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Massacre em Suzano: o Mal existe e não há fácil solução

O Brasil está tendo um começo de ano um tanto difícil, com muitas tragédias. A que consternou o país nesta quarta-feira foi perpetrada por dois jovens, que abriram fogo numa escola em Suzano, matando crianças e funcionários. Esse tipo de massacre em escolas tem se repetido no mundo todo, e há poucos dias se completou um ano daquele ocorrido em Parkland, aqui perto da minha casa. O que explica esse tipo de coisa?

A primeira resposta, e mais honesta, é “não sabemos”. Qualquer tentativa de justificar de forma simplista um fenômeno desses estará fadada ao fracasso. São muitos fatores envolvidos. Aqueles que tentam tirar proveito dessas desgraças para avançar com sua agenda política desarmamentista, culpando as armas pelo tiroteio, não só desrespeitam as vítimas e seus parentes, como reduzem um problema bem mais complexo a uma causa absurda, até ridícula.

Um dos assassinos tinha 17 anos, não pode comprar arma legalmente. Eles tinham armas brancas também, além de explosivos. Quem quer executar um massacre desses vai fazer com ou sem armas de fogo, e certamente sem a necessidade de compra-las dentro das leis. É muita ingenuidade, para dizer o mínimo, achar que o problema reside nas armas, e não nas pessoas. E chega a ser infantil acreditar que basta uma lei desarmando o cidadão de bem para evitar novos massacres.

Se não devemos culpar as armas, o que devemos culpar então? Um primeiro candidato é a doença mental. Infelizmente falamos pouco desse tema, pois o movimento antimanicomial, há décadas, tenta relativizar ou até glamourizar os distúrbios psicológicos. Ninguém mais é maluco, louco, pois isso não é “politicamente correto”. Apontar desvios de comportamento pega mal, pois na hiper-subjetividade de hoje, cada um é cada um e ninguém tem nada com isso. Não há mais padrões, regras, normas. Ninguém é normal, pois é ofensivo falar nisso, então ninguém é doente mental. Essa mentalidade é um perigo! Precisamos falar sobre Kevin…

Além da doença mental, temos o bullying como candidato para explicar esses massacres. Mas eis o que raramente é dito: o bullying sempre existiu, mas não tais ataques. O que mudou? A forma como se reage ao bullying. O tiro sai pela culatra. Os “progressistas” podem ser bem intencionados até, mas o excesso de zelo e proteção produziu uma sociedade de “flocos de neve”, incapazes de lidar com a troça. Tudo virou ofensa. Em “lugares seguros”, os jovens modernos não suportam mais qualquer “microagressão”. Temos, como consequência disso, uma juventude despreparada para a vida real, onde há muita gente ruim. Campanhas contra o bullying não vão fazê-lo desaparecer.

O ressentimento é outro fator importante. O niilismo, a falta de sentido mais elevado para suas vidas, as famílias desestruturadas, a ausência divina que costumava preencher o vazio existencial de muita gente no passado. Além disso, temos o showbiz, o mundo do entretenimento em que todos buscam seus 15 minutos de fama, ainda que de forma tosca. O efeito contágio não pode ser descartado: esses jovens se inspiram em massacres anteriores e fantasiam seus nomes em destaque nos jornais, mesmo que por algo terrível. É o que fornece algum “sentido” às suas vidas vazias, medíocres, perturbadas. Ao menos se tornam “importantes” de alguma maneira.

Enfim, são muitos fatores que podem explicar esse comportamento monstruoso, desumano. Culpar armas ou videogames é apontar para um bode expiatório, querer encontrar uma causa única simplista, para não ter de lidar com a complexidade do fenômeno. Quando ocorreu o massacre em Parkland, conversei com o psiquiatra Gustavo Teixeira, e falamos sobre isso tudo. Resgato o vídeo para a reflexão dos leitores:

O Mal existe, e desde que o homem é homem se tenta explicar sua origem. Creio que nunca saberemos ao certo…

Rodrigo Constantino

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