Por Antonio Pinho, publicado pelo Instituto Liberal
Nesta segunda-feira houve manifestações pelo Brasil pedindo “intervenção militar”. Em São Paulo e Porto Alegre, por exemplo, alguns manifestantes se reuniram para clamar que os militares destituam o atual governo para implantar um novo regime militar. Em São Paulo chegaram a bloquear a marginal Pinheiros e três foram detidos pela PM. Em Porto Alegre havia até faixas em inglês. Certamente queriam que sua mensagem circulasse pelo mundo. Não sei em quantas cidades ocorreram essas manifestações, mas em São Paulo e Porto Alegre o número de manifestantes ficou em apenas algumas dezenas. E ainda bem que foram poucos. Mesmo assim, infelizmente, para a direita os estragos foram feitos.
>Não é possível apoiar essa ala da direita que pede intervenção militar. Primeiramente, é ser muito utópico, inocente, achar que os militarem sairão do conforto de seus empregos vitalícios para se arriscar num plano desses. Os altos escalões das forças armadas possuem bons salários – não discutirei aqui se são ou não os salários ideais –, e duvido que eles colocariam isso em jogo por algo tão arriscado como destituir o presidente.
Contudo, o mais importante é o erro estratégico que tais manifestações representam. Criam uma direita caricata. “Os conservadores sentem saudades do regime militar”: esta é a caricatura que a esquerda propaga há décadas, caricatura esta que, obviamente, não representa toda a verdade. A prova foi o baixo número de adesões às manifestações desta segunda-feira. Sinceramente, se eu fosse um esquerdista infiltrado alimentaria o movimento intervencionista, ajudaria a organizar manifestações pela volta dos militares. Isso é ótimo para a esquerda. Para eles é ótimo que se crie e se alimente uma caricatura da direita. Assim a esquerda pode acusar: “olhem lá como a direita quer a volta da ditadura; vejam como eles odeiam a democracia”. Alimenta-se com isso a mentira de que o conservador é sempre um antidemocrático, um amante de ditaduras.
A volta dos militares ao poder é o melhor para o Brasil? Obviamente que não. A esquerda por muito tempo deteve o monopólio das virtudes, e o regime militar contribuiu muito para isso. Ser de esquerda ganhou uma aura de santidade justamente pela repressão que os militares fizeram ao terrorismo de esquerda e à luta armada. Ora, “quem é perseguido, o é por que luta por algo bom”, muitos assim devem pensar. Desta forma, foram os próprios militares que ajudaram a esquerda a criar para si uma imagem de virtuosa, que luta por algo bom. A esquerda fez centenas de filmes e documentários para provar esta tese falsa.
O governo PT foi uma desgraça, mas pelo menos serviu para algo. O fracasso da era PT demonstrou para as massas que a esquerda não é virtuosa, nem luta por algo bom. As grandes manifestações que ajudaram a derrubar o PT demonstram isso. O povo acordou e a máscara de santidade da esquerda caiu, ela não existe mais. Há uma mentalidade conservadora e liberal que se propaga pelos jovens.
A probabilidade é nula, mas imaginemos que os militares dessem um golpe e assumissem o poder. A máscara de santidade voltaria na mesma hora ao rosto da esquerda, que mais adiante voltaria mais forte do que nunca. Os intervencionistas não aprenderam com a experiência da história.
Sobre o autor: Antonio Pinho é mestre, bacharel e licenciado em Letras pela UFSC, e atua como professor.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião