Por Bourdin Burke, publicado pelo Instituto Liberal
Em março deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral resolveu gastar dinheiro dos pagadores de impostos lançando uma campanha intitulada “Igualdade na Política”, cujo objetivo consistiu em incentivar a participação feminina nos pleitos eleitorais. Conforme declaração do presidente do órgão, seria missão precípua do Estado brasileiro corrigir a discrepância entre o número de mulheres em nossa sociedade e sua representação em cargos eletivos.
Com este intuito, até mesmo estipular cotas de candidatas por partido (já em vigor) ou o número mínimo de mulheres em casas legislativas (iniciativa que já tramita como PEC no Senado) seriam medidas perfeitamente justificáveis. De se lamentar que a lógica – bem como a busca pela eficiência e pelo interesse público –, esta velha inimiga do discurso feminista e vitimista, não dê suporte a nada disso.
Uma das peças publicitárias divulgadas pelo TSE torna evidente, a partir das informações que ela própria veicula, esta contradição: segundo consta, 51% do eleitorado nacional é composto por mulheres – ao passo que elas ocupam apenas 9% das vagas em cargos políticos. Ressalte-se ainda que, nas eleições municipais de 2016, pela primeira vez, o eleitorado feminino será maior que o masculino nos 26 estados onde haverá votação no dia 2 de outubro.
E aí está o pulo do gato: se a maior parte dos cidadãos que irão votar são do sexo feminino, elas poderiam, em tese, eleger todas (sim, todas) as candidatas nesta eleição, sem precisar de nenhuma tutela estatal que lhes confira privilégios e tratamento diferenciado. Elas poderiam simplesmente defenestrar grande parte dos homens da política, se assim o quisessem. Só que, aparentemente, elas não querem. Por qual razão?
Mas alguém poderia alegar que o número de mulheres que se filiam aos partidos políticos ainda é relativamente baixo. De fato, nas eleições de 2016, 31% dos candidatos são do sexo feminino. Até mesmo o Partido da Mulher Brasileira (PMB) registrou apenas 43% de candidatas. Todavia, as questões que merecem ser levantadas aqui são: há mulheres interessadas em participar do mundo político para alavancar essas estatísticas? Há registro de partidos políticos rejeitando mulheres que gostariam de disputar cargos? A resposta para estas perguntas podem ser encontradas na dificuldade de muitos partidos em preencher a cota mínima de candidatas.
Ou seja, se, por razões de ordem diversa, as mulheres do Brasil preferem manter-se afastadas do ambiente político, não é o Estado quem deveria empurrá-las “na marra” para os palanques eleitorais. Na verdade, elas não deveriam ser constrangidas a seguir carreiras de espécie alguma, e sim encorajadas a fazer o que bem entendessem de suas vidas – inclusive, se for de sua vontade, cuidar do lar e dos filhos. Mas é claro que os partidários da agenda feminista não concordam comigo. Quem sabe, na opinião destes, o próximo estágio não seja, então, demandar cotas femininas em todas as profissões; já passou da hora de termos mulheres laborando como estivadoras nos portos e jogadoras de futebol americano, não é mesmo?
“Ah, mas o meio político é muito machista, e por isso as mulheres querem dele distância”. Bom, neste caso, a solução é simples: bastaria que as interessadas formassem novos partidos políticos compostos majoritariamente por mulheres. E, uma vez mais, a predominância feminina no eleitorado facilitaria a missão: a Lei nº 9.096/1995 admite o registro de partido político de caráter nacional caso seja comprovado o apoiamento de um número mínimo de eleitores. E, levando em conta os índices alardeados pelo próprio TSE (os tais 51% de eleitoras), elas poderiam promover tal empreitada sem grande esforço. E, notadamente, sem socorrer-se do Estado. Aliás, seria especialmente interessante se um partido que pregasse os fundamentos do livre mercado fosse formado essencialmente por mulheres, uma vez que o capitalismo desempenhou papel fundamental na emancipação feminina nos últimos 200 anos. Contariam com meu voto, certamente!
O TSE tenta induzir as mulheres a interpretarem o papel de “vítimas da sociedade patriarcal”, em mais um capítulo do esforço patético e recorrente de formar “minorias”, as quais necessitariam do suporte do Estado em suas vidas, sem o qual não seriam capazes nem de dar dois passos em frente. Só que escolheram muito mal seus potenciais objetos de massa de manobra: as mulheres já deram diversos exemplos na história de que elas, de fracas e dependentes, não têm é nada – Margareth Thatcher, Joice Hasselmann e Janaína Paschoal não me deixam mentir. Mas candidatas com este perfil a esquerda não endossaria, por certo. Quer apostar?
Aliás, resolver esse imbróglio todo poderia ser muito mais descomplicado do que se imagina – seria possível, inclusive, canalizar o dinheiro desperdiçado nessas campanhas publicitárias para a Saúde, por exemplo. Bastaria seguir algumas orientações da cartilha “progressista”, segunda a qual o gênero do indivíduo é autodeclarável – muito embora nem todos concordem com isso. Quem sabe alguns candidatos não pudessem, então, declarar que se sentem mulheres, até atingir o número mínimo pretendido pelo TSE, e pronto. A genialidade da simplicidade resolvendo mais um conflito…
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