Não há termo mais terrível do que “macarthismo”: basta mencionar o nome do senador americano dos tempos da Guerra Fria para bancar a vítima de censura e perseguição ideológica. A tática é fingir que a direita, paranóica, enxerga comunista em todo lugar. Como se comunistas nem mais existissem! Ou como se não tivessem realmente se infiltrado na América para levar o modelo soviético para a nação livre e capitalista!
Em texto publicado na Folha, o jornalista Eugenio Bucci puxou da cartola o termo, para passar a impressão de que os seguidores de Bolsonaro repetem a perseguição daquela época. Nem parece que essa gente vive no Brasil, país em que a direita é perseguida por comunistas em universidades e na imprensa! Diz o autor:
O senador americano Joseph McCarthy (1908-1957), republicano, virou o ícone da sanha anticomunista que tomou conta dos Estados Unidos entre os anos 40 e 50. A ordem democrática não foi oficialmente quebrada, mas quase.
O “macarthismo” foi uma santa inquisição sem batina, perseguindo fanaticamente escritores, roteiristas, atores e jornalistas, sem prova. Queimou reputações e estripou a honra de suas vítimas, numa campanha trágica e ridícula, de uma só vez. Não tinha justificativa, mas tinha um contexto: a Guerra Fria.
O planeta se dividira entre comunismo e capitalismo. O Tio Sam temia que a União Soviética infiltrasse na “América” seus agentes malignos disfarçados de pessoas aparentemente “normais”, como na série de televisão “Os Invasores”. Era preciso incinerá-los. O cidadão pacato podia ser o inimigo “disfarçado”.
Nossa! Até parece que comunistas entravam disfarçados na América para disseminar o comunismo, não é mesmo?! Só tem um pequeno problema: fizeram exatamente isso! Aos montes!
Bucci deveria ver ao menos a série “The Americans” se tiver preguiça de ler livros sérios de história. A tática deliberada dos soviéticos era aparelhar tudo que é instituição americana para subverter de dentro o sistema capitalista. A mídia e o cinema foram os maiores alvos de doutrinadores disfarçados.
O denuncismo contra o suposto macarthismo, portanto, é pura tática para desviar o foco da verdadeira perseguição ideológica que ocorre, e pela esquerda. Já expliquei aqui que o “macarthismo”, por mais que possa ser condenado por excessos, tinha sua razão de ser, uma vez que comunistas de fato se infiltraram para destruir a América livre por dentro. No texto, escrevi:
Já sobre McCarthy, era um senador republicano decente, e o termo “macartismo” passou a ter conotação negativa graças à campanha difamatória dos comunistas. Ora, desde quando boicotar comunista era algo errado no auge da Guerra Fria? A esquerda radical vende isso como uma intolerância de quem não respeita a opinião alheia. Defender o nazismo não é mera questão de opinião! Isso os esquerdistas entendem. Mas vale o mesmo para o comunismo!
Algum cineasta ou ator que defendesse a União Soviética naqueles tempos, que apoiasse o tirano Stalin, era um inimigo da nação, alguém que deseja destruir a América livre. Como não expor gente assim? Ficou comprovado depois que vários daqueles nomes na lista eram mesmo de agentes soviéticos infiltrados, de gente que recebia grana, o “ouro de Moscou”, para impor o comunismo na América.
A melhor estratégia de defesa dos comunistas é pintar o anticomunista como o radical na história, sendo que o radical é o próprio comunista, e a obrigação moral de todo cidadão decente é combater com unhas e dentes essa ideologia nefasta. Transportando para o Brasil, o lulopetismo representa essa ameaça, e isso está claro para todos agora. O PT atenta contra a ordem, a paz, a economia, as leis, as instituições, a democracia, tudo de bom que temos!
Mas eis que jornalistas “isentões” são capazes de dourar a pílula do petismo enquanto detonam o “macathismo” do bolsonarismo. É mole?
Rodrigo Constantino