Mocinho e vilão bem definidos? Mocinho homem, branco e heterossexual? Patriotismo enaltecido? Capitão América como um grande ícone da coragem alimentada por esse patriotismo? Coisas do passado, de um tempo remoto, maniqueísta demais. Ou do futuro. A Marvel, em crise existencial apesar da fortuna produzida pelos filmes, tem cambaleado há anos entre manter essa receita de sucesso ou testar “novidades”, mais de acordo com a era do “progressismo” politicamente correto.
Foi assim que a empresa resolveu introduzir heróis ligados às “minorias”, dar mais espaço para figuras do mundo LGBT, para feministas, negros, tudo isso enquanto o Capitão América – sim, o Capitão América! – tornava-se um monstro, um espião nazista, um soldado infiltrado pela Hydra. Em outras palavras, a Marvel estava “lacrando” como ninguém! Era motivo de orgulho de todos aqueles seres sem gênero definido e com cabelo roxo.
Só teve um pequeno detalhe, um probleminha chato: o público geral não gostou nada das mudanças, as vendas caíram, o bottomline acusou o golpe: ou lacração ou lucro! Como constatou o psicólogo canadense Jordan Peterson, parece que a Marvel não conseguiu enfiar o politicamente correto goela abaixo do seu público, e isso levou a esquerda ao desespero. Nesse texto publicado no The Gardian, por exemplo, podemos ver o autor praticamente arrancando os cabelos com a decisão da Marvel de tentar uma nova guinada, desta vez de volta ao passado, às origens, às raízes.
David Barnett está profundamente decepcionado com a empresa, e não tenta esconder seu sentimento. Ele alega que as revistinhas não podem simplesmente espelhar os filmes, que miram numa audiência maior. Elas deveriam ousar mais, ter um universo mais abrangente para “experimentações”, abrindo os olhos de seus leitores para as incríveis possibilidades desse mundo. Heróis gays, mulheres negras “empoderadas” que odeiam homens, todos unidos contra essa praga da humanidade: o homem branco ocidental.
Esqueça Tony Stark como gastador de onda, como “gênio, bilionário, playboy e filantropo” quando está sem sua armadura. Isso passou a ser “ofensivo” demais, pouco “inclusivo”, machista, que reforçaria um estereótipo que precisa ser condenado. Claro, foi uma das passagens que o público mais gostou, mas isso é parte daquele detalhe insignificante…
As revistas em quadrinho, segundo o autor da crítica, devem ser “progressistas”, transgressoras, subversivas. Devem servir de instrumento para a marcha das “minorias oprimidas”. Mirar na classe média americana seria um grande erro, diz ele. Em vez disso, os executivos da Marvel deveriam olhar para os sobreviventes do massacre em Parkland, e escutar o que esses garotos estão dizendo (com o script da CNN?) sobre mudanças e reformas. Esse deveria ser o mercado da Marvel, conclui.
Desarmamento?! Um herói que, no lugar de enfrentar um perigoso vilão que quer dominar ou destruir o mundo, faz lobby em Washington para proibir a venda de armas? Um Thor que entregasse seu poderoso martelo às autoridades em protesto contra a violência? Já posso até ver a turma do cabelo roxo indo ao delírio, e as vendas despencando, despencando, despencando…
PS: Gostaria de deixar uma sugestão de novo herói para a Marvel “lacradora”. Chama-se Snowflake. Tem a aparência frágil e estranha, sem sexo bem definido. Cabelo roxo, claro. Sua grande causa pela liberdade é legalizar a maconha. Seus poderes? Solta floquinhos de neve nos inimigos, que passam mal de tanto rir, podendo até chegar a óbito. Seu ponto fraco? Não é a criptonita ou algo do tipo, mas as palavras, qualquer “ofensa”. Se alguém o xinga ou o chama de “reacionário”, ele cai em prantos e começa a gritar em nome de seus “direitos”. Não tem erro! Vai ser um sucesso! Não de vendas, naturalmente, mas de elogios na mídia mainstream.
Rodrigo Constantino