Quando soube que o governo Bolsonaro havia decidido manter a estatal EBC, dona da TV Brasil (mais conhecida como TV traço ou TV Lula), logo escrevi uma dura crítica. Acho inaceitável isso, e vai contra a promessa de campanha de privatizações. Entende-se preservar Caixa, Banco do Brasil e Petrobras por ora e por cálculo político pragmático. Mas não faz sentido algum manter uma estatal com um canal de televisão.
Pior ainda do que manter a estatal, porém, é apostar numa “restruturação” fajuta, liderada por um funcionário de carreira que vem dos tempos de outros governos. Conversei com uma fonte da empresa, que trabalhou lá por alguns anos, e ela me assegurou de que as “mudanças” estão sendo cosméticas e beneficiando apenas os companheiros e aliados do presidente da empresa, sem qualquer alinhamento ideológico com Bolsonaro ou a direita.
Claro, uma TV estatal não deveria ter qualquer ideologia a princípio. Na verdade, sequer deveria existir, como já disse. Mas dá para entender o apelo: após décadas de puro viés esquerdista, seria natural que um canal nas mãos de gente ligada a Bolsonaro desse uma guinada à direita, focando em produções de conteúdo que resgatassem valores morais, a família e as tradições.
Como liberal e movido por princípios, continuaria condenando isso, pois não acho que os “nobres fins” justificam quaisquer meios. Mas seria ao menos compreensível do ponto de vista do pragmatismo, para reverter o estrago causado pelo aparelhamento socialista. Segundo minha fonte, contudo, esse está longe de ser o caso. A estatal foi mantida só para alimentar elevados salários de seus funcionários mesmo, nada mais.
A reestruturação equivocada, diz a fonte, é a continuidade de uma administração que preserva Brasília e dizima o Rio de Janeiro, onde há décadas estaria a “alma” da empresa. A sede de Brasília, até hoje, e mesmo com essa suposta reestruturação comandada pelo presidente interino Luiz Antonio Ferreira, preserva toda a estrutura criada pelo PT, segundo minha fonte.
Só o aluguel da sede de Brasília, no subsolo de um shopping de luxo, consome R$ 1 milhão por mês da companhia. É o luxo dos funcionários bancado por nossos impostos. O Rio de Janeiro, ao contrário, tem 11 prédios, a maioria em estado deplorável. O presidente interino deixou a companhia metade do ano de 2017 sem manutenção predial, praticamente abandonada.
A administração atual criou várias nomenclaturas de cargos, especialmente na administração, para abrigar amigos e familiares, acusa a fonte. O presidente interino persegue quem não está alinhado com suas ideias. A lista de cargos comissionados cortados em sua primeira iniciativa elimina quem discorda e preserva altos salários de amigos e aliados. A diretoria de produção e conteúdo mantém quadro de comissionados do Rio com petistas.
O presidente interino é alvo de denúncias do analista Robert Mendes, que já acionou Polícia Federal, Ministério Público Federal e Ministério Público do Trabalho. Ele alega que a EBC já gastou R$ 300 milhões em 10 anos com a empresa Valle Video, em prestação de serviços sem comprovação e com contratação direta por dispensa de licitação. É preciso aguardar apuração, mas se trata de uma denúncia gravíssima.
O presidente Bolsonaro deveria mergulhar mais a fundo nessas questões e entender o que se passa na EBC. O ideal, volto a insistir, seria simplesmente fechar a estatal. Mas, se a decisão de mante-la for mesmo definitiva, que ao menos ela passe por uma restruturação real, eliminando as benesses dos diretores e investindo em produção de conteúdo para valer, de preferência sem o viés esquerdista. Era só o que faltava mesmo um governo de direita preservar uma estatal repleta de petistas…
Rodrigo Constantino