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Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal

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Esta semana as críticas à Lava Jato subiram de tom. À medida que os procuradores e delegados envolvidos na operação ampliam o leque das investigações, atingindo o PMDB e o PSDB,  as forças políticas se unem contra a Lava Jato. Tal fenômeno era esperado e cabe à sociedade resistir fazendo valer a tese de que tiramos Dilma e depois, se fosse o caso, tiraríamos os outros. É o caso. Na guerra contra a Lava Jato vale tudo, de ameaças a estabilidade da economia até teorias a respeito de que a imprensa é culpada pela sensação de que vivemos em um mar de lama.

A ideia que acobertar a corrupção possa de alguma forma ser bom para economia chega a ser ofensiva. Boa parte dos avanços mais recentes da teoria do crescimento econômico mostram que quanto mais inclusivas as instituições de um país mais próspera será a sua economia. É difícil não pensar a corrupção com seus acordos de bastidores como exemplo de uma instituição extrativa. É impossível não pensar que a transparência trazia pelos investigadores do Ministério Público, mesmo com alguns exageros pontuais, é uma tentativa de substituir instituições extrativas por instituições inclusivas.

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Efeito parecido vale para a imprensa. Parece fácil pensar que a imprensa desestabiliza o país com tantas notícias de corrupção e cair na tentação de que é preciso controlar a imprensa. Nada mais longe da realidade. Uma imprensa livre é peça fundamental na construção da credibilidade das instituições e leva a uma situação de mais estabilidade e menos corrupção no longo prazo.

Para ilustrar meu ponto peguei os dados de liberdade de imprensa do Repórteres sem Fronteira (Reporters without borders, link aqui) e os dados de percepção da corrupção da Transparência Internacional (Transparency International, link aqui). O primeiro é elaborado a partir de questionários preenchidos por especialistas em 180 países que avalia indicadores de pluralismo, independência da imprensa, ambiente e auto censura, legislação, transparência infraestrutura e abusos. O segundo considera várias fontes de informação e leva em conta a percepção de empresários e especialistas a respeito da corrupção. A valer a tese que a imprensa é responsável pela sensação de corrupção seria de se esperar que países com mais liberdade de imprensa tivessem mais percepção de corrupção. Não é o que mostra a figura abaixo, pelo contrário, quanto maior a liberdade de imprensa menor a percepção de corrupção.

Alguém poderia imaginar estarmos diante de um exemplo do Paradoxo de Simpson (link aqui), que a relação da figura acima só existe porque misturamos países com características diferentes. É uma hipótese, não nego, para verificar se é o caso fiz a regressão para grupo de países. Em todos os grupos a relação ficou negativa, mais liberdade de imprensa menos percepção de corrupção, apenas nos países emergentes da Ásia e nos países emergentes da Europa a relação foi não significativa, sendo que esse último grupo tem apenas cinco países o que torna difícil achar qualquer relação significativa. A figura abaixo ilustra a regressão por grupos.

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Naturalmente a análise desse artigo não permite afirmar que mais liberdade de imprensa causa menos percepção de corrupção, muito embora eu acredite que seja o caso, pois, com o tempo, a sensação que a imprensa divulga tudo o que acontece faz com que as pessoas acreditem mais nas instituições em tempos que o noticiário policial não se confunde com o noticiário político. O que a análise faz é dificultar um pouco mais a vida de quem quer calar a imprensa em nome de uma ilusão de estabilidade e tranquilidade econômica. Assim como em tanto outros casos, a perseguição de ilusões desse tipo pode ser fatal.