Por Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal
93% dos brasileiros não confiam nos políticos em geral, e, a despeito de termos 35 partidos políticos, 4 em cada 5 brasileiros não se sentem representados por nenhum deles. É nesse contexto que o Partido Novo propõe criar uma espécie de marca em que os eleitores votarão em seus quadros de acordo com as ideias do partido.
Em uma eleição presidencial, um partido que não têm um nome competitivo, basicamente, possui duas opções: buscar encampar uma coligação com uma candidatura competitiva em troca de palanques estaduais e/ou cargos; ou ainda disputar o certame, mesmo sem chances de vitória, para que seu candidato seja um mensageiro e ajude a eleger uma maior bancada de parlamentares no Congresso. Neste caso, é comum que no segundo turno apoie um candidato de olho, justamente, em cargos e influência no governo em caso de vitória.
Em sua primeira eleição nacional, o Novo escolheu ter como pré-candidato um dos fundadores do partido, o administrador João Amoedo. Com uma plataforma econômica bastante liberal, é o pré-candidato cujas propostas são mais conhecidas. O conteúdo delas é, sem dúvida, a que mais agradaria qualquer defensor de uma sociedade de mercado. Contudo, sua candidatura possui alguns problemas estruturais que indicam que não será desta vez que teremos um presidenciável liberal competitivo.
Com a ausência de representantes no Congresso, o candidato do Novo terá poucos segundos no horário eleitoral gratuito, e as emissoras de TV que realizarem debates presidenciais não serão obrigadas a convidá-lo para deles participar. Além disso, apesar de um alto engajamento nas redes sociais, Amoedo tem brigado por pontuar nas pesquisas. Outras candidaturas reformistas, como a de Henrique Meirelles e Geraldo Alckmin, acabam por canibalizar a parcela do eleitorado de que ele disputa votos. E, sem a garantia de exposição ao longo da campanha que se iniciará em agosto, o prognóstico de estar no 2º turno tem desanimado muitos simpatizantes do projeto do Novo, que pensam em votar em outros candidatos, como Jair Bolsonaro, para que alguém identificado com a direita esteja no palácio do planalto pelo próximo quadriênio.
Porém, é um erro analisar João Amoedo sob a perspectiva de candidatura competitiva. Os pré-candidatos que se enquadram nesse grupo são Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Jair Bolsonaro, Marina Silva e o nome que o PT escolher. O Novo está na disputa presidencial na tentativa de divulgar ao máximo o partido e conseguir eleger a maior bancada de parlamentares possível.
A despeito desse objetivo menos pretensioso, a campanha de Amoedo poderia ser melhor. Falta fixar nos eleitores uma storytelling. Apenas para citar 2 exemplos, as entrevistas de Ciro Gomes demonstram cabalmente sua narrativa: “eu sou preparado na vida pública e tenho um plano de desenvolvimento para o país”. Pode-se dizer o mesmo de Marina Silva, que sempre repete “nos últimos anos tivemos presidentes com projetos de poder, eu tenho um projeto de Brasil”. Amoedo não conseguiu emplacar ainda a sua narrativa. Suas entrevistas são um amontoado de propostas liberais aleatórias que, embora agradem os defensores de uma sociedade de mercado, não parecem cativar os eleitores.
Alguns liberais, aliás, não se identificam com a candidatura de Amoedo por ele não ser tão enfático em relação a pautas sociais. É preciso entender, no entanto, que uma ideologia política é o seu mundo ideal, a sua utopia, mas disputar uma campanha é selecionar suas visões de mundo em mudanças que se propõem aqui e agora para buscar apoiadores e eleitores.
E tudo isso deve ser melhor transmitido pelo Novo. Exemplo ocorreu com o programa Roda Viva, que, após a saída da Augusto Nunes, passou a ter um editorial de centro-esquerda. Diante de jornalistas com visões opostas as suas (e que representam um público com o qual é preciso que os liberais aprendam a dialogar), Amoedo se atrapalhou quando as indagações sobre economia deram lugar às questões de costumes. Foram três blocos inteiros do programa bombardeando-o, e cada resposta sua dava mais combustível para ser atacado na pergunta seguinte. Os entrevistadores o acuaram ao suscitar possíveis contradições nas pautas em que o Novo ainda não possui posição formada. Amoedo pareceu buscar convencer uma jornalista da Carta Capital, quando na verdade ele deveria responder para o público que lhe assistia. Contrastando com ele, Ciro Gomes, que no passado cometeu esses mesmos erros, na primeira pergunta sobre costumes neste mesmo programa foi enfático: “Eu não sou candidato a guru de costumes”. Assim, evadiu-se de um tema em que suas respostas alienariam parte de seus eleitores, algo que João – ainda inexperiente – não soube fazer.
São poucos os eleitores que analisam os planos de governo de todos os presidenciáveis para decidir seus votos. Pesquisas empíricas de ciência política mostram que não há tanta racionalidade na escolha de um voto. As opções dos eleitores por um candidato podem se dar por semelhanças ideológicas, mas também por beleza física, simpatia e por discursos que despertem lembranças de realizações feitas em prol de seu grupo social. É nisso que Amoedo, sua equipe e o Novo precisam aprender a trabalhar melhor.
Guilherme Boulos, do PSOL, e Manuela d’Ávilla, do PCdoB, por exemplo, são candidatos franco atiradores da extrema-esquerda. O objetivo principal deles no pleito é buscar fortalecer o partido no legislativo, além de encarecer politicamente eventuais apoios no 2º turno. Amoedo está no mesmo grupo que eles, mas com uma postura não tão enfática quanto poderia ter. Ser mais veemente na fala garante maior eco na campanha e ajuda no cumprimento de seu objetivo na disputa eleitoral.
O Novo se apresenta como um partido composto por pessoas sérias, e há um evidente potencial em longo prazo, mas para haver maior sucesso precisa entender que política não é um debate acadêmico, é “guerra” – e ela precisa ser bem disputada.
Por conseguinte, o discurso mais moderado de Amoedo em relação a seus adversários deveria dar lugar a um candidato um pouco mais agressivo – mas não caricato. Um presidenciável que mostre as incoerências dos projetos dos outros presidenciáveis e por que o seu é o melhor. Sua missão não é de apenas conquistar admiradores, mas votos para ele e todo seu partido em busca de competitividade para as próximas eleições.
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