![Manifestação: risco é comprar Paulo Guedes e levar Olavo de Carvalho Manifestação: risco é comprar Paulo Guedes e levar Olavo de Carvalho](https://media.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/2019/05/kim-be77d666.png)
As manifestações governistas “espontâneas” continuam gerando divisão na direita. Mas é preciso admitir: ganharam adesões importantes, de gente mais moderada, de empresários que querem de fato focar na aprovação das reformas. É preciso respeitar quem apoia, assim como é preciso respeitar quem considera um erro essa estratégia.
E eis o ponto que tem sido ignorado por muitos: os grupos organizadores são bem próximos do bolsonarismo e adotam postura radical, inclusive com retórica antipolítica que demoniza o Congresso. É uma linha de “raciocínio” que transforma todos os deputados e senadores em bandidos, enquanto enxerga Bolsonaro como a “vontade geral” incorporada num sujeito “imaculado”.
Para narrativa adolescente esse maniqueísmo vende bem. Para seduzir quantidade, sem qualidade, serve, pois fala aos mais ignorantes revoltados com a situação do país, e que aceitaram o discurso de que o Congresso é o “centrão fisiológico”, que ninguém presta, só o presidente, e que o Poder Executivo deve ter poderes ilimitados para impor os desejos do “povo”.
Mas não é discurso sério, democrático e tampouco ajuda na aprovação das reformas de fato. Entendo, portanto, quem está apoiando a reforma com base em suas novas bandeiras mais moderadas e objetivas, em apoio às reformas e ao combate ao crime, mas é preciso respeitar quem não se sente à vontade ao lado de malucos jacobinos inspirados em Steve Bannon e Olavo de Carvalho.
O guru dessa seita, aliás, prometeu ficar quieto, mas não consegue, e continua atacando tudo e todos. Faz campanha aberta contra o MBL, tenta ridicularizar até a qualidade musical de Lobão, e cria apelidos pejorativos para desafetos, como fez com Kim Kataguiri, um dos deputados que mais lutam pela reforma previdenciária no Congresso. Recebeu a resposta que merecia:
Decência realmente não tem ligação com idade. A postura de Olavo produz apenas cizânia, divisão, e não por acaso ele conseguiu brigar com praticamente todos os importantes formadores de opinião da direita. A narrativa dos discípulos da seita é de que é tudo fruto da inveja, de que todos gostariam de ser Olavo. Pura projeção, Freud explica. Mas o fato é que Olavo dissemina ódio e baixaria, e faz isso em nome do conservadorismo. E ainda é condecorado pelo presidente!
Claro que os liberais e conservadores não podem ficar calados. Deu muito trabalho construir um movimento liberal-conservador para vê-lo passivamente ser jogado no lixo ao se confundir com o olavismo. Reagir é preciso. Olavo se cerca apenas de bajuladores, não de alunos independentes. Todos ali vivem à sua sombra, reverenciando o “mestre” que “está sempre certo”. O professor Francisco Razzo, conservador, questionou:
Em suma, como já venho apontando faz tempo, há uma “direita” que adota postura reacionária, autoritária, populista, e totalmente intolerante. E foi essa “direita” que mobilizou a manifestação pró-governo, com o claro intuito de demonizar o Congresso e o STF (que merecem críticas, claro). É absolutamente compreensível, portanto, o receio da outra direita, aquela liberal e conservadora, de participar de ato ao lado dessa turma.
Sim, as pautas estão definidas e são mais moderadas. Sim, apoiar a reforma previdenciária é fundamental, algo que Kim e o MBL têm feito, enquanto Olavo nem abre a boca sobre o assunto. Mas o perigo é endossar uma pauta e acabar fortalecendo outra, de quem quer mesmo detonar o Legislativo pois embarcou na crença de que ali só tem bandido e que o presidente precisa impor a “vontade geral”.
O risco, em outras palavras, é comprar Paulo Guedes, mas levar Olavo de Carvalho. Não por acaso o mais olavete dos funcionários do governo está todo animado nas redes sociais, bastante ouriçado, fomentando sua revolução do conforto do escritório. Não tenhais medo! E os filhotes de Bannon jogam lenha na fogueira de forma irresponsável, atiçando quem quer, de fato, fechar o Congresso na marra e mandar “um cabo e um soldado” para o STF.
Gente séria debate meios, enquanto demagogos monopolizam os fins nobres e atacam espantalhos. Quem é contra os métodos dessa ala radical do bolsonarismo não necessariamente é contra seus fins, e tampouco defende corruptos do “centrão”. O debate de adultos é outro: como avançar de fato, entregando resultados, e preservando as instituições democráticas.
Mas há quem troque essa discussão séria por curtidas e mitadas. Quantidade não é qualidade. O tempo vai julgar quem está se aproveitando da indignação popular para estimular um regime populista autoritário, e ainda por cima em nome do bom e velho conservadorismo. Não passarão!
Rodrigo Constantino
-
Novo embate entre Musk e Moraes expõe caso de censura sobre a esquerda
-
Biden da Silva ofende Bolsonaro, opositores e antecipa eleições de 2026; acompanhe o Sem Rodeios
-
Qual o impacto da descriminalização da maconha para os municípios
-
Qual seria o melhor adversário democrata para concorrer com Donald Trump? Participe da enquete
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião