Por Lucas Berlanza, publicado no Instituto Liberal
Camaleônica e mutante, a esquerda moderna assumiu configurações muito diferentes na história brasileira, tentando adequá-las ao que tendia a ser mais bem-sucedido. No século XX, depois das grandes greves, protagonizadas por anarquistas e socialistas, os comunistas clássicos e o “Partidão” tomaram a cena, transitando entre a clandestinidade e uma legalidade mal vista, ladeados do nacional-populismo trabalhista. Na Nova República, os sociais democratas do PSDB, também frutos do cenário possibilitado pelos nacional-desenvolvimentistas vagos do PMDB original, abriram as portas para a mescla de sindicalismo rústico, trabalhismo pré-histórico, Gramscismo, Teologia da Libertação e “socialismo do século XXI” que compõe o petismo e seu projeto de poder, cujos resultados nefastos ainda atuam e se farão sentir por muito tempo – mas já parecem exigir um “retrabalho”, uma nova estética, uma nova síntese, que revigore a ilusão de sempre com uma roupagem moderna, atraente, pseudo-intelectualizada.
A esquerda brasileira pode hoje estar procurando, não o seu novo Lula, mas o seu Barack Obama – a figura mais cheirosinha, moderninha, eivada de “bom mocismo”, com um discurso mais articulado e “prafrentex”, que empolgue as juventudes e permita prometer novamente o mundo de sonhos. O pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (sic), Marcelo Freixo, pode ser essa pessoa, e por isso precisamos prestar atenção nele. A nova iniciativa do partido na cidade, a campanha Se a cidade fosse nossa, dá todo o tom da imagem e da retórica que eles pretendem reforçar, no que é obviamente o início da propaganda da legenda. A retórica, coletivista e populista, que não deixa de expressar a verdadeira essência do propósito – afinal, no fundo, o que os socialistas radicais do PSOL desejam é que a cidade seja DELES mesmo, e não de todos os cidadãos e empreendedores -, apela à mesma estética dos “conselhos populares” que as esquerdas tentaram implementar sob o tacão do PT, visando o “fortalecimento da democracia” através de “consulta popular e de controle social nos processos de tomada de decisão”, promovendo uma “reforma institucional” e a “transformação do poder e da forma de exercê-lo”; querem criar, assim, uma estratégia de “mobilização popular para superar o atual modelo de cidade, baseado na falta de transparência pública, na desigualdade social, na destruição ambiental, no patrimonialismo, no racismo, no machismo, na homofobia e no fundamentalismo religioso”.
Você, que é um pouquinho mais “treinado”, já pôde sentir que esse palavreado típico continuará servindo, como sempre serviu, para desqualificar qualquer posição liberal ou conservadora na sociedade, de modo a selecionar o que interessa ao partido e o que não interessa. Vamos deixar o “povo” falar, vamos deixar o “povo” se manifestar – desde que o “povo” concorde com os “iluminados movimentos sociais” e abrace as nossas lindas agendas de correção dos conflitos da humanidade! Se não concordar, é “conservador reaça homofóbico machista racista fundamentalista religioso”, ou seja, é parte do problema, e não do “povo” a quem se quer oferecer soluções. Quem aposta que a postura será diferente e que sugestões, por exemplo, que supliquem por mais liberdade econômica ou empreendedorismo serão admitidas com a mesma consideração, é no mínimo ingênuo.
Vamos dar uma olhadinha, então, em quais são as brilhantes perspectivas do pessoal do PSOL, em sua iniciativa apoiada por figuras como Frei Betto, eterno defensor do regime cubano, e Guilherme Boulos – coordenador dos terroristas do MTST, dos mesmos vagabundos que acabaram de agredir o MBL em Brasília no acampamento pró-impeachment de Dilma -, para a nossa querida Cidade Maravilhosa. Passeando pelos vídeos e sugestões em destaque no portal e na página da campanha psolista nas redes sociais, fica explícito o tom que querem adotar. A começar pela ênfase no discurso de que “transporte coletivo, saúde, moradia, educação, bla, bla bla” são “direitos” e por isso nada em sua esfera pode ser submetido à lógica do mercado. O transporte tem que ser “público”, de “todos”, e não dos malditos capitalistas amigos do prefeito Eduardo Paes.
Parece lindo para os incautos revoltados, até, com problemas reais, mas é a mesma mentalidade obtusa que esses socialistas lunáticos usam para defender bandeiras como a estatização de todos os transportes, por exemplo. Não conseguem conceber os benefícios do mercado para a sociedade como um todo, o salto de eficiência que ele produz. Com base nesse discurso, ainda estaríamos no atraso pré-reformas privatizantes, iniciadas no governo Collor e levadas a efeito, com suas limitações, pelos tucanos, na linha do Plano Real. Estamos vivendo, em âmbito federal, um trauma histórico, uma crise de corrupção sem precedentes nas estatais sob o lulopetismo, e aparentemente não aprendemos nada com isso; continuaremos a apontar as empreiteiras, as empresas de ônibus, isto é, o lado do esquema que pertence ao setor privado, como o grande mal a ser extirpado, quando o xis da questão está precisamente na sua hibridização com o Estado, na sua mescla com a classe burocrática e política, nas vantagens indevidas que recebem ao se aproximar dos “reis” e “rainhas”. O componente político é o eixo fundamental desses esquemas de corrupção, que não têm nada a ver com mercado livre ou capitalismo, mas sim com o Capitalismo de Estado e compadrio imperante no país. Os iluminados socialistas, entre eles os “sonháticos” do PSOL, querem resolver isso aumentando o Estado, abocanhando mais recursos públicos e, com isso, abrindo caminho para mais corrupção. Gênios do futuro ou arautos do desastre passado?
Nossos olhos passeiam ainda por outras belezinhas na lista… Inspirar-se na França e adotar, como política pública, via incentivos fiscais, a cobertura de todos os prédios da cidade com plantas, para que o Rio vire uma imensa selva verde; construir palcos fixos para os artistas de rua se exibirem; criar mais áreas livres para fazer grafites pelas ruas. Segurança pública? O pessoal do PSOL, que adora fazer coro com os “direitos humanos” contra o porte de armas e a redução da maioridade penal e em defesa dos pobres bandidos “sem educação e vida digna”, vai sempre anatematizar, de forma mais ou menos sutil, as forças policiais – enquanto isso, é claro, Freixo pode andar cercado por seus seguranças, benefício de que o povo sofrido do Rio não pode desfrutar. O desenho é evidente; a narrativa é de que nossa cidade está tomada pelos “neoliberais malvados” e precisamos do nosso Barack Obama particular para tornar realidade uma cidade de sonhos, paz e amor. A receita para criar essa cidade de sonhos é fazê-la à imagem e semelhança da esquerda festiva (para Nelson Rodrigues, caviar para Rodrigo Constantino), das feministas pela ideologia de gênero militando peladas com pêlo no suvaco, dos estudantes esquerdistas de universidade com suas barbas desgrenhadas e sujas com doses rotineiras de erva alucinógena e seus trajes hippies pedindo a harmonia universal, dos Chicos Buarques e Beths Carvalhos rendendo loas a regimes comunistas e guerrilheiros másculos enquanto entoam musiquinhas contra a opressão terrível do capitalismo ou atacam os “malditos ianques” de seus apartamentos no Leblon ou em Paris. É essa a cidade que eles querem; um Rio de Janeiro socialista, inseguro, mais violento do que nunca, mas enfeitado por uma estética brega toda vida, como uma enorme plantação de maconha que fará tudo parecer lindo e maravilhoso!
Só que não. Além de achar tudo isso desastroso, insuportável e neolítico, esse projeto de nos afastar ainda mais da civilização e nos devolver às cavernas com um colorido de ursinhos carinhosos é feio, fedido, sujo e repulsivo. Eu não quero essa mediocridade para o Rio de Janeiro! Se você também não quer, e ainda mais, não quer que figuras como Marcelo Freixo se projetem a nível nacional, deveríamos começar a trabalhar desde já. O PSOL não é bom moço; é uma legenda extremista de esquerda que precisa ser enfrentada com vigor, onde quer que seus delírios consigam ter algum sucesso.
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