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Investimento e saldo em transações correntes pelo mundo

Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal

Peço aos amigos que assistam o vídeo abaixo:

Aos 42 segundos começa a seguinte conversa entre Bresser-Pereira e Alexandre Schwartsman que segue até 1:10:

– (Schwartsman). Se fosse verdade o que você está falando Bresser, você não veria uma relação negativa entre a taxa de investimento e o saldo em conta corrente. Essa relação existe.
– (Bresser). Não existe essa relação, absolutamente não existe não existe esta relação, não existe.
– (Schwartsman). Não estou nem dizendo que esta seja uma relação de causa e efeito, provavelmente as duas coisas estão acontecendo simultaneamente.
– (Bresser). Está mais do que verificado que quando maior o déficit em conta corrente…
– (Schwartsman). A relação existe e é negativa. Quanto maior o investimento, maior o déficit em conta corrente.
– (Bresser). Está mais do que verificado que quanto maior o déficit em conta corrente, menor o investimento.

As últimas frases ficaram confusas porque a conversa começa com o saldo em conta corrente e termina com o déficit em conta corrente, mas na conversa Bresser defende uma tese desenvolvimentista que critica o uso de poupança externa para financiar o investimento. Schwartsman pondera que se reduzirmos a poupança externa então nosso investimento, que já é baixo, vai cair ainda mais, pois não teríamos como financiar o investimento apenas com poupança interna. A conversa pode ser vista como um debate teórico, há uma série de detalhes que torna muito difícil testar tais hipóteses. Porém no trecho que destaquei a coisa muda de figura e a conversa passa a ter afirmações falseáveis. Schwartsman afirma que a correlação é negativa e Bresser afirma que é positiva. O que dizem os dados?

Um monte de gente mostrou que no Brasil a correlação é negativa, para quem estiver curioso recomendo olhar os comentários no post do Alexandre Scchwartsman ou nos comentários no post do Vitor Wilher. Porém, tomado pelo Espírito de Natal, decidi salvar o mentor do novo desenvolvimentismo e fui procurar por países onde a correlação é positiva. Como de costume peguei a base de dados do FMI e selecionei os países com mais de 10 milhões de habitantes com dados disponíveis para saldo em conta corrente e taxa de Investimento entre 1995 e 2015. Ficaram 67 países, para cada país fiz a regressão entre o saldo em conta corrente com proporção do PIB e a taxa de investimento, a figura abaixo mostra o coeficiente da conta corrente em cada regressão.

poupanca-grafico

Em 57 países, incluindo o Brasil e todos os países da América Latina, a correlação é negativa como afirmou Schwartsman e em 10 países Bresser estaria vingado, são eles: Bangladesh, Egito, Reino Unido, Uzbequistão, Iêmen, Quênia, Uganda, Arábia Saudita, Sudão e República Democrática do Congo. Resolvi então refinar minha busca e selecionei apenas os países onde o coeficiente era significante a 10%, ficaram 48 países dos quais cinco apresentam coeficiente positivo. Não satisfeito fiquei mais exigente e selecioneis países com coeficiente significantes a 5%, sobraram 40 dos quais 4 apresentaram coeficiente positivos. Por fim apelei e fiquei só com coeficientes significativos a 1%, sobraram 31 países, apenas Bangladesh e Reino Unido com coeficiente positivo.

Quais minhas conclusões? A primeira e mais robusta conclusão é que realmente sou muito chato, um sujeito normal acharia coisa melhor para fazer na semana de Natal e um sujeito apenas chato faria o gráfico para o Brasil. A segunda conclusão é que Bresser não estava errado nem mentindo, estava apenas perdido. Tivesse o debate ocorrido no Reino Unido ou em Bangladesh o ex-ministro de Sarney e FHC estaria certo e os defensores dele não estariam pagando mico tentando defender o indefensável nas redes sociais. Por fim, abusando da boa vontade do leitor e pegando carona na famosa Belíndia do Edmar Bacha concluo que o desenvolvimentismo de Bresser talvez seja a melhor política para um país imaginário chamado de Ingladesh, um país tão rico quanto a Inglaterra, tão exótico quanto Bangladesh e que só existe na imaginação de economistas muito criativos.

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