As manifestações governistas “espontâneas” continuam gerando divisão na direita. Mas é preciso admitir: ganharam adesões importantes, de gente mais moderada, de empresários que querem de fato focar na aprovação das reformas. É preciso respeitar quem apoia, assim como é preciso respeitar quem considera um erro essa estratégia.
E eis o ponto que tem sido ignorado por muitos: os grupos organizadores são bem próximos do bolsonarismo e adotam postura radical, inclusive com retórica antipolítica que demoniza o Congresso. É uma linha de “raciocínio” que transforma todos os deputados e senadores em bandidos, enquanto enxerga Bolsonaro como a “vontade geral” incorporada num sujeito “imaculado”.
Para narrativa adolescente esse maniqueísmo vende bem. Para seduzir quantidade, sem qualidade, serve, pois fala aos mais ignorantes revoltados com a situação do país, e que aceitaram o discurso de que o Congresso é o “centrão fisiológico”, que ninguém presta, só o presidente, e que o Poder Executivo deve ter poderes ilimitados para impor os desejos do “povo”.
Mas não é discurso sério, democrático e tampouco ajuda na aprovação das reformas de fato. Entendo, portanto, quem está apoiando a reforma com base em suas novas bandeiras mais moderadas e objetivas, em apoio às reformas e ao combate ao crime, mas é preciso respeitar quem não se sente à vontade ao lado de malucos jacobinos inspirados em Steve Bannon e Olavo de Carvalho.
O guru dessa seita, aliás, prometeu ficar quieto, mas não consegue, e continua atacando tudo e todos. Faz campanha aberta contra o MBL, tenta ridicularizar até a qualidade musical de Lobão, e cria apelidos pejorativos para desafetos, como fez com Kim Kataguiri, um dos deputados que mais lutam pela reforma previdenciária no Congresso. Recebeu a resposta que merecia:
Decência realmente não tem ligação com idade. A postura de Olavo produz apenas cizânia, divisão, e não por acaso ele conseguiu brigar com praticamente todos os importantes formadores de opinião da direita. A narrativa dos discípulos da seita é de que é tudo fruto da inveja, de que todos gostariam de ser Olavo. Pura projeção, Freud explica. Mas o fato é que Olavo dissemina ódio e baixaria, e faz isso em nome do conservadorismo. E ainda é condecorado pelo presidente!
Claro que os liberais e conservadores não podem ficar calados. Deu muito trabalho construir um movimento liberal-conservador para vê-lo passivamente ser jogado no lixo ao se confundir com o olavismo. Reagir é preciso. Olavo se cerca apenas de bajuladores, não de alunos independentes. Todos ali vivem à sua sombra, reverenciando o “mestre” que “está sempre certo”. O professor Francisco Razzo, conservador, questionou:
Em suma, como já venho apontando faz tempo, há uma “direita” que adota postura reacionária, autoritária, populista, e totalmente intolerante. E foi essa “direita” que mobilizou a manifestação pró-governo, com o claro intuito de demonizar o Congresso e o STF (que merecem críticas, claro). É absolutamente compreensível, portanto, o receio da outra direita, aquela liberal e conservadora, de participar de ato ao lado dessa turma.
Sim, as pautas estão definidas e são mais moderadas. Sim, apoiar a reforma previdenciária é fundamental, algo que Kim e o MBL têm feito, enquanto Olavo nem abre a boca sobre o assunto. Mas o perigo é endossar uma pauta e acabar fortalecendo outra, de quem quer mesmo detonar o Legislativo pois embarcou na crença de que ali só tem bandido e que o presidente precisa impor a “vontade geral”.
O risco, em outras palavras, é comprar Paulo Guedes, mas levar Olavo de Carvalho. Não por acaso o mais olavete dos funcionários do governo está todo animado nas redes sociais, bastante ouriçado, fomentando sua revolução do conforto do escritório. Não tenhais medo! E os filhotes de Bannon jogam lenha na fogueira de forma irresponsável, atiçando quem quer, de fato, fechar o Congresso na marra e mandar “um cabo e um soldado” para o STF.
Gente séria debate meios, enquanto demagogos monopolizam os fins nobres e atacam espantalhos. Quem é contra os métodos dessa ala radical do bolsonarismo não necessariamente é contra seus fins, e tampouco defende corruptos do “centrão”. O debate de adultos é outro: como avançar de fato, entregando resultados, e preservando as instituições democráticas.
Mas há quem troque essa discussão séria por curtidas e mitadas. Quantidade não é qualidade. O tempo vai julgar quem está se aproveitando da indignação popular para estimular um regime populista autoritário, e ainda por cima em nome do bom e velho conservadorismo. Não passarão!
Rodrigo Constantino
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