“Nossas esquerdas não gostam dos pobres. Gostam mesmo é dos funcionários públicos. São estes que, gozando de estabilidade, fazem greves, votam no Lula, pagam contribuição para a CUT. Os pobres não fazem nada disso. São uns chatos…” (Roberto Campos)
A esquerda bem que tenta monopolizar os fins nobres para com os trabalhadores. O principal partido esquerdista chama-se inclusive Partido dos Trabalhadores. Mas, na prática, a esquerda não liga para quem trabalha. Ao menos não para os 40% que estão na informalidade, além dos milhões de desempregados (13%). Somando os dois grupos, temos mais da metade da mão de obra completamente ignorados por aqueles que alegam ser seus defensores.
Basta ver o que a esquerda sindical prega: sempre mais “direitos”, mais “conquistas trabalhistas”, para aqueles que já estão empregados. Décimo-terceiro, décimo-quarto, vale-alimentação, vale-transporte, férias remuneradas, licença-maternidade, licença-paternidade, cotas para “minorias”, FGTS e por aí vai. Os encargos, que dobram o custo do trabalhador na prática, são os grandes responsáveis pela informalidade e pelo desemprego.
Cunhei uma frase que tenta resumir a situação: a informalidade é o ar rarefeito que empresas e indivíduos são obrigados a respirar por conta da asfixia estatal. Essa notícia, que calcula que quatro em cada dez trabalhadores estão na informalidade (eufemismo para ilegalidade), ilustra bem o drama dessa gente:
O percentual de trabalhadores ligados à informalidade aumentou no segundo trimestre, na comparação com igual período do ano passado. Segundo análise do IBGE, 37,060 milhões de brasileiros estavam em atividades como trabalho por conta própria e emprego sem carteira.
O contingente representa 40,6% do total de pessoas na ativa. Há um ano, a fatia era um pouco menor, de 40,1%. O percentual já chegou a ser de 38,8% em 2015, início dessa série histórica.
O levantamento do IBGE considerou as seguintes atividades: empregado sem carteira no setor privado; trabalhador doméstico sem carteira; empregador sem CNPJ; trabalhador por conta própria sem CNPJ; e trabalhador familiar auxiliar.
Para Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, o indicador mostra a fragilidade do mercado de trabalho. A conta é uma aproximação para medir o grau de informalidade na economia. O técnico destacou ainda que acompanhar o número é importante porque inclui formas de contrato ilegais, como o emprego sem carteira no setor privado. Além disso, indica um desafio para a Previdência
— O prejuízo é muito grave. Essa pessoa não está contribuindo para a Previdência, Num momento, ela vai precisar porque está em crise e aí quem vai pagar essa conta? — observou Azeredo.
A reversão desse cenário depende da economia.
Não, a reversão não depende apenas da economia, mas também e principalmente das leis trabalhistas. E eis o que a esquerda não entende. Ao assumir uma premissa absurda de que o patrão não assina carteira por ser malvado, o esquerdista ignora o mecanismo de incentivos em jogo. Muitas vezes o empregador não pode assinar a carteira. Muitas vezes o trabalhador prefere não assina-la.
Não é uma questão de bondade ou maldade, e sim de condições de mercado. Se a produtividade não permite contratar alguém por mais do que dois mil reais por mês para determinada função, mas o governo obriga a empresa a gastar esse montante (sendo aproximadamente metade com o salário formal e a outra metade com os encargos), então das duas, uma: ou a contratação ocorrerá “por fora”, sem carteira, ou não haverá contratação e o trabalhador continuará desempregado.
Não tem muito mistério. É a lei da economia, aquela da qual a esquerda foge como o diabo foge da cruz. A esquerda quer decretar o fim da lei por puro arbítrio, como se isso fosse possível. É análogo a alguém “decretar” o fim da lei da gravidade, e logo depois pular do alto de um prédio no afã de flanar em vez de cair. O resultado, ao menos para as pessoas lógicas e sãs, é totalmente previsível.
O discurso sindicalista da esquerda pode acenar aos que já estão empregados e, por ignorância, acham que basta “vontade política” para melhorar sua situação, numa luta de classes marxista em que o estado interfere como ente altruísta em prol do explorado e contra o explorador. Mas ele deixa de fora mais da metade da mão de obra, que ou está sujeita à informalidade, sem conquista legal alguma, ou está em busca de emprego, sem sucesso.
O maior inimigo do trabalhador não é o empresário que quer aumentar seu lucro; é o esquerdista que vem cheio de afago retórico mas, na prática, lança o pobre do trabalhador às feras da informalidade ou do desemprego. E quanto mais pobre e menos produtivo for esse trabalhador, maiores as chances de ele ser devorado. Alguém fica surpreso com o fato de que a esquerda atrai mesmo “intelectuais”, funcionários públicos acomodados e sindicalistas, e não os verdadeiros trabalhadores?
Rodrigo Constantino
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