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Liberais podem enaltecer livre mercado e também valores morais, pois a guerra é cultural

Faz tempo em que tento mostrar que liberalismo não precisa ser sinônimo de libertinagem ou relativismo moral, e que tampouco deve ficar restrito a uma defesa do livre mercado, com foco totalmente econômico. Por conta desse esforço, fui acusado por alguns “liberais” até de “reacionário”, tática que a esquerda costuma usar em “debates”. Não ligo. Tenho a convicção de que luto a boa luta.

Edmund Burke, o “pai do conservadorismo”, era um liberal Whig, mas teve o bom senso de perceber o risco jacobino e pregar prudência, cautela. O liberal de hoje pode ter o mesmo pragmatismo, entender que o pêndulo do “liberalismo” extrapolou para um viés “progressista”, e se dar conta da guerra cultural em curso. Um liberal moderno pode muito bem beber de fontes conservadoras para uma síntese, sem se tornar reacionário por isso.

Ao ler o excelente artigo de Flavio Rocha, dono da Riachuelo, publicado hoje na Folha, aplaudi de pé. Rocha é não só um ícone do empreendedorismo no país, que tem comprado brigas corajosas com o estado, como é associado ao movimento liberal. Nem por isso ele ignorou o aspecto moral e a guerra cultural, citando inclusive Gramsci. O liberal que achar que a esquerda ainda usa métodos leninistas será facilmente sua presa. Diz Rocha:

Não me interessa aqui discutir eventuais méritos artísticos. Não vou também fazer a crítica moralmente conservadora. Meu respeito pela diversidade não se resume a palavras: a Riachuelo é a empresa que, proporcionalmente, mais emprega transgêneros no país e a primeira a permitir que as pessoas sejam identificadas, no crachá, pelo nome social que escolheram.

A questão não é essa. Se venho a público, expondo-me à patrulha ideológica infiltrada nos meios de comunicação, é para denunciar tais iniciativas como parte de um plano urdido nas esferas mais sofisticadas do esquerdismo -ameaça que, não se enganem, é tão mais real quanto elusiva.

Exposições são só um exemplo. Há muitos outros: associação de capitalismo e picaretagem na dramaturgia da TV; glorificação da bandidagem glamorosa; vitimização do lúmpen descamisado das cracolândias; certo discurso politicamente correto nas escolas.

São todos tópicos da mesma cartilha, que visa à hegemonia cultural como meio de chegar ao comunismo. Ante tal estratégia, Lênin e companhia parecem um tanto ingênuos. À imensa maioria dos brasileiros que não compactua com ditaduras de qualquer cor, resta zelar pelos valores de nossa sociedade.

Ele está certíssimo! Quando o MBL, um movimento também liberal, compra a briga com Caetano e companhia, não é por ser “reacionário”, mas por defender valores morais básicos que a imensa maioria dos brasileiros concorda. Combater a pedofilia disfarçada de “arte”, a agenda de degradação moral promovida pelos “progressistas” e a ditadura do politicamente correto é defender o liberalismo.

Infelizmente, nem todos os liberais se deram conta disso ainda. Gustavo Franco, quem admiro e que claramente migrou mais para o lado liberal nos últimos anos, inclusive abandonando o PSDB e integrando o quadro do Partido Novo, disse em entrevista recente na IstoÉ Dinheiro que o liberalismo não pode ser confundido com a direita ou o conservadorismo, e apresentou um argumento equivocado para tanto:

As ideias liberais não são muitas vezes relacionadas a movimentos de direita, conservadores?

É importante esclarecer que uma coisa não tem nada a ver com a outra. A maioria das pessoas comprometidas com os ideais de economia do mercado não tem nada que ver com o pensamento conservador. Nos Estados Unidos, a palavra liberalismo se associa às pessoas que têm a cabeça pró-mercado e são liberais nos costumes. É assim que vejo o Novo, com a ideia de liberdade como seu principal eixo.

Nos Estados Unidos, faltou dizer, o conceito liberalismo foi usurpado pela esquerda, e hoje temos até um socialista como Bernie Sanders se dizendo um “liberal”. Os “liberais” americanos, como Obama e Hillary Clinton, não defendem livre mercado, mas sim um intervencionismo crescente do estado não só na economia como em tudo mais. Se o Novo for se inspirar no Partido Democrata, então ele irá escorregar inevitavelmente para a esquerda.

São “progressistas” que defendem algum grau de livre mercado, e ponto. Entendo o receio de ser associado à direita num país como o Brasil, onde a esquerda hegemônica faz lavagem cerebral há décadas ligando direita ao regime militar, que foi positivista e criador de estatais. Com base no monopólio da virtude, ser de direita ou conservador virou sinônimo de ser “ruim” e defender ditadura. Mas não é nada disso.

O máximo da “direita permitida” no Brasil é o PSDB, que é… de esquerda! São todos “liberais” no sentido americano, usam como fonte de informação apenas a CNN, o Washington Post e o NYT, quando não a  ultraesquerdista MSNBC. Defender os bons costumes é coisa de “reacionário”, e todos morrem de medo da pecha. Daí a postura defensiva.

A liberdade não sobrevive num vácuo de valores morais. Quando o liberal entende isso, e percebe como a agenda “progressista” vem minando deliberadamente esses valores, ele pode muito bem comprar a briga cultural também, condenar os movimentos que falam em nome das “minorias”, mas vendem no fundo socialismo mascarado. O liberal não precisa ser um amoral, ou ficar indiferente diante da perversão “progressista”.

E ofereço um argumento forte para que esses liberais saiam do armário quanto a isso: não importa o que vocês falem, já serão acusados de qualquer jeito pela esquerda radical de “reacionários” ou coisa pior, como “fascistas” ou “nazistas”. É o único “argumento” deles. É o que restou a eles, e também parte da tática gramscista: tudo aquilo que não for comunismo só pode ser fascismo.

Portanto, não tenham medo dos rótulos dados por comunistas. Façam como eu, que fico até orgulhoso deles. É sinal de que estou no caminho certo…

Rodrigo Constantino

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