Em dia de nova fase da operação Lava Jato, mirando nos esquemas de corrupção da Odebretch com o PT e envolvendo os ex-ministros Palocci e Guido Mantega, novas supostas mensagens entre os procuradores e o juiz Sergio Moro foram divulgadas pelo The Intercept/Folha. Nelas, o procurador Deltan Dallagnol teria sugerido um monumento público para a Lava Jato:
“Precisamos de estratégias de marketing. Marketing das reformas necessárias”, disse o procurador Deltan Dallagnol em grupo de conversa com colegas em maio de 2016.
Dessa necessidade, mostram mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil e analisadas pela Folha, surgiu a ideia de fazer uma espécie de monumento à Lava Jato e a reformas em Curitiba, escolhido por meio de concurso.
O projeto nunca foi concretizado, mas rendeu discussões entre procuradores, com a chefia do Ministério Público Federal no Paraná e até com o então juiz Sergio Moro.
A colegas, no aplicativo Telegram, Deltan demonstrava entusiasmo com o projeto. O plano era realizar um concurso de uma escultura que simbolizasse a operação e mudanças defendidas pelos procuradores, como o projeto das Dez Medidas, que estava em tramitação no Congresso, e a reforma política.
“A minha primeira ideia é esta: Algo como dois pilares derrubados e um de pé, que deveriam sustentar uma base do país que está inclinada, derrubada. O pilar de pé simbolizando as instituições da justiça. Os dois derrubados simbolizando sistema político e sistema de justiça…”
O plano foi levado pelo procurador, que é chefe da força-tarefa, a Moro. Deltan esperava obter apoio do magistrado para colocar a peça na praça em frente à sede da Justiça Federal, que já virara local de atos em apoio à Lava Jato.
Citou a possibilidade de um concurso de escultura “que simbolize o fato de que a lava-jato é um avanço, mas precisamos avançar com reformas, como a reforma do sistema de justiça e do sistema político”.
“Isso virará marco na cidade, ponto turístico, pano de fundo de reportagens e ajudará todos a lembrar que é preciso ir além… Posso contar com seu apoio?”, questionou.
Moro, em conversa no aplicativo, transpareceu contrariedade: “Não é melhor esperar acabar?”
Deltan negou que o propósito fosse “endeusar” a operação e insistiu: “Eu apostaria que tão somente a existência do concurso já será matéria de jornal, estimulará o debate sobre reformas, e frisaremos na proposta do concurso das esculturas a necessidade de reformas e que elas simbolizem as reformas necessárias… sabemos que precisamos ir além, como país, e só estou pensando nisso para fazer tudo o que estiver ao meu/nosso alcance.”
Depois de pedir um prazo para pensar, Moro deu opinião contrária: “Melhor deixar para depois. Em tempos de crise, o gasto seria questionado e poderia a iniciativa toda soar como soberba”.
Para o então juiz, iniciativas que soam como homenagens “devem vir de terceiros”.
Deltan disse na conversa por meio do aplicativo que não haveria gastos dos cofres públicos e que o “candidato faria com patrocínio privado”.
O que concluir dessas supostas mensagens? Em primeiro lugar, o óbvio: além de terem sido obtidas de forma criminosa, não foram periciadas. Mas mesmo assumindo a veracidade dessas mensagens e ignorando qual o exato contexto em que se deram, há mesmo um absurdo tão grande assim?
Sabemos como a operação Mãos Limpas da Itália influenciou a Lava Jato, e uma das principais lições era justamente a relevância da opinião pública no apoio ao combate à corrupção. A intenção de Dallagnol, segundo o que foi publicado, parece nobre, e não um surto de megalomania pessoal. No mais, não contaria com recursos públicos.
Não obstante, a postura de Moro se destaca ainda mais: sugere humildade, pé no chão, cautela e prudência. A Lava Jato merecia mesmo um monumento em praça pública. Há tantos falsos heróis espalhados em estátuas ou nomes de rua pelo país que seria de bom tom homenagear algo que realmente trouxe boas mudanças.
A Lava Jato alimentou a esperança do brasileiro na Justiça, na igualdade de todos perante as leis, ao ver caciques políticos e grandes empresários, até então intocáveis, indo para a prisão. A opinião pública se colocou amplamente favorável aos seus trabalhos, enquanto a patota saudosa da era da impunidade faz de tudo para manchar sua reputação e impedir a continuidade de seus trabalhos.
Como vimos no começo, até aqui falharam. Apesar de todo o esforço de boicote e resistência, novas fases são lançadas, para atormentar aqueles acostumados com a roubalheira impune. Uma estátua de Moro seria personalizar de mais a coisa, em que pese seu heroísmo pelo sacrifício pessoal na luta contra esses poderosos bandidos.
Mas um monumento em homenagem ao trabalho conjunto da força-tarefa, isso faria sentido mesmo. E não precisa de recurso público. Tenho certeza de que numa vaquinha voluntária não faltaria adesão do povo. Podem contar com a minha contribuição…
Rodrigo Constantino
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