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escrevi um texto sobre doenças mentais e o movimento antimanicomial, mas volto ao tema após ler uma longa reportagem do GLOBO de hoje mostrando pacientes psiquiátricos que, após anos de internação, desfrutam de uma nova vida em residências terapêuticas. O tom da matéria é sensacionalista, destacando algumas pobres mulheres que teriam sofrido muito nas internações, e agora finalmente poderão sair para curtir coisas básicas, como um refrigerante. Diz o jornal:

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As três mulheres têm em comum longos anos de internação psiquiátrica, que deixaram nelas marcas como o hábito de andarem sempre coladas a seus pertences. E, agora, as três encaram uma nova fase: mudaram-se há poucos dias para casas assistidas pelos Centros de Atenção Psicossociais (CAPs) do município do Rio.

Hoje, cerca de 460 pessoas vivem em 89 dessas casas — residências terapêuticas mantidas pela Secretaria Municipal de Saúde no Rio, que também fornece uma bolsa de um salário mínimo aos ex-internos de hospitais psiquiátricos públicos. A ideia é que abram caminho para sua reinserção na sociedade.

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Dias antes de deixar o Núcleo Rodrigues Caldas, também na Juliano Moreira, a expectativa de Claudio de Lima Moura, de 44 anos, internado há quatro, era grande. Ele chegou na semana passada, recebido por um churrasco, a uma residência terapêutica em Campo Grande, Zona Oeste do Rio. Para ele, a mudança não seria um problema. “Vou me virar”, dizia, contando o que queria fazer longe da internação:

— Vou ligar o ventilador. Passear na praça, soltar pipa. Comprar uma garrafinha de guaraná natural e uma pizza.

[…]

— Algo que as famílias consideravam uma aberração virava motivo para internar. Hoje, com essa lei, isso não é permitido. A doença mental deve ser encarada como outra qualquer, sem o estigma de que é alguém que precisa ser excluído — diz a diretora do CAPS III Arthur Bispo do Rosário, Carla Cavalcante Paes Leme.

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A ideia de que o paciente não deve viver recluso e que, a todo momento, deve-se pensar em sua reinserção social é uma das premissas dessa reforma psiquiátrica.

Diante disso, Maria Helena Silva, coordenadora de segmento pelo CAPS Profeta Gentileza, define residências terapêuticas como “possibilidades de vida e liberdade”, diferentemente dos hospitais psiquiátricos e suas regras institucionalizadas.

— Na residência terapêutica não existe hora de acordar, de almoçar. Eles é que dizem como querem viver. E nós construímos junto a chegada e a permanência. Eles deixam de ser pacientes e passam a ser moradores de sua própria casa.

Em primeiro lugar, é impossível não se sensibilizar com o sofrimento daqueles que possuem doenças mentais, e também de seus familiares. Claro que o ideal seria fazer tudo que for possível para reinseri-los na vida social. Mas há uma visão muito romanceada da doença mental, do tipo “maluco beleza”, como se todos fossem inofensivos. E eis o problema: não são. Casos de esquizofrenia ou bipolaridade não tratados podem desenvolver quadros bem agressivos, e colocar em perigo inocentes, inclusive familiares.

Recentemente, Andrew Klavan, do DailyWire (Ben Shapiro), conversou com um psiquiatra sobre o assunto. DJ Jaffe, do Manhattan Institute, diz ser um “liberal” (no sentido americano), mas que só conservadores querem conversar com ele. O motivo? Sua mensagem, calcada na ciência, não agrada a visão estética e romântica dos esquerdistas, que querem enxergar a doença mental com lentes rosadas.

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Essa postura “benevolente”, porém, acaba prejudicando mais justamente os doentes mentais. A sociedade vira as costas para seus problemas ao dourar a pílula, ao fingir que tais doenças são bobagem. Uns 4% da população, segundo Jaffe, sofrem de doenças mentais sérias, que precisam de tratamento. Sem esse tratamento, há grande risco de violência, de comportamento agressivo. Não tem nada a ver com a visão de um “maluco beleza” que chega a ser engraçada para muitos. A entrevista começa aos 28 minutos:

Não resta dúvida de que alguns casos de doenças mentais demandam intervenção, internação compulsória, para tratamento forçado. A alternativa é deixar gente que pode acabar fazendo coisas terríveis consigo mesmo ou com terceiros, às vezes familiares, circulando livre por aí, em nome de um falso conforto para aqueles que não suportam o real e precisam de ilusões.

Sem esse tratamento, esses doentes apresentam probabilidade muito maior de serem presos por comportamentos ilegais. Com o devido tratamento, esquizofrênicos e bipolares em fase de mania podem levar vidas relativamente normais. Sem tratamento, o risco de agressividade sobe exponencialmente. Ignorar isso é trair esses doentes.

Não há prevenção para essas doenças, que tampouco estão ligadas às questões sociais, como pensam os “progressistas”. Não é compaixão fingir que são como todos os outros, ou que sequer o conceito de normalidade faz sentido. Um bipolar maníaco não precisa de um “assistente social” para lidar com tristeza, e sim de remédios para conter a doença. Ele precisa de tratamento químico acima de tudo. Reconhecer isso não é ser insensível; ao contrário: é desejar realmente ajudar aqueles que precisam de ajuda.

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PS: Recomendo aos interessados no assunto o filme “Touched With Fire”, com Kate Holmes, que trata da bipolaridade sem romantismo ou ilusão, mostrando como a doença pode, sim, fomentar um lado mais criativo na pessoa, mas normalmente com um elevadíssimo custo para sua vida – e de seus familiares.

Rodrigo Constantino