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A prisão de Julian Assange na embaixada do Equador esta quinta ganhou as manchetes mundiais. O fundador do Wikileaks estava refugiado lá há sete anos. Ele fora acusado de espionagem, de ter deliberadamente agido como cúmplice para hackear dados sigilosos do governo americano.

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Segundo as autoridades britânicas, a prisão do australiano tem relação com um pedido de extradição feito por autoridades norte-americanas e um processo que ele responde no Reino Unido por ter deixado de se apresentar à Justiça britânica.

Os policiais entraram na embaixada após o presidente equatoriano, Lenín Moreno, suspender o asilo que concedia a ele. Ele teria resistido. Logo depois de ter sido levado pela polícia, Assange foi considerado culpado pelo Tribunal de Westminster, em Londres, por violar as condições de sua libertação provisória no Reino Unido, um crime que pode levá-lo a ser sentenciado a um ano de prisão.

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Uma audiência sobre o pedido de extradição dos Estados Unidos será no dia 2 de maio. Alguns saíram em defesa de Assange, como a revista libertária reason, alegando que sua prisão fere a liberdade de imprensa. Mas eis o ponto: Assange não é um jornalista que recebeu material de uma fonte e o publicou; ele é, ao que tudo indica, parte de um esforço deliberado de se obter tais informações por meios ilegais. E isso faz toda diferença do mundo.

Assange e o Wikileaks já foram considerados heróis e vilões, dependendo de quem era o alvo dos vazamentos. Quando o foco era o governo americano, muitos esquerdistas aplaudiram, mas quando Hillary Clinton passou a ser exposta, passaram a denunciar seus métodos. A única postura mais coerente aqui é sempre aceitar ou repudiar seu trabalho, não importando quem paga o pato. Estou do lado dos que sempre condenaram seus vazamentos.

Há indícios de que o Wikileaks está mesmo a serviço dos russos, e que seu principal objetivo é minar o governo americano. No começo expôs vários alvos para simular imparcialidade, mas com o tempo foi ficando claro que o ataque tinha endereço certo. Fora isso, Assange como pessoa apresenta todos os sinais de ser alguém detestável, narcisista ao extremo, ególatra e autoritário. Um sujeito desses não pode ser o herói da liberdade de ninguém.

Consigo entender o ponto de vista libertário: como o estado é visto como o grande inimigo da liberdade, sempre ilegítimo, quando alguém expõe informações sigilosas sobre suas operações merece ser elogiado. Mas se trata de uma visão limitada, infantil, romântica e utópica da geopolítica. Questões de segurança nacional de fato existem. Óbvio que existe um dilema aqui: até onde deve ir o segredo?

O mecanismo legal de pesos e contrapesos é fundamental para limitar esse poder. Mas isso é diferente de aplaudir criminosos hackers que fazem denúncias seletivas. Por coincidência, vendo a série “Black List” no Netflix nesta quinta, o episódio tratada justamente desse impasse: um juiz queria seguir com uma denúncia de uma agente do FBI numa Força Tarefa fundamental para a segurança nacional, e acabou tendo de desistir por pressão de cima, não necessariamente da forma mais adequada.

escrevi sobre esse dilema quando vi o terceiro filme da trilogia Jason Bourne também. Questionei, então: até que ponto devemos ir no avanço sobre a privacidade em busca de segurança pública? Eis minha resposta:

Em tempos de vazamentos da Wikileaks, de Edward Snowden, de Facebook e WhatsApp acusados de servirem aos interesses de terroristas, seria legítimo o governo bisbilhotar com a cumplicidade dessas empresas de redes sociais a vida dos indivíduos?

Não há resposta fácil aqui, e o filme rompe com o modelo maniqueísta de bonzinho e malvado. Não fica claro quem joga a favor da nação e quem é inimigo na trama. Há uma região cinzenta, apesar de a CIA ser sempre retratada com certo desprezo por Hollywood. Até onde o pragmatismo patriota pode ir no processo de ignorar direitos básicos dos cidadãos para garantir a segurança geral?

Não é um dilema nada novo, claro. Foi tema de debate entre os “pais fundadores”. É uma preocupação de todo liberal desde sempre. A resposta simples é, como quase sempre, equivocada. 

Não há, creio, resposta simples. Mas por mais que seja capaz de entender a postura mais “revolucionária” dos libertários, não consigo vibrar com os métodos de Assange e do Wikileaks. Acho que eles são criminosos que representam uma ameaça à liberdade. Meu lado conservador fala mais alto aqui.

Fortalecer instituições de estado e criar limites para a ação da inteligência em espionagem são metas nobres, mas é preciso avaliar como isso é feito. E não acho que o Wikileaks tenha servido para fortalecer as liberdades civis na América ou no mundo. Acho que serviu mais aos interesses do próprio Assange, ou então de Putin.

Que Julian Assange pague por seus crimes, se for condenado pelo devido processo legal. Está sendo acusado de conspiração, por teria participado como cúmplice da atividade ilegal, não como um jornalista que recebeu material de sua fonte anônima. Hackear informações sigilosas do governo pode lhe render até cinco anos em cana nos Estados Unidos.

Rodrigo Constantino