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Jean Wyllys detona Maduro, mas poupa o socialismo

O regime venezuelano é indefensável. Até o deputado Jean Wyllys resolveu detonar o ditador Maduro, mesmo reconhecendo que seu partido, o PSOL, oficialmente ainda defende o governo venezuelano. Em um texto firme e contundente, o deputado pede autocrítica aos colegas e não poupa ataques ao regime opressor que vem matando jovens manifestantes nas ruas para impor uma tirania. Eis alguns trechos:

A situação da Venezuela é catastrófica, uma verdadeira tragédia humanitária. A ditadura de Nicolás Maduro, cada dia mais descontrolada e sem limites, reprime as manifestações com uma violência inusitada, cercea as liberdades públicas e avança sobre os outros poderes, eliminando os poucos resquícios de institucionalidade que ainda restam no país. Ontem, na eleição sem participação da oposição para uma Assembleia Constituinte considerada ilegal pelo parlamento e pela própria procuradora-geral da República (nomeada por Hugo Chavez), por volta de 90% da população decidiu não votar. E a resposta do governo foi “maquiar” os resultados depois de horas sem saber o que dizer, mentir ao mundo e ameaçar com um processo de cassação contra a procuradora e com enviar os deputados da oposição para a cadeia!!

Enquanto isso, nas ruas, a repressão estatal e paraestatal provocou mais de dez novas mortes. Desde o início dos protestos contra Maduro, já são mais de cem pessoas assassinadas, a maioria jovens.

A “constituinte” de Maduro é a última loucura de um regime que está podre há tempos. Foi convocada pelo presidente sem a aprovação do Congresso, sem a consulta à população e com um bizarro sistema eleitoral que garantia que, mesmo que a oposição participasse da eleição e tivesse muitos mais votos que o oficialismo, o partido do presidente teria uma ampla maioria na assembleia constituinte. Ou seja, era um jogo de cartas marcadas. O objetivo era substituir o atual parlamento, com maioria da oposição, que venceu por ampla maioria as últimas eleições que Maduro permitiu, porque as seguintes foram suspensas.

[…]

Maduro é um ditador e nós da esquerda não podemos ser cúmplices de um ditador ou ficar calados diante da censura à imprensa, a perseguição contra os opositores, os presos políticos, os torturados, os assassinados.

Não há simpatia ideológica que justifique nada disso, e também não há motivos para ter simpatia ideológica com um regime que, além de ser antidemocrático (e isso deveria bastar para ser contra), também é corrupto, ineficaz e, apesar da enorme renda petroleira recebida pelo Estado venezuelano durante anos, levou o país ao caos econômico, o desabastecimento, a falta de comida e remédios e taxas de inflação e violência inéditas no continente.

[…]

Não há justificativa para que a esquerda se cale diante dessa desumanidade. E estou falando, inclusive, do meu próprio partido, o PSOL, que muitas vezes (com a minha oposição pública, porque eu não me calei) apoiou Maduro. Qualquer nota oficial do PSOL defendendo Maduro não me representa (NUNCA me representou e eu já esclareci isso muitas vezes ao longo dos últimos anos) e a repudio absolutamente. O partido deve fazer uma autocrítica clara, profunda e sincera.

O deputado tem recebido milhares de curtidas, e alguns entre nós, liberais e conservadores, podem achar sua postura louvável, corajosa. Mas eu sou aquele chato “cri-cri”, que cobra coerência das pessoas, que procura enxergar para além das aparências, do verniz, da superfície. Portanto, vamos lá.

A primeira pergunta evidente: por que o deputado continua no PSOL, um partido que oficialmente defende Maduro? Se julga algo tão abjeto e indefensável assim, o mínimo que deveria fazer é pular fora, sair do partido, procurar outro que não defendesse uma ditadura, não é mesmo?

É como um sujeito conservador cristão repetir que aborto é assassinato de bebezinhos, e depois permanecer num partido que tem como bandeira oficial a legalização do aborto. Estamos falando de coisas essenciais, de valores e princípios básicos. Como alguém pode reconhecer que o regime venezuelano é uma tirania opressora e depois simplesmente pedir uma “autocrítica” aos colegas de partido que pregam essa mesma tirania?

Além disso, há mais coisas que me incomodam nessa postura “crítica” de socialistas. A começar por Cuba. Sim, a Venezuela é uma ditadura que virou ditadura hoje, nos dias atuais, a olhos nus, com todos podendo observar online o que acontecia. Não está distante no tempo, não tem o “charme” revolucionário dos barbudos armados com fuzis em nome de uma utopia igualitária.

Mas Cuba já existe como ditadura há mais de meio século, e isso nunca pareceu incomodar nossa extrema-esquerda, o PT e o PSOL. Ao contrário: Fidel Castro era um guru para essa turma! Cuba sempre foi uma inspiração. O próprio Jean Wyllys já posou vestido de boina imitando o assassino Che Guevara. Como, então, tentar nos convencer dessas sensibilidades democráticas agora?

Só porque a Venezuela não tem o embargo americano para levar a culpa, e porque todos sabem que é um regime cruel e opressor, sem ter como enfiar mentiras e falácias goela abaixo dos alienados como fazem com os mitos cubanos da “educação” e da “saúde”? Quem defende Cuba não pode se fingir indignado com a Venezuela agora: são farinha do mesmo saco podre, o saco socialista.

Que me traz ao ponto final: o elo perdido. Agora que a desgraça venezuelana ficou evidente demais e indefensável, os ratos abandonam o barco furado voltando seus ataques a Maduro, mas sem mencionar a origem dos problemas: o socialismo. Já até vejo alguns repetindo que “Maduro se desviou da revolução social”, ou “deturparam o socialismo do século XXI”, como fizeram com o anterior.

Lemos editoriais e mais editoriais na “imprensa golpista” sem uma só menção ao termo socialismo. É como se ele não tivesse nenhuma ligação com o que se passa no país. É como se os métodos defendidos por todos os socialistas não levassem inexoravelmente a esse mesmo destino trágico, conforme nós liberais alertamos lá atrás, quando Chávez ainda era vivo e já seguia nessa direção.

Alguns tentam inocentar até mesmo Hugo Chávez! E a maioria nada fala sobre o grande culpado: o socialismo. É muito fácil colocar a culpa toda em Maduro, um imbecil bronco, um ex-motorista de ônibus sem carisma, e deixar de lado o que efetivamente produziu essa catástrofe. O PSOL e o PT não só apoiaram Chávez e até Maduro desde sempre, como ainda o fazem, e pior: defendem os mesmos meios para o Brasil.

Se os ideais do PT e do PSOL de Jean Wyllys vingassem, se não tivesse ocorrido um impeachment “golpista”, talvez o Brasil fosse hoje bem parecido com a Venezuela. E a “autocrítica” que o “corajoso” deputado Jean Wyllys pede ao seu partido sequer tangencia essa questão essencial, nem de raspão. Ele pede que critiquem Maduro, mas poupa o socialismo, aquele que produziu Maduro.

Desculpa, mas não dá para aplaudir quem condena o efeito sem condenar a causa. É como aquele que reclama do bêbado inconveniente na festa, mas continua entornando todas até a última gota, já dando sinais de um andar cambaleante. Ele nem se deu conta de que é o excesso de bebida que produz a embriaguez.

Ou, numa analogia ainda melhor oferecida por uma leitora, criticam a tosse e os espirros, mas omitem o nome do vírus. “Insanidade”, disse Einstein, “é fazer tudo exatamente igual e esperar resultados diferentes”. E não é exatamente o que fazem os defensores do vírus socialista?

Rodrigo Constantino

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