O BNDES quer anular a reunião de sábado à noite do Conselho de Administração da JBS, na qual José Batista Sobrinho, fundador da empresa, foi eleito presidente, em substituição a seu filho, Wesley Batista, preso na última quarta-feira. O presidente do banco de fomento, Paulo Rabello de Castro, afirmou ao GLOBO que vai consultar a área jurídica da instituição para avaliar a possibilidade de suspender a decisão. Paulo Rabello alega que a reunião foi “convocada às pressas” e que não havia previsão para que os conselheiros deliberassem sobre o processo de sucessão. Ele diz ainda que não sabia do encontro e que a representante do banco no Conselho, Claudia Santos, “votou por conta própria”.
Conhecido como Zé Mineiro, José Batista Sobrinho, de 83 anos, foi eleito por unanimidade para cumprir o mandato em curso, que termina apenas em maio de 2019. Suas iniciais dão nome à JBS, empresa que fundou em 1953 como um pequeno açougue na cidade goiana de Anápolis. A nomeação do patriarca contraria o BNDES, maior acionista individual da JBS, com 21% do frigorífico. O banco tem defendido publicamente o afastamento da família Batista do comando da companhia e chegou a convocar uma assembleia extraordinária de acionistas para propor que seja movida uma ação judicial contra os controladores, devido aos prejuízos causados à JBS pelo envolvimento dos irmãos Batista em esquema de corrupção. A assembleia foi suspensa pela Justiça.
— O BNDES não mudou de posição. A conselheira votou por conta própria e pode ter sido pressionada. Ela votou no sufoco, é uma excelente advogada. Não tomei conhecimento da reunião antes. Foi uma reunião na calada da noite e convocada às pressas. Essa reunião pode ser invalidada por não cumprir com algumas regras de governança, como uma pauta prévia. Vou consultar o jurídico do banco para verificar a possibilidade de anular a decisão — disse Paulo Rabello. — Temos que reformular todo o Conselho de Administração, toda a diretoria e até o Conselho Fiscal. A JBS é um exemplo de má administração.
Paulo Rabello de Castro está certo dessa vez: a JBS é um exemplo de má administração. Na verdade, é algo muito pior: é um exemplo de quadrilha em forma de empresa, segundo confissões do próprio Joesley Batista. Quem compra centenas de políticos não quer construir uma empresa, mas uma máfia. Quem consegue bilhões do BNDES por conta de suas conexões não representa o empreendedorismo, mas o “capitalismo de compadres” que os liberais tanto condenam.
Como autor de O mito do governo grátis, e doutor por Chicago, Paulo Rabello de Castro deveria ser o primeiro a saber disso. Mas ele, assim que assumiu o comando do BNDES, parece ter deixado o corporativismo falar mais alto do que a honestidade, e passou a defender o legado do banco de fomento, inclusive aquele recente, da era lulopetista. Chegou a mencionar especificamente a operação com a JBS, que teria sido boa.
Boa para quem? Hoje está claro: para a família Batista, para o PT, não para o país, não para o BNDES. E mesmo diante de tudo que já veio à tona sobre a empresa, a família não larga o osso. E o BNDES está lá, reclamando na imprensa, mas dando voto favorável aos Batistas. É o povo brasileiro sendo feito de otário uma vez mais, mesmo depois do escândalo envolvendo a JBS.
Em qualquer país sério do mundo, ou a empresa tinha sido desmontada, vendida em partes, e depois fechada, ou pelo menos os acionistas controladores que arquitetaram todo o esquema corrupto estariam fora de seu comando. Mas o Brasil, como sabemos, não é um país sério ainda. Estamos tentando mudar isso. Até lá, teremos “liberais” defendendo até mesmo as porcarias feitas pelo BNDES, que sequer deveria existir…
Rodrigo Constantino
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