Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal
Duas mulheres negras homossexuais abatidas por bandidos: uma é coberta de homenagens e motiva cobranças por investigação e punições; a outra merece mínimas notas de rodapé e o silêncio constrangedor de feministas e militantes LGBT e da “causa negra”.
O motivo para este tratamento diferenciado seria, segundo alegam os revoltados de ocasião, é que a morte da vereadora consistiu em um CRIME POLÍTICO, o que não foi o caso da policial.
Ok. Vamos considerar que tal fato seja verdade, mesmo sem comprovação alguma – o que se tem são meros indícios até agora. Vamos também relevar a hipocrisia dessa ala do espectro político que não espumou de raiva ante ao assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel – este sim, uma clara queima de arquivo de delitos cometidos por petistas.
A pergunta que emerge é: POR QUE UM HOMICÍDIO COM MOTIVAÇÕES POLÍTICAS É MAIS GRAVE, DEVE SER TRATADO COM MAIS SERIEDADE, GERAR MAIS REPERCUSSÃO E EMOÇÃO EM RELAÇÃO AOS DEMAIS DEZENAS DE MILHARES DE BRASILEIROS QUE SÃO ANIQUILADOS FEITO MOSCAS ANUALMENTE?
A resposta foi dada há muitas décadas pelo comunista italiano Antonio Gramsci:
“Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que ‘viver significa tomar partido’. Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.”
Traduzindo: você, cidadão comum, que trabalha para prover sua família, vive à margem das politicagens e espera do Estado somente os serviços básicos pelos quais pagou com impostos, é odiado pela esquerda, simplesmente por não tomar parte da empreitada revolucionária – um “alienado”, por assim dizer.
Sim, a sua vida, leitor, vale menos do que a de qualquer pessoa que contribua, de alguma forma, para a expansão da máquina estatal e para aprofundar a intervenção dos burocratas em nossas vidas privadas.
Não à toa, manchetes de jornal da época deram conta de que o assassinato da psolista seria equivalente a um “duro golpe na democracia”. Não se engane: entenda, a partir da análise de Olavo de Carvalho, o que esse pessoal entende por democracia:
“A vitória mundial da idéia democrática traz, consigo, a tentação suicida de tudo democratizar, que no fim das contas é tudo politizar, dando àquele que tem o poder político um poder ilimitado sobre todos os outros domínios e esferas da vida.”
Pois bem: o ideário defendido em vida por Marielle – cotas, privilégios, verbas e proteção estatal para grupos supostamente oprimidos pela sociedade – fomenta o assistencialismo governamental que turbina a classe política, conferindo-lhe mais poder decisório e provendo justificativas para extrair mais recursos do setor produtivo. Um tiro em sua direção, portanto, é um ataque desferido contra todos os que gravitam em torno do aparato estatal.
Juliane, coitada, era só uma “indiferente”. Pior: era membro de uma corporação militar cuja missão precípua é combater as “vítimas do capitalismo cruel” que apontam fuzis em sua direção e que tanto ajudam a criar o ambiente de caos social onde o livre mercado não logra florescer – deixando o terreno fértil para líderes populistas implantarem o socialismo gradativamente.
Estes paladinos das “mortes políticas”, todavia, não lamentariam nem por um segundo se o mal maior se abatesse sobre Jair Messias Bolsonaro, ou qualquer outro agente político cujos princípios contrariem sua agenda de dominação das instituições e submissão de todos ao pensamento unico. Esta é a prova de seu duplipensar doentio.
Descanse em paz, Juliane, apesar da indiferença dos que odeiam indiferentes…
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