Acabo de ver o documentário “Winter on Fire”, da Netflix, sobre os 93 dias entre 2013 e 2014 que mudaram para sempre a Ucrânia. Tudo começou como um protesto de alguns indivíduos para que seu país, historicamente dividido entre Leste e Oeste, pudesse seguir rumo à Europa e se tornar mais livre, mais civilizado. Mas um presidente autoritário e corrupto se recusou a assinar um tratado com os europeus, e a rebelião pacífica começou.
Mas não ficaria pacífica por muito tempo. Não por culpa dos protestantes, que fique claro. Não eram como os black blocs ou nada parecido. Eram pessoas comuns, pais e mães, adolescentes, todos de forma civilizada lutando por sua liberdade. Mas a polícia, sob ordens do presidente autoritário, resolveu partir para cima, descer o porrete de metal nos inocentes de forma bárbara, como costuma acontecer em países influenciados pelos soviéticos.
O que se segue é uma escalada impressionante da violência, do abuso, do descaso pela vida, pela democracia, pela paz. Serve para mostrar a muitas pessoas que a liberdade não pode ser tida como algo garantido, pois está sempre em perigo, a alguns passos de ser usurpada de vez, asfixiada. Ela nunca veio gratuitamente, como um presente divino. Sempre precisou ser conquistada, raramente sem derramamento de sangue.
Francisco Razzo escreveu em sua página do Facebook um breve comentário sobre o documentário também:
Acabei de assistir ‘Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom”, documentário bem interessante sobre as manifestações na Ucrânia que começaram em 21 de novembro de 2013 e duraram 93 dias. O documentário foca nos dramas do embate entre os Maidan (manifestantes de oposição ao governo de Viktor Yanukovych que exigiam a integração da Ucrânia com a Europa) e a brutal Berkut (força tarefa especial da polícia usada para conter os manifestantes). Duas coisas me chamaram a atenção: a relação da Igreja Ucraniana, Patriarcado de Kiev e pró-Maidan, e o embate direito entre os Maidan e a Berkut. Não deixa de chamar a atenção o envolvimento e o apoio da Igreja com a causa dos manifestantes. Aquelas imagens de monges rezando no meio do campo de conflito são de arrepiar. Quanto ao embate direto com a Berkut, acho que faltou, pelo menos a impressão que dá o documentário, estratégias de sabotagens por parte dos Maidan. O enfrentamento corpo a corpo com a polícia foi loucura, embora demonstre coragem. As cenas são chocantes.
Sim, são chocantes, e servem para nos lembrar dessa importante lição burkeana: para o triunfo do mal, basta que as pessoas de bem nada façam. Tenho muito receio de qualquer revolução, pois tantas já acabaram em banhos de sangue sem entregar liberdade. Há uma linha tênue que separa quando ainda é possível lutar dentro dos limites institucionais da própria democracia, e quando não é mais possível esse caminho civilizado.
A Venezuela, por exemplo, já passou do ponto. A liberdade não será reconquistada lá sem luta, pois uma gangue de criminosos ocupou toda a máquina estatal e corrompeu a democracia de dentro, transformando-a em pura encenação. No processo, houve muita conivência, cumplicidade, passividade. Deixaram o monstro ficar gigante. Cuba é vítima disso há mais de meio século.
Na Ucrânia, aqueles heróis civis conseguiram colocar o presidente corrupto e autoritário para correr, e o Parlamento se voltou para a Europa, como a nação claramente desejava. Mas não contavam com Vladimir Putin, o tirano russo, que resolveu se meter na disputa interna e causar uma enorme guerra civil, com milhares de mortos.
No Brasil, ainda temos instituições funcionando, ainda que precariamente. Não passamos, quero crer, do limite em que não é mais possível destruir os inimigos da liberdade e da democracia que operam dentro dela. Os petistas flertam abertamente com o socialismo, com o modelo bolivariano, e tentaram destruir nossa democracia, nossas instituições. Avançaram muito, mas ainda não venceram.
Cheguei a gravar um vídeo antes das últimas eleições, antes do estelionato eleitoral do PT, para chamar a atenção dos eleitores para o que estava em jogo:
Se os brasileiros não querem seguir nessa trajetória lamentável, em que não há espaço mais para as liberdades individuais básicas, então é preciso agir logo, dentro das regras do jogo, para que o lulopetismo seja enfim derrotado. Vejam o documentário da Netflix. É tocante. É comovente. E é, acima de tudo, um alerta válido para todos.
Rodrigo Constantino
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