Conversei por uma hora com Índio da Costa. Ligou-me depois que leu minha carta aberta a Bernardinho, onde faço um apelo para que o técnico aceite ser candidato. Explicou que compartilha de minha angústia pelo fato de que só temos candidatos ruins com chances de vitória, como Garotinho, Crivella e Lindbergh Farias. O Rio precisa se unir por uma candidatura diferente e viável politicamente.
O próprio Índio da Costa já se colocou como opção, conforme os jornais noticiaram. Ainda não sabemos se Bernardinho aceitará de fato ser candidato, pois tem outros planos pessoais, como levar mais uma merecida medalha de ouro no próprio Brasil. Além disso, há incertezas de natureza política: experiência, acordos partidários e viabilidade eleitoral.
Sem dúvida seria um palanque interessante para Aécio Neves no Rio. Mas o Rio merece mais do que isso: merece alguém que efetivamente tenha como confrontar as máquinas federal (PT), Universal/evangélica (Crivella), estadual (PMDB) e populista/petrolífera do interior (Garotinho). Um segundo turno com dois candidatos entre esses é a garantia de termos PT x PT dominando a cena: todos apóiam o governo Dilma!
Portanto, necessitamos de uma oposição legítima, que possa chegar ao segundo turno, e que seja claramente contra a gestão federal atual. É verdade que o PSD de Kassab não é exatamente esse nome, mas há autonomia regional (assim funciona a política brasileira), e Índio da Costa é forte nesse aspecto. Fez um ótimo papel de oposição na campanha de 2010, como candidato a vice-presidente.
Enquanto Serra escorregou, até elogiando Lula e mostrando imagem de ambos juntos, Índio da Costa soltava os cachorros com mais firmeza contra o petismo bolivariano. Cheguei a gravar um vídeo à época elogiando sua postura firme:
httpv://www.youtube.com/watch?v=EjlZGYWp2Uo
Índio da Costa já foi do PFL/DEM, o único partido que contava com alguns liberais de fato. Ele mesmo sempre disse se identificar com tais ideais, e foi ao lançamento de um livro meu sobre Mises. Mas política no Brasil não é mesmo brincadeira.
O fato é que Cesar Maia não deixou espaço político para ele, e Índio da Costa teve de sair (o que nem foi algo ruim, uma vez que a rejeição a Cesar Maia no Rio chegou a patamares incríveis após tantos equívocos). Dito isso, claro que não me agrada muito sua presença no PSD, um partido que não se assume nem de esquerda, nem de direita, nem de centro, e ainda flerta com a presidente Dilma em nível nacional.
Mas, como todos sabem, política é a arte do possível. Não é espaço para gente muito romântica e idealista, pois estes não conseguem viabilizar uma candidatura. Índio da Costa se mostrou bem pragmático, disposto a organizar uma chapa realmente viável, com base programática. Também me garantiu que não se deixará pautar por marqueteiros, pois compreende a importância da autenticidade na corrida eleitoral.
Os partidos que poderiam compor tal coalizão oposicionista no Rio são: PSD, PSDB, PPS, PV, PSB e Solidariedade. O PROS pode ir com Miro Teixeira, que fica meio em cima do muro em relação ao governo Dilma, ou poderia também se juntar a este grupo.
Haveria um bom tempo de televisão, uma razoável projeção nacional (o fato de Índio da Costa já ter sido candidato a vice-presidente ajuda), e uma postura ética diferenciada em relação aos demais candidatos. Afinal, o nome de Índio da Costa é associado ao projeto de lei da Ficha Limpa, do qual foi relator.
Sobre a CPI das merendas que envolveu seu nome, Índio da Costa me disse que tudo foi devidamente refutado, que na verdade houve uma quebra de cartel e que há farta documentação comprovando sua inocência. Quanto ao Banco Cruzeiro do Sul, de familiares seus, Índio da Costa não possuía ações e não fazia parte da gestão.
Existem, até onde sei, somente estas bandeiras que podem levantar contra sua pessoa, após mais de 20 anos de vida pública. Convenhamos: não dá para comparar isso com as acusações que pesam contra Garotinho ou mesmo Lindbergh Farias, do PT. Crivella é ligado à Igreja Universal e ministro de Pesca do governo Dilma. Acho que, no que diz respeito à postura, Índio da Costa se sobressai.
Sobre seu eventual programa, o foco seria segurança, saúde, educação e mobilidade. Até aí, lugar comum. Na segurança, diz que endossa as UPPs, tem enorme respeito pelo trabalho de Beltrame, e daria continuidade ao projeto, aparando arestas, pois há críticas legítimas.
À exceção do Pezão (PMDB), os demais nomes representam sérios riscos aos recentes avanços na segurança carioca. E nossa cidade maravilhosa não pode se dar ao luxo deste retrocesso, pois ainda há muito que melhorar. Já pensaram, um Garotinho novamente no governo, ou o petista Lindbergh tendo de combater com firmeza o tráfico nas favelas?
Na educação, Índio da Costa fala em maior meritocracia, foco no mercado, cursos especializantes voltados para empregos locais, e um plano de carreira que valorize mais o professor. Não chega a sair muito do lugar comum, mas quando pensamos que a esquerda rejeita até a noção de meritocracia no setor, e que professores ligados aos partidos mais radicais de esquerda condenam abertamente o conceito, essa visão se destaca positivamente. O que eu gostaria de escutar, naturalmente, é que o governo faria testes com vouchers educacionais, mas talvez seja pedir demais no momento.
No restante, é preciso ter melhor gestão mesmo. Sabemos que é fácil falar, e difícil fazer. Mas Índio da Costa tem sido reconhecido por um bom trabalho nesse aspecto, chegando a cortar cargos desnecessários, realocando os funcionários para outras funções na prefeitura. O uso de tecnologias modernas pode ajudar bastante o governo a fazer mais com menos, e Índio da Costa está atento a tais oportunidades.
Em resumo, a presidente Dilma, segundo algumas pesquisas, teria entre 38% e 50% de intenção de votos no Rio. Isso quer dizer que de 50% a 62% dos cariocas não querem reeleger Dilma. Buscam uma alternativa decente. Em alguns casos, como o meu, buscam desesperadamente tal alternativa!
Por isso escrevi aquela carta a Bernardinho. Por isso escrevo, agora, esse texto. Não sei, ainda, qual a melhor configuração política para criar uma opção efetiva, com chances de vitória, e que, acima de tudo, não permita um segundo turno só entre partidos que apóiam e dão palanque a Dilma.
Uma coisa parece fazer todo sentido: essa oposição não deveria estar fragmentada. É preciso ter união, juntar aqueles partidos que, ao menos no Rio, condenam abertamente o PT e a presidente Dilma. Se o melhor caminho for pela candidatura de Bernardinho, e ele realmente desejar isso, ótimo. Se for por meio de Índio da Costa liderando uma coalizão que conte com o PSDB também, ótimo.
O mais importante é o Rio ter uma opção concreta, viável, e não ficar refém dos nomes atuais que despontam como favoritos, pois tais nomes me dão calafrios na espinha e me causam sombrios pesadelos. Que venha Bernardinho! Ou que venha Índio da Costa! Ou que venham ambos, juntos de preferência!
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