Por Bernardo Santoro, publicado no Instituto Liberal
A população de Hamburgo, na Alemanha, em referendo realizado anteontem, votou pela retirada da candidatura da cidade às Olimpíadas de 2024. De acordo com as notícias locais, os cidadãos votaram contra a candidatura por uma série de motivos.
O primeiro deles é a desconfiança quanto à seriedade dos dirigentes vinculados ao Comitê Olímpico Alemão. O presidente do comitê organizador da Copa de 2006, o último grande evento esportivo na Alemanha, o ex-jogador Beckenbauer, foi recentemente acusado de ter recebido 7,6 milhões de dólares (quase trinta milhões de reais) pela realização do evento via FIFA. Quando um herói nacional cai moralmente perante a nação, certamente que se cria uma atmosfera de ceticismo quanto aos cartolas.
Aqui no Brasil, o presidente do Comitê Olímpico e organizador das olimpíadas, Carlos Arthur Nuzman, já viu seu nome envolvido no recente escândalo de corrupção na CBV, onde foi presidente, bem como tem tido diversos problemas junto ao TCU, especialmente no que tange a acumulação de cargos.
O segundo motivo da rejeição alemã é a incerteza quanto ao orçamento a ser utilizado, que eles acham alto demais. Segundo o Comitê local, as Olimpíadas custariam 30 bilhões de reais, e o povo alemão entende que há destinação melhor para esses recursos.
A estimativa de custos das olimpíadas do Rio começou em 10 bilhões e já chega a 40 bilhões de reais, em obras de difícil justificativa. O chamado “legado das Olimpíadas” soa, nesse momento, como falácia, pois as obras de infraestrutura poderiam ser feitas sem a justificativa das olimpíadas a um custo muito menor. E os aparelhos esportivos tendem a ter pouca ou nenhuma função. Campo de golfe e o complexo de Deodoro serão subutilizados, como já foram o Parque Aquático Maria Lenk e o Velódromo do PAN 2007 (este último já derrubado). A arena multiesportiva funciona como casa de shows e o Engenhão já parou para reformas com menos de dez anos de uso. As obras com justificativa, como o metrô, poderiam ser feitas sem necessidade do evento esportivo, que é totalmente dispensável.
O terceiro motivo é a segurança. Em um momento onde há uma conturbada e polêmica onda migratória muçulmana na Europa, com ataques terroristas recentes, a Alemanha prefere não se ver envolta em mais um problema.
O Brasil é um país conhecido por sua fragilidade na segurança pública (em várias cidades brasileiras os índices de homicídio são superiores, em tempos de paz, aos índices de Bagdá em tempo de guerra). Recentemente a Presidente Dilma ainda assinou um decreto suspendendo a necessidade de visto nos próximos anos. Nossa cidade tem como símbolo o Cristo Redentor, imagem da fé predominante da nossa cultura, que se opôs historicamente à cultura muçulmana. Essa não é uma boa mistura.
Por tudo o que foi exposto, fica claro que o povo alemão entende a necessidade de governos mais austeros, preocupados com o funcionamento ordinário da sociedade e com foco nas reais necessidades básicas da população, em especial a segurança pública, sem se preocupar com saltos de investimento, sempre obscuros e com finalidade duvidosa. Não é à toa que o partido democrata cristão, de Angela Merkel, vence as eleições ininterruptamente há mais de uma década. A Alemanha decidiu seguir um caminho de prudência e crescimento contínuo e duradouro. Essa política sempre rende bons frutos.
Seria muito bom se os brasileiros, e os cariocas em especial, aprendessem mais essa lição alemã.
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