Luciano Huck é um cara que exala simpatia. Na verdade, ele parece tão simpático, tão “do bem”, que acho que podemos chamá-lo de Mr. Simpatia. Seu programa leva o mais sensível às lágrimas, quando ele demonstra todo aquele zelo em ajudar os mais necessitados. E o figurino está perfeito para o personagem, para um apresentador “sem preconceitos”, que ama “tudo e todos”. Mas será que cola para transformá-lo em político?
Boatos circulam com força cada vez maior de que uma turma estaria considerando Huck como candidato a presidente em 2018. Ele mesmo, ao falar cada vez mais de política, acaba corroborando a boataria. E ao publicar um artigo hoje na Folha, com toda a pinta de candidato, a coisa fica parecendo séria mesmo. Eis um trecho, que parece extraído direto de um palanque:
Temos que enxergar o Brasil como gostaríamos que ele fosse, e não como ele está. Se não tivermos um projeto de país, pensado, claro e inteligente, vamos seguir apontando os defeitos uns dos outros, os erros alheios, dando cabeçadas. Não vamos construir nada. A troca de ideias genuína e a fricção entre elas nunca foram tão necessárias.
Admiro o olhar empreendedor que estadistas contemporâneos de verdade também compartilham, no qual a escassez e a ineficiência são entendidas como oportunidades, nunca como obstáculos intransponíveis.
Estamos cheios de empecilhos pela frente e, exatamente por isso, cheios de oportunidades.
[…]
O sucesso desta nossa geração e o futuro das próximas dependerá do impacto que formos capazes de gerar na vida de todas as pessoas.
Tenho a clareza de que um significado maior e mais verdadeiro é infinitamente mais importante do que o sucesso por si só.
Não há sucesso, não há felicidade, não há riqueza se não formos capazes de estender esses privilégios a todos. Não, você não precisa se preocupar com a inteligência artificial. Melhor se preocupar com a estupidez humana.
Palavras bonitinhas, mensagem vaga de otimismo e esperança, sem qualquer conteúdo mais palpável e concreto, e estendendo os privilégios a “todos”: parece até Obama falando! Pelo visto a ideia de entrar para a política é real. Então é hora de levar a possibilidade a sério, e explicar por que o julgo um nome muito fraco para a disputa.
A principal expressão que resume meu ceticismo é “politicamente correto”. Huck é tão “legal”, tão cool, que precisa gostar de todos, até mesmo dos crápulas. Aliás, basta uma rápida busca no Google para ver que o apresentador tem foto com quase todos os investigados da Lava-Jato. É um espanto!
Huck parece seduzido demais pelo poder, “amiguinho” demais dos poderosos, inclusive daqueles que são canalhas desde sempre, como Lula. A imagem que fica, para quem não aderiu ao mundinho do faz de conta dos “progressistas”, é a de alguém sem o devido rigor moral, sem muito critério ético, disposto a tudo pelas aparências.
Esse já tinha sido o motivo pelo qual resolvi incluir Huck no meu Esquerda Caviar. Não que ele seja de fato um esquerdista hipócrita, e sim porque ele acaba representando tudo aquilo que essa esquerda hipócrita costuma apreciar. Assim eu começava a explicação para colocá-lo entre os personagens dissecados no livro:
O Mr. Simpatia da TV Globo, o garoto bom, ícone da turma “politicamente correta”, é sem dúvida Luciano Huck. Ele exala bondade, correção, altruísmo, e isso tem elevadíssimo valor de mercado na hora das campanhas publicitárias. Que, em seu caso, são muitas.
Huck, claro, não começou sua carreira artística com essa imaculada imagem de bom moço. Tinha o Programa H, na TV Bandeirantes, antes de receber o convite da Globo, que mudaria sua vida. Nesse programa, transmitido à tarde, mulheres como Tiazinha e Feiticeira viraram celebridade. O sensualismo foi uma tática certeira de Huck para ascender na carreira.
Na Globo, a construção da imagem de bom garoto teve início. Para tanto, Huck acabou se tornando uma referência de várias bandeiras da esquerda caviar, tratadas nesse livro. O Caldeirão do Huck virou o ápice do sensacionalismo, voltado para as classes A e B, que choram de emoção com tanta bondade do “toque de Midas” do bom samaritano – que recebe um salário milionário para tanto, é verdade.
Ocorre que, por vezes, o tiro sai pela culatra e a coisa toma ares de um maquiavelismo às avessas: para ajudar um, sacrificam-se cem. Foi o caso de um programa em que o MST fora enaltecido do começo ao fim, usando-se a imagem de uma pobre senhora trabalhadora de um assentamento como representante de todo o movimento. A vitimização estava presente, naturalmente. Foram mostrados crimes contra líderes do movimento, e ficou claro que somente latifúndios improdutivos eram usados para a reforma agrária.
Esqueça invasores violentos, baderneiros que quebram laboratórios científicos, revolucionários marxistas como João Pedro Stédile e criminosos como José Rainha, as favelas rurais que os assentamentos se tornaram na prática. Nada disso fora citado no programa. Aquela boa senhora, que sonhava com uma oportunidade para investir em seu pequeno agronegócio de alimentos orgânicos, incorporou a essência do MST e da reforma agrária no Brasil.
Ou seja, toda aquela bondade aparente e, na prática, os bandoleiros do MST sendo defendidos para o público em geral, ávido por bandeiras igualitárias para expiar seus “pecados” de elite. É essa imagem que me desagrada tanto no personagem. É essa postura de poser que tanto me incomoda. Eis como terminei o texto sobre ele:
Qualquer escândalo precisa ser imediatamente abafado para não desvalorizar a “marca” Huck, presente em inúmeros comerciais. A beautiful people zela por sua fotografia como ninguém, e tudo tem de ser como na capa da revista Caras, uma felicidade perfeita, de causar inveja no menos invejoso dos seres. Lembremos, afinal, do tema recorrente nesse livro: imagem é tudo para a esquerda caviar!
A esquerda caviar também pode ser chamada de esquerda Itaú, já que uma turma rica adora bancar esses perfis politicamente corretos. Marina Silva é o típico exemplo. Foi de esquerda a vida toda, e da esquerda radical, do PT. Veste literalmente o boné dos invasores do MST. Mas adota aquela fala mansa com mensagens vagas de “igualdade” e de quem se preocupa com o planeta, e isso basta. Teve milhões de votos dessa elite culpada, descolada, “bonitinha”, mesmo sendo apenas o PT embalado à clorofila.
E agora essa mesma turma flerta com Huck como um nome alternativo. Sai a clorofila, entra o estilo descolado do mundo tecnológico do Vale do Silício. Quer dizer, a clorofila nem precisa sair de cena, pois certamente Huck será simpático a todas essas causas dos “verdes”, ecologicamente consciente como ele sem dúvida alguma é.
A elite vive numa bolha, e o mundo cá fora cansou das mentiras, da falsidade, do politicamente correto. João Doria, nesse sentido, tem a vantagem de dizer que é rico mesmo e tem orgulho dessa riqueza obtida com seu trabalho legítimo. Alguém consegue imaginar Huck rebatendo “jornalistas” de esquerda de cima de seu gigantesco iate, afirmando: “É meu sim, custou milhões mesmo, e não tenho culpa alguma por isso”? Pouco provável, pois essa resposta não cairia nada bem entre o GNT people.
O povo quer um “outsider” da política, pois está de saco cheio do establishment. Mas não é qualquer “outsider”, até porque alguns não chegam a ser exatamente pessoas de fora do “sistema”. E o povo quer alguém mais verdadeiro, genuíno, sincero, com convicções e coragem para defendê-las, que não tenha aderido ao politicamente correto. Isso é o oposto do perfil de Huck, uma “geleia moral” que será sorridente com todos, do mais extremista à esquerda ao mais radical à direita (bem, nem tanto, nem tanto).
O eleitor não quer o comedido Bruce Banner, fisicamente fraco, emocionalmente reservado e contido. Cansado da roubalheira, indignado com a politicagem e a corrupção, de saco cheio de promessas irreais nunca entregues, o eleitor quer o Incrível Hulk, o monstro verde irritado, que quer detonar os bandidos. O povo quer o Hulk, não o Huck…
Na França, um Huck apareceu e até venceu, com o nome de Macron, mas a decepção já é visível, a aprovação caiu pela metade em poucos meses, e nem todos os milhares de euros gastos com maquiagem ajudaram. Vamos de Macron no Brasil também?
Rodrigo Constantino
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