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Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal

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O Nordeste é uma região-chave no Brasil em toda apreciação histórica e política que se teça a seu respeito. Respirou anseios por liberdade e civismo; por um lado, foi o palco de sangrentas revoltas e execuções, desde a época da subordinação do território brasileiro a Portugal, muito mais por descontentamentos político-econômicos que por aversão irresistível à comunidade nacional (formada ou em formação). Por outro, foi berço de lideranças ímpares e dedicadas à construção de um grande país.

Convulsionada por Frei Caneca, honrada por Joaquim Nabuco, representada no combate intrépido aos abusos da velha República por Rui Barbosa, a região Nordeste vem sendo desde pelo menos o século XIX um celeiro de representantes das mais tradicionais e diversificadas vertentes e elaborações do pensamento liberal no país, bem como cenário de seus embates. Paradoxalmente, é também marcada pelos dramas da pobreza e o arcaico domínio das longevas oligarquias. Um lar de famílias sofridas, sentenciadas à dependência de programas assistenciais e reféns de terrorismos eleitoreiros. Uma terra de onde já vieram os mais animadores brados de liberdade, mas que se manteve bastante surda aos próprios clamores.

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Dos livros para a experiência, nos últimos meses, a contar desde a metade do ano passado, este carioca que vos escreve teve o prazer de visitar alguns estados do Nordeste, a convite de instituições e movimentos liberais da região. Estive no Ceará, participando de uma edição da Semana da Liberdade, um evento acadêmico realizado pelo nosso “co-irmão”, o Instituto Liberal do Nordeste, e rapidamente no Sertão – em cidades da fronteira entre Pernambuco e Bahia – a convite do Clube Libercracia para falar aos interessados pelas ideias liberais, libertárias e conservadoras. Conheci muitos dos organizadores e ativistas dos braços nordestinos entre os recentes movimentos brasileiros organizados e até institucionalizados pela liberdade, dos quais o nosso Instituto Liberal, do Rio de Janeiro, é precursor desde os idos de 1983.

O que vi precisa ser descrito e mais conhecido por aqueles que se movimentam pelas bandas de cá, ao sul. Vi nesses grupos uma divisão de trabalho funcional, com cada elemento se dedicando a fazer as coisas darem certo. Vi muito entusiasmo e força de vontade por levar o bom recado aos espaços mais hostis. Vi eventos e debates se realizando, com auditórios sumamente respeitáveis, até lotados, contra todas as probabilidades. Vi também a tentativa sensata de aproveitar possibilidades de penetração em esferas alternativas, inclusive em pequenas rádios do interior. Os liberais nordestinos estão sedentos por produzir efeitos reais no imaginário, na mentalidade e, por consequência, na realidade social. Trabalham com afinco e amor para conseguir essas transformações – como, evidentemente, também devem fazer muitos outros em outras regiões que não visitei.

Porém, tomei conhecimento de muitos sonhos ainda não concretizados. A organização de eventos mais expressivos no interior, a ocupação de espaço midiático, o desejo ainda não viabilizado de comandar a própria emissora de rádio… Muitas realizações possíveis que, considerando a qualidade da mão-de-obra e o empenho com que vem produzindo o que produz com as ferramentas limitadas de que dispõe, certamente seriam muito bem-vindas.

O desafio é enorme. Além da pobreza, além da existência de populações inteiras vivendo na dependência de bolsas do estado, sem perspectivas, para quem as ideias liberais acabam sendo como uma quimera desconhecida a ameaçar o pouco em que se sustentam, ainda existe um poder incrível das famílias de oligarcas na região. Cidades inteiras, nem tão pequenas, estão sob o jugo de clãs, que dispõem de relevante poder de contenção das divergências. Nós não conseguimos tocar esse Brasil profundo. Não chegamos lá. Esse é o choque de realidade que se impõe.

Na escassez de um empresariado forte local e identificado com suas teses, o liberalismo nordestino precisa de apoio. Na verdade, de norte a Sul do país, é óbvio, poderíamos e deveríamos qualificar a integração das iniciativas, grupos e think tanks, e isso envolve os recursos também; se defendemos a economia de mercado, não devemos ter medo de dizer que é preciso dinheiro para catapultar nossos projetos. Meu apelo aos empresários, principalmente àqueles que dispõem de mais recursos e chegam agora à batalha, é para que, antes mesmo de fundarem seus próprios novos movimentos, propondo agendas e reformas, prestem atenção a quem já trabalhava arduamente desde antes e ainda faz muito do pouco, mas que poderia fazer muito mais em esferas desesperadoramente necessitadas, se recebesse um olhar mais atento.

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Para além desse quadro, que urge, por justiça, ser reconhecido, levo comigo a admiração pelos trabalhos que observei e a certeza de que, se em todas as regiões, nos inspirarmos em reproduzir esse mesmo entusiasmo, vivificaremos o futuro da nossa influência sobre os rumos nacionais.