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Janot, o homem mais poderoso (e perigoso) do Brasil

Uma ala da direita preferiu fingir que Rodrigo Janot não dava todos os sinais de parcialidade em sua cruzada contra a corrupção só para poder atacar “todos que estão aí”, o sistema como um todo, sem distinções. E a bola da vez era Temer com seu PMDB e o apoio do PSDB.

É compreensível a revolta contra todos os principais partidos, todos eles de esquerda, diga-se, ainda que seja cegueira ou burrice não perceber que o PT é mil vezes pior, por não ser “apenas” corrupto, e sim totalitário e bolchevique. Saber quem atacar primeiro não é ter bandido preferido; é questão de prioridade.

Mas, no afã de posar de purista jacobino contra todas as forças do mal, eis que uma turma à direita fechou os olhos e “casou” com Janot. Com Janot! O mesmo que hibernou em cima dos processos contra os petistas graúdos. Fazer pacto com o diabo pensando no curto prazo é sempre muito perigoso.

Carlos Andreazza, em corajoso artigo, mostra como esse apoio a Janot serve apenas aos interesses dos próprios petistas. Não dá para ser inocente útil da extrema-esquerda, que já deu todas as provas de jogar sujo, de não medir esforços e não ter escrúpulo algum em sua busca pelo poder. Diz Andreazza, expondo o duplo padrão do procurador-geral da República:

Note o leitor que, na investida de Janot, muito mais que um movimento contra Aécio Neves, vai explícita a criminalização da atividade política. É da ordem da barbárie difundir uma reunião entre políticos como conspiração contra a democracia. Mas essa generalização — que a todos iguala por baixo — serve a um projeto. A reabilitação do PT, especificamente a de Lula, só está em curso porque se enterrou a política na lama.

Escolhido por Dilma Rousseff e reconduzido ao cargo por ela, Janot é hoje — mérito consequente de muita determinação — o homem mais poderoso do Brasil, trabalhador incansável por fazer justiça, guerreiro cujo entusiasmo por acusar poderosos é outro desde que o PT saiu do Planalto.

Está aí um patriota a quem o impeachment liberou.

Senhor da agenda que pauta — e paralisa — a vida pública no país, há semanas tem o presidente sob a ameaça de uma denúncia ao Supremo, com cujo ritmo brinca como se fosse João Gilberto com o tempo de uma canção. Nesse período, diariamente, vaza-se à imprensa que talvez a cousa seja formalizada amanhã, mas que, bem, pode ser na semana que vem. Depende. Depende — digo eu — do momento. Do momento político. De um em que Michel Temer se encontre vulnerável.

Andreazza chama a atenção para o arbítrio do procurador-geral, do uso seletivo de seus poderes, do uso abusivo de seus poderes, resumindo ser ele hoje “a única autoridade que faz o que quer neste país”. E como a alvo é Temer ou Aécio, que ninguém quer defender, que não contarão jamais com um exército paralelo para gritar nas ruas “heróis do povo brasileiro”, como fazem os petistas com seus bandidos, então a turma faz vista grossa aos abusos.

Mas isso é extremamente perigoso. Afinal, se o arbítrio é tolerado hoje, ele poderá ser usado amanhã também. “Até o dia em que esses métodos se voltarem contra um dos nossos. Aí, será o quê? Estado policial?”, pergunta o autor. Andreazza conclui lembrando das possíveis intenções políticas de Janot:

Não sem aviso, chegamos ao momento em que um tipo como Joesley Batista diz que Temer é líder da “maior e mais perigosa organização criminosa deste país” — e fica tudo por isso mesmo. Ai, ai…

Os desconfiados — teóricos da conspiração — atrapalham o Brasil. Essa é a verdade.

Dificilmente, contudo, atrapalharão o movimento orgânico dos que militam para que Janot se candidate a senador em 2018, pelo Estado de Minas Gerais, na vaga a ser aberta por Aécio Neves. Mas pode ser a governador. Será pelo PT? Ou disfarçaremos numa linha auxiliar? Rede?

Ninguém, repito, quer defender Temer, até porque sua figura inspira poucas paixões e nenhuma credibilidade. Mas as reformas que ele liderava são fundamentais, e afetam diretamente o establishment político, o “deep state”, aquele que gosta de casar com o PT, defensor das mamatas e privilégios. E as reformas subiram no telhado. A quem isso interessa?

E a narrativa também misturou tudo e todos, como se o PT fosse igual ao PMDB e ao PSDB, e não uma máfia socialista disfarçada de partido, que defende ditaduras e criminosos abertamente. Novamente: a quem isso interessa?

Não podemos ser tão ingênuos assim. O Brasil não é para amadores. A “direita” que se vestiu de janotista está dando bobeira. Confiar na dupla Joesley Batista e Rodrigo Janot para executar a limpeza ética na política nacional é piada de mau gosto. E, enquanto isso, por onde anda Lula, de quem ninguém mais fala na imprensa?

Rodrigo Constantino

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