Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal
Sim, sabemos que a pusilanimidade e as indecisões crônicas do PSDB já torraram a paciência mais do que o suficiente. Porém, caros leitores, são ossos do ofício; ainda estamos falando de um dos maiores partidos políticos do país. No sábado, dia 9, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi eleito presidente da sigla na convenção nacional de maneira quase unânime. Sinal de que sua candidatura à presidência vai se materializar. O suposto fenômeno João Doria, como se diz hoje em dia, “flopou” – e discursou em apoio enfático à escolha.
O que nos chama a atenção não é isso. É que, de novo, Fernando Henrique Cardoso, o homem-símbolo da representatividade do PSDB, pegou o microfone para dizer que, se não fosse pela idade, gostaria de vencer Lula pela terceira vez. E frisou: “Eu prefiro combatê-lo na urna a vê-lo na cadeia”. Alguns comentários são capazes de expressar, com perfeição, o surrealismo reinante no Brasil contemporâneo. Esta é uma delas. Tanto quanto o fato de ainda haver quem cogite eleger Lula presidente da República, a ponto de ele figurar em destaque nas – duvidosas – pesquisas, é inacreditável que sequer faça sentido alguém dizer que prefere enfrentar um criminoso em um pleito eleitoral a ver a justiça ser feita.
Já se tornou repetitivo um famoso ditado: se errar é humano, insistir no erro é burrice. O PSDB já se portou dessa forma ao tempo do mensalão; se nos perguntarem se acreditamos, pessoalmente, que Lula conseguiria o mesmo resultado que obteve em sua reeleição – quando os tucanos preferiram “deixá-lo sangrar” e vencê-lo (que piada!) na disputa eleitoral a iniciar o processo de impeachment – após os últimos tormentosos acontecimentos, nossa aposta hoje seria negativa. A realidade do país não é mais a mesma. Porém, isso não justifica que, depois de tanta coisa mudar, inclusive a situação do PT, o PSDB seja a única peça do jogo que parece não sair do lugar. Até o candidato tucano é o mesmo de 2006!
O grande absurdo, ainda assim, é moral. Compreendemos que é grande a possibilidade de os petistas explorarem a prisão de Lula como narrativa, para se apresentarem em seguida como as sofridas vítimas que nunca foram. É uma imagem forte a de um injustiçado preso político, oportuna para se somar à da “presidenta” que sofreu um “golpe”. De todo modo, para citar mais um famoso ditado, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Liberais e conservadores também precisam trabalhar para fortalecer a sua posição na dimensão narrativa, registrando e confrontando a deformada versão da esquerda. Isso por um ditame inescapável: novamente, um suposto utilitarismo não pode se sobrepor aos ditames da lei, bem como à importância do exemplo da sua aplicação contra quem for culpado, sob pena de alimentarmos seu descrédito e a empurrarmos para a insignificância.
A prisão de Lula não é uma questão de preferência pessoal. É uma questão de um tríplex no Guarujá pago e reformado pela OAS como propina. É uma questão de uma reforma no sítio em Atibaia, com direito a pedalinhos com os nomes de seus netos grafados. É uma questão do prédio do Instituto Lula pago pela Odebrecht. É uma questão de pagamentos escandalosos a palestras fajutas. É uma questão de justiça a um povo que não suporta a ideia de que alguns cidadãos desfrutem de privilégios perante o sistema jurídico só porque são, como disse Olavo de Carvalho, uma espécie de “povo honorário” vítima dos “golpistas neoliberais”, enquanto o restante dos pobres coitados é a “elite”.
Às vezes temos a sensação de escrever apenas o óbvio, mas infelizmente no Brasil o óbvio goza de um status peculiar de fenômeno inacreditável. Portanto, FHC, a sua preferência é irrelevante. Lula ir ou não para a cadeia não é algo que dependa da sua opinião, da do Alckmin ou da minha. Um criminoso ser punido, por mais que doa no seu coração, é algo inevitável – se o Brasil quiser se tornar um país sério.
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