trump, se questiona “que democracia é essa” – ou seja, só é democracia quando ganha quem ela prefere. Estou falando de Caio Blinder e do pessoal do Manhattan Connection – e até do Antagonista. Também de boa parte da própria imprensa americana, particularmente a emissora CNN. Dessa gente que tinha absoluta certeza de que o resultado seria outro, que menosprezou o fenômeno Trump desde o começo e fez mais torcida que apuração – em espaços em que se espera ler reportagem e não, como neste blog, análises opinativas. Refiro-me também aos artistas chorões de Hollywood que falaram em se mudar para o Canadá se os americanos “deploráveis”, tal como Hillary os chamava, elegessem o Republicano.

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Não somos apenas nós; dessa ou daquela forma, virando nessa ou naquela direção, o mundo não está mais tolerando discursos engomadinhos de quem afronta todos os valores ocidentais e as referências mais basilares sob o pretexto de estar “defendendo o povo e os mais pobres” – mas não consegue o voto destes últimos. A reação pode ser, nalguns lugares, extremada, desagradavelmente à altura do desastre contra o qual ela se volta; mas que não se esqueça de quem é a culpa. You’re fired.