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Desde o início do ano, uma onda de demissões atinge com força boa parte das indústrias de bens duráveis, principalmente os fabricantes de eletrodomésticos, eletrônicos e automóveis. Levantamento realizado pelo GLOBO mostra que pelo menos 50 mil vagas foram fechadas entre janeiro e abril nesses setores. Na Zona Franca de Manaus, que concentra a maior parte da produção nacional de eletroeletrônicos, os cortes de pessoal começaram logo após a Copa do Mundo, no ano passado. De acordo com Wilson Périco, presidente do Centro das Indústrias do Amazonas (Ciam), de outubro a fevereiro 10 mil trabalhadores haviam sido demitidos — somando-se março e abril, são mais de 15 mil postos cortados.

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Os fabricantes de televisores Samsung e LG; a Whilrpool, dona das marcas Brastemp e Consul; e as montadoras de motocicletas foram as empresas que mais demitiram. Na Whilrpool, além da fábrica de Manaus, os cortes atingiram as unidades de Joinville (SC) e Rio Claro (SP). Ao todo, a empresa eliminou três mil vagas.

— Não temos (boas) expectativas para este ano. O consumidor está com medo de perder o emprego e não compra esses produtos mais duráveis. Ele só não deixa de comprar alimentos — avalia Périco, lembrando que muitas empresas do polo industrial estão se preparando para colocar cerca de oito mil trabalhadores em férias coletivas a partir deste mês.

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O temor do desemprego, a inflação alta e a queda do consumo diante das incertezas sobre a extensão do ajuste fiscal são fatores citados pelos economistas para o movimento de corte de pessoal na indústria. A difícil situação do emprego no setor de bens de consumo é apenas parte de um quadro de dificuldades muito maior no mercado de trabalho, afirma Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese):

— O nível de desemprego, a persistir esse quadro, deve ficar de dois a três pontos acima do registrado no ano passado. Isso significaria que o desemprego medido pela Pnad Contínua do IBGE, hoje em 7,9%, pode passar de 10% até o fim do ano. No caso da taxa do Dieese, que se situa em 10%, pode chegar a 13%.

O pior está acontecendo: a crise chega ao emprego com força. O grande pilar que sustentou alguma aprovação do governo Dilma e permitiu sua reeleição era justamente a ainda baixa taxa de desemprego. O fenômeno despertou perplexidade em muitos economistas. Mas vários apontaram para a inevitabilidade do aumento do desemprego.

Conforme expliquei aqui, o emprego é o último sintoma a acusar o golpe da crise, especialmente num país como o Brasil, onde é muito caro contratar, treinar e demitir. As leis trabalhistas engessam o mercado de trabalho, e por isso o empresário deixa para o limite a decisão de mandar gente embora. Sabe que isso custa muito caro.

Mas chega um momento em que não dá mais para segurar. A crise bate à porta, as vendas caem, o imposto sobe, a taxa de juros aumenta, a inflação corrói os ganhos reais, e a empresa não consegue mais manter seu quadro de colaboradores na íntegra. É preciso dar férias coletivas, e depois demitir.

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Eis o quadro caótico que o PT criou: chegaremos ao final de 2015 provavelmente com uma queda do PIB de quase 2%, uma inflação acima de 8%, e uma taxa de desemprego acima de 10%. É crise aguda, é o Brasil voltando àquela triste realidade de que só consegue experimentar voos de galinha, e depois mergulha novamente no caos social.

Enquanto não abraçarmos reformas estruturais que reduzam o tamanho do estado e deixem a economia mais livre, isso será nossa história: crescimento puxado pelos ventos de fora, farra nos gastos públicos e no crédito, seguido de uma crise severa com recessão e inflação, culminando no aumento do desemprego. O Brasil só tem duas saídas: os aeroportos e o liberalismo!

Rodrigo Constantino