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Livre mercado é arma contra a corrupção e cabeça do brasileiro mudou, diz dono da Riachuelo

Fonte: Estadão (Foto: )

Flávio Rocha, dono da Riachuelo, é um dos poucos empresários brasileiros que tem coragem de defender o livre mercado. Nossos empresários, especialmente os grandes, costumam preferir o modelo de “capitalismo de estado”, com forte presença estatal, pois assim podem controlar melhor tanto seus privilégios (subsídios) como as barreiras de entrada de novos concorrentes (protecionismo).

Em entrevista ao Estadão (Sonia Racy), Rocha defende o livre mercado como saída para a corrupção, que estaria umbilicalmente ligada ao excesso de intervenção estatal. E se mostra otimista, pois entende que a cabeça do brasileiro mudou em relação ao papel do estado. Seguem alguns trechos:

Eu acho que, dadas as corretas sinalizações, a retomada será muito mais rápida do que se pode imaginar. Acredito que esse novo ciclo terá também um novo protagonista que não será o Estado. Ele foi depauperado tanto na sua função quanto em seu propósito. E o eleitor percebeu. O presidente Michel Temer soube, com perspicácia, captar essa mudança na origem: a cabeça do eleitor. A visão e as expectativas do brasileiro em relação ao Estado mudaram.

[…]

A mudança demográfica profunda trouxe desdobramentos políticos. Explico: historicamente, a balança eleitoral no Brasil era movida por uma achatada pirâmide e na camada de baixo estava o que eu chamo de eleitor súdito. O que é isso? Um eleitor com visão do Estado paternalista, à espera do Estado provedor, da caridade estatal. Esse eleitor, que compunha 60% da base eleitoral, sempre foi suscetível ao discurso populista, ao discurso do clientelismo, do fisiologismo. Hoje, esse eleitor, esse grande contingente, experimentou um novo estágio de cidadania.

[…]

Sai o eleitor súdito e entra eleitor cidadão, com visão de cidadania tributária, consciente da relação custo-benefício do governo.

[…]

A esquerda sempre viveu de acirrar conflitos e, assim, justificar o Estado grande. Onde eles enxergam uma fatia de conflito, jogam um balde de gasolina. Funciona no conflito racial, no conflito “Nordeste contra Sudeste”, no conflito de gêneros, do produtor rural contra o MST, no conflito fundiário. Há o desejo de manter as cordas permanentemente esticadas.

[…]

O novo ciclo, cujo protagonista é o indivíduo, tem a lógica inversa, porque a máquina mais perfeita de solução e de mediação dos conflitos é a empresa privada, que será a grande protagonista daqui para frente. A empresa privada bem sucedida é aquela que media competentemente as disputas – como, por exemplo, o conflito entre o acionista e o trabalhador. A empresa tem a lógica oposta, quer solucionar, resolver. Trata-se da superação da lógica do protagonismo estatal pela do protagonismo do indivíduo.

[…]

A corrupção atua como areia nas engrenagens da economia e a Lava Jato vai limpar essas engrenagens e devolver as decisões econômicas e empresariais à lógica da eficiência, à lógica do mercado.

[…]

O propósito do Estado deve ser servir. Servir ao cliente da rede pública, do hospital público, servir ao aluno da rede pública. Entretanto, durante todo esse período de estatismo o Estado passou a ter como propósito o seu umbigo e seus privilégios.

[…]

O eleitor cidadão passou a ver o Estado como um prestador de serviços. E quer que ele seja eficiente.

[…]

A PEC da Previdência é absolutamente fundamental. Pelos privilégios que tem essa casta que se apoderou da carruagem estatal – impostos, muitas vezes, na calada da noite – somos hoje um país que investe no passado. Quatro milhões de pensionistas e de aposentados e funcionários públicos recebem mais recursos públicos do que 37 milhões de jovens. Essa relação em outros países é inversa. Ou seja, você gasta quase dez vezes mais no aposentado do que no jovem que é o futuro do país. Isso é uma deformação enorme.

[…]

O novo ciclo é do protagonista individual e este só está observando com muito interesse, com muita ansiedade e muita expectativa se o Brasil criou ou não juízo, se o Brasil vai virar um país normal guiado pelo binômio da prosperidade que é democracia e livre mercado. Dada essa sinalização – acho que ela está prestes a ser dada, com a aprovação da PEC do Gasto e provável aprovação da PEC da Previdência –, a retomada se dará muito rapidamente. Por quê? Porque existem US$ 7 trilhões aplicados a juro zero loucos para encontrar um destino. Só precisamos ter a garantia de que o Brasil criou juízo.  

Espero que o empresário esteja certo em sua visão otimista. Confesso ser mais desconfiado e cético, pois acredito que essa paixão paradoxal do brasileiro pelo estado ainda está um tanto enraizada em nossa cultura, apesar do ódio geral aos políticos, e que a grita dos grupos organizados de interesses será muito forte também. Estamos caminhando nessa direção mais liberal, sem dúvida, mas ainda falta muito…

Rodrigo Constantino

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