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Marina Silva no JN: o discurso da vitimização

Como encanta no Brasil o discurso da vitimização! Foi o pensamento que tive ao ver a entrevista de Marina Silva ao Jornal Nacional. O sucesso político de Lula já era prova disso. Agora temos em Marina Silva o novo símbolo da coitada que foi massacrada na vida em sua cruzada pelo bem. Eis sua trajetória de vida e no estado do Acre, sua terra natal. E eis a resposta que deu para o incômodo fato de que ficou em terceiro lugar lá nas eleições de 2010, com metade dos votos de José Serra.

Como sair dessa sinuca de bico? Marina puxou da cartola a imagem da vítima. Os acrianos não votaram nela porque ela feriu muitos grupos locais de interesse! Qual a lógica exata disso? Que a maioria dos acrianos é formada pelos grupos de interesse? Ou que são pessoas manipuláveis e suscetíveis à propaganda enganosa das elites locais?

Isso sem falar que seu marido era dessa mesma elite até ontem! Sim, o marido de Marina Silva fazia parte do governo de Viana, do grupo que detém o poder há 16 anos no estado. Fábio Vaz de Lima era secretário adjunto de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis, e recebia mensalmente do governo petista R$ 18.232,93. Se isso não é elite no pobre Acre, então a situação está realmente espetacular nessa pequena Suíça brasileira.

Mas se os fatos não ajudam, há sempre Chico Mendes. Marina mencionou o seringueiro sindicalista, o que nunca perde a oportunidade de fazer, pois sempre rende alguns votos extras. Uma heroína da ética combatendo as elites corruptas locais. Os mártires vendem bem. Mas o fato continua incômodo: Aécio Neves é bem avaliado em sua Minas Gerais, como Eduardo Campos era em seu Pernambuco. Marina foi massacrada no Acre. Motivo: foi boa demais para o povo local. Como é?

William Bonner e Patrícia Poeta fizeram seu papel, apertaram, cobraram sobre a suposta incoerência entre discurso ético e prática. Bonner abriu a entrevista logo questionando sobre o uso do jatinho que caiu e matou Campos, comprado com o uso de “laranjas”. Marina alegou não ter tal informação, e defendeu ampla investigação. Dizer que não sabia de nada e cobrar investigações em público não soa tão novo assim quando algum “malfeito” vem à tona por conta do trabalho da imprensa, não é mesmo?

A imagem de intransigente ou fundamentalista contra o agronegócio e os transgênicos foi negada por Marina Silva. “Há uma lenda de que eu sou contra os transgênicos, mas isso não é verdade. Sabe o que eu defencia quando era ministra do Meio Ambiente? Um modelo  de coexistência: área de transgênico e área livre de transgênico. Infelizmente, no Congresso Nacional, não passou a proposta do modelo de coexistência”, declarou.

Marina Silva como grande defensora do agronegócio, atividade responsável por 40% das nossas exportações (mais de US$ 100 bilhões) e 40% dos nossos empregos? Quem quiser que acredite. É do jogo. Mas se eu fosse um desses 40% confesso que não teria um sono tão tranquilo só porque Marina, agora, diz-se amiga do agronegócio. Mesmo sem ter nada com o setor eu já tenho alguns pesadelos…

Rodrigo Constantino

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