O novo premiê italiano, Paolo Gentiloni, indicado pelo presidente Sergio Mattarella para formar um governo após a saída de Matteo Renzi, escolheu, nesta segunda-feira (12), um gabinete que se aproxima muito do de seu antecessor.
Gentiloni manteve alguns postos-chave, como Pier Carlo Padoan como ministro de Economia e Finanças, e, em outros casos, apenas mudou os nomes entre as pastas —como Angelino Alfano, antes ministro do Interior e que agora assumirá o ministério de Relações Exteriores, cargo deixado por Gentiloni.
Também foram confirmados Roberta Pinotti para a Defesa, Giuliano Poletti no Trabalho e Andrea Orlando na Justiça. Maria Elena Boschi, uma das responsáveis pelo fracasso do referendo constitucional que levou à saída de Renzi, deixou o ministério para as Reformas para assumir um cargo mais estratégico: de vice-secretária da Presidência do Conselho de Ministros.
A oposição criticou o novo governo, classificando-o como uma cópia do de Renzi. Para o Cinco Estrelas e o xenófobo Liga Norte, Gentiloni é uma “marionete” do ex-premiê.
Ao ler essa notícia lembrei da máxima de Lampedusa, em O Gattopardo, em que o personagem Tancredi, ao decidir se alistar nos exércitos garibaldinos, explica ao tio sua lógica: “Se nós não estivermos presentes, eles aprontam a república. Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude”.
A casta no poder se mexe, troca de lugar, simula reformas, mas continua por lá, sempre a rondar o estado como urubus em volta da carniça. A confusão do modelo italiano é total: cada hora vem um governo novo. O que não muda é o fardo do estado, o excesso de burocracia, de impostos, de privilégios.
Adriano Gianturco, o italiano liberal que é professor no Ibmec-BH, fez um breve resumo da esculhambação geral da política de seu país de origem:
Renzi se demitiu, agora está se formando o governo Gentiloni.
É o 4º Presidente do Conselho escolhido dentro do parlamento (sem uma indicação clara do povo) em 5 anos.
É o 64º Presidente do Conselho escolhido dentro do parlamento (sem uma indicação clara do povo) desde o 1948.
64 governos em 18 legislaturas, uma média de 3,4 governos cada 5 anos, uma duração de 1,1 ano cada governo.
O governo mais longevo foi o Berlusconi II, 1412 dias entre 2001 e 2005.
É sempre instabilidade política, ingovernabilidade, paralisia legislativa, jogos de palácio. São uns 20 anos de crise econômica e 20 anos que não se consegue fazer duas reformas de bom senso.
Parlamentarismo multipardiario é isso, não é o chá das 5 com a rainha da Inglaterra, lá o parlamentarismo é bipartidario. A Inglaterra é a Inglaterra por outros motivos e não só pelo sistema político.
Nada contra, muitas vezes é bom que o governo não consiga governar, é tudo perfeitamente democrático, mas se lembre disso a próxima vez que reclamar do presidencialismo de coalizão. É a velha historia do copo meio vazio. Em política não há soluções perfeitas, há sempre e só trades\offs.
O realismo se impõe sobre as utopias. O mundo real é feito de trade-offs mesmo, de trocas, de escolhas imperfeitas, de alternativas menos piores. Aqueles que sonham com a mudança de sistema como se a sua preferência fosse solucionar tudo como num passe de mágica precisam amadurecer, acordar para a vida.
Parlamentarismo ou presidencialismo? República ou monarquia? São ótimos debates, e tenho cá minhas preferências. Mas não sou bobo a ponto de achar que basta trocar o sistema para resolver as questões pendentes. O buraco é bem mais embaixo. Tem a ver com cultura, com identidade nacional, com instituições sólidas ou não, com as ideias disseminadas entre a população, com os valores enraizados.
Coloca a rainha da Inglaterra e a Constituição Americana no Brasil ou na Itália (uma espécie de Brasil da Europa) amanhã e verá que pouca coisa mudará. O conteúdo é mais relevante do que a forma. E mexer no conteúdo é algo mais profundo, leva mais tempo, exige muito mais esforço. Os brasileiros costumam preferir sonhar com os atalhos, porém, mas eles não levam ao lugar desejado. Resta continuar metendo o pau em tudo e em todos, nos políticos em geral, e no “sistema”…
Rodrigo Constantino
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