Demétrio Magnoli escreve em sua coluna de hoje na Gazeta do Povo que o juiz Sergio Moro não deveria correr com o processo contra o ex-presidente Lula, pois o melhor para o país seria o lulismo ser derrotado nas urnas. Ainda há uma parcela da população que flerta com esse esquerdismo ultrapassado, e impedir que esse projeto concorra em 2018 seria um erro, segundo o sociólogo. Ele conclui:
Lula é um pragmático, não um ideólogo. A utopia política de Lula resume-se ao poder de Lula – como sabem perfeitamente os quadros petistas e até mesmo os signatários do manifesto pela sua candidatura. Contudo, as circunstâncias e os acidentes históricos preencheram o seu pragmatismo com uma série de marcadores ideológicos. Lula converteu-se em representação de um Brasil que se recusa a romper com o passado e de uma esquerda hipnotizada por utopias regressivas de segunda mão. É por isso que o Brasil precisa de Lula – não como presidente, mas como candidato.
O ciclo lulista começou com um maiúsculo triunfo eleitoral que parecia, aos olhos da maioria, inaugurar uma era redentora. A curva de declínio, nos mandatos de Dilma, completada pela implosão do impeachment, atestou uma falência política de fundo. Na depressão econômica, de proporções inéditas, e na desmoralização das instituições públicas, envenenadas pela corrupção, encontram-se os frutos maduros da longa experiência lulopetista. Contudo, como revelam as sondagens eleitorais, a queda drenou apenas parcialmente o pântano das ilusões. O Brasil não se livrará delas enquanto não tiver a oportunidade de confrontá-las na arena do voto.
Ninguém tem o privilégio de pairar acima da lei. Lula não deve ter prerrogativas negadas a Marcelo Odebrecht, Sérgio Cabral ou Eduardo Cunha. O papel desempenhado por ele nas teias de corrupção do “Estado-Odebrecht” precisa ser examinado pelos tribunais. Os juízes, espera-se, terão a coragem de ignorar a programada intimidação de hordas de militantes, julgando o ex-presidente segundo os códigos legais. Mas não há necessidade de apressar os ritos processuais, normalmente tão vagarosos.
Não corra, Moro! Não tome o lugar dos eleitores, salvando-nos de nós mesmos. Um Lula “ficha-suja” ofereceria ao lulismo um santuário inexpugnável. O Brasil precisa, enfim, mirar-se no espelho. Inexiste saída fora da política: aquilo que começou numa eleição só terminará em outra.
Entendo a posição de Demétrio, mas não sei se concordo. Primeiro, porque sempre haverá um Lula disputando eleições no Brasil, seja ele, seja um genérico similar, como Marina Silva, Ciro Gomes ou Marcelo Freixo. A extrema-esquerda tem seu lugar garantido por alguns anos ainda, pois a ignorância campeia em nosso país, e os “intelectuais” dominaram a educação e abusam da lavagem cerebral. As utopias socialistas ainda não foram completamente enterradas no Brasil, país que adora uma ideologia vencida.
Segundo, porque acho que Lula preso, a despeito do espetáculo de vitimismo que veremos pela turba organizada, tem um papel pedagógico ainda mais importante para a nação: nem mesmo os poderosos populistas estão livres da lei. Um Lula preso – e já deveria estar preso – transmite uma fundamental mensagem de “império das leis”, que o país tanto necessita.
Por fim, porque nunca subestimo a estupidez do povo. Em 2005, a estratégia era deixar Lula sangrar com o mensalão, e deu no que deu. Acho que Lula perderia em 2018 se fosse candidato, e acho que isso seria muito bom para nosso futuro, para desmistificar de vez o embusteiro demagogo. Mas e se “der ruim”? E se os idiotas se mostrarem novamente em maior quantidade e caírem na ladainha de que tudo foi culpa de Dilma, e que seu criador não teve responsabilidade alguma na catástrofe?
Melhor não brincar com essa possibilidade. O Brasil seria a Venezuela. O lugar de Lula é na cadeia. E alguém com seu currículo sequer deveria disputar eleições. Ou vamos rasgar a importante conquista da Ficha Limpa?
Rodrigo Constantino
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