Gostaria de compartilhar com o leitor seis livros interessantes de 2017, que podem suscitar boas reflexões e, de preferência, um diálogo construtivo entre a esquerda civilizada (exclui socialistas) e a direita liberal-conservadora.
Em “The Retreat of Western Liberalism”, Edward Luce, que trabalhou no governo Clinton e tem visão de mundo claramente “progressista”, tece severas críticas aos próprios “liberais” democratas, ainda que o alvo principal seja o “populista” Donald Trump.
A política de identidade da esquerda merece destaque entre seus alvos, pois tem dificultado uma busca de convergência. E a democracia não pode sobreviver num pântano de desconfiança mútua.
Em “On Tyranny”, Timothy Snyder alega que tanto o fascismo como o comunismo são reações ao mesmo fenômeno: a globalização. Para o professor de Yale, a vitória de Trump pode ser uma resposta fascista. Seu tom é sombrio: “Qualquer eleição pode ser a última, ou ao menos a última durante a vida da pessoa votando”.
O ambiente polarizado e radicalizado em nada ajuda. Snyder acredita que cada um deve buscar em si um antídoto para essas tentações, lendo mais livros, tentando se informar melhor, conhecendo mais pessoas e tendo contato direto com elas, o que pode evitar os processos de desumanização dos adversários, tratados como inimigos mortais com base em rótulos depreciativos e abstrações.
Em “The Once and Future Liberal”, Mark Lilla chama a atenção para o fenômeno que, em sua visão, tem colaborado para a destruição do “liberalismo”: todos focam demais em Trump, mas ele seria um sintoma, não a causa dos problemas. O autor se considera um “liberal frustrado”, e acha que os “liberais” perderam o contato com o povo.
Uma cidadania democrática exige direitos e deveres recíprocos. Mas os narcisistas da sociedade moderna só querem saber de seus “direitos”, e os debates políticos só giram em torno do “eu”. Lilla está convencido de que a política de identidade tem sido responsável pelas derrotas “liberais” no espaço político.
Esses são os três livros à esquerda. À direita recomendo “The Big Lie”, de Dinesh D’Souza, que traça o elo entre a esquerda americana e o nazismo; “The Closing of the Liberal Mind”, de Kim R. Holmes, que disseca a trajetória de como o pensamento de grupo e a intolerância passaram a definir a esquerda moderna, que se diz liberal; e “A corrupção da inteligência”, de Flávio Gordon, um resumo do quadro atual de nossas universidades federais, antros de comunismo e anarquia, especialmente na área de humanas, assim como uma ótima explicação para o fenômeno.
Todos esses livros agregaram para o debate de ideias no ano, e merecem ser lidos. Há resenhas deles em meu blog (www.rodrigoconstantino.com).
Artigo originalmente publicado pela revista IstoÉ
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS