Os tais “adultescentes” foram tema de várias colunas minhas no antigo blog da VEJA. Considero o assunto de extrema importância: pais que se recusam a educar seus filhos de verdade acabam gerando uma legião de mimados, que formam a tal geração “mimimi”, extremamente narcísica, hedonista e egoísta. Esse foi o tema da coluna de Rosely Sayão hoje na Folha:
O que é ser adulto, afinal? Ter mais de 18, 21 anos? Não! Ser adulto é ter maturidade, fazer as próprias escolhas na vida e arcar com elas. Esses jovens citados hesitam ao fazer suas escolhas e não arcam com a própria vida: seus pais é que fazem isso. São adolescentes, independentemente da idade. Permanecem sob a tutela econômica dos pais, que não têm coragem de retirá-la.
Jovens que levam esse tipo de vida precisam ainda de seus pais: estes, precisam dar um empurrão no filho para precipitá-lo na maturidade. E, para tanto, eles precisam sentir necessidade disso.
Você já se deu conta, caro leitor, de que criamos os filhos hoje sempre a evitar que eles sintam necessidades? Estamos quase sempre a nos antecipar às necessidades deles: antes que eles queiram, queremos por eles
e damos a eles.
Isso faz com que eles tenham uma visão bem equivocada da vida: acreditam que não precisam batalhar para viver, que outros farão isso por eles. E esses outros são seus pais, não é verdade?
Ou o estado, esse ente abstrato, essa ficção pela qual todos querem viver à custa de todos. Mas o fato relevante é essa postura mimada diante da vida, de quem sempre espera do “outro” alguma coisa, o sustento, os “direitos”.
Em uma resenha de um interessante livro do argentino Sergio Sinay, falei mais do assunto. Em outras ocasiões também já bati nessa imaturidade daqueles que deveriam servir como referência e freio aos mais jovens, mas que acabam lhes instigando um comportamento ainda mais infantil e irrefletido. Eis alguns trechos:
Maturidade exige renúncia, sacrifício, responsabilidade e compromisso. Tudo aquilo que muitos adultos modernos fogem como o diabo foge da cruz. Talvez para aplacar sua angústia existencial, esses adultos desejam permanecer jovens para sempre, e agem como tal. São colegas de seus filhos, e delegam a responsabilidade de educá-los a terceiros. Confundem seus caprichos com direitos. Nas palavras do autor:
Uma sociedade empenhada em permanecer adolescente vive no imediatismo, na fugacidade, nas rebeliões arbitrárias que a nada conduzem, na confrontação com as regras – com qualquer regra, pelo simples fato de existirem – no risco absurdo e inconsciente, na fuga das responsabilidades, na ilusão de ideais tão imprevistos como insustentáveis, na absurda luta contra as leis da realidade que obstruem seus desejos volúveis e ilusórios, na rejeição ao compromisso e ao esforço fecundo, na busca do prazer imediato, ainda que se tenha que chegar a ele através de atalhos, na confusão intelectual, na criação e adoração de ídolos vaidosos colocados sobre pedestais sem alicerces.
Impossível não pensar em Chávez, Morales, Corrêa, Kirchner e Lula. Ou ainda nos artistas e atletas famosos que levam vidas altamente questionáveis do ponto de vista ético, mas ainda assim viram heróis nacionais. Eis o exemplo que Sinay usa do lado argentino:
Uma sociedade é adolescente quando carece de critérios para distinguir entre as habilidades futebolísticas de seu maior ídolo esportivo, Diego Maradona, e suas condutas irresponsáveis, sua ética duvidosa, seus valores acomodatícios; quando acredita que aquelas habilidades justificam tais ‘desvalores’ e quando, assim como um adolescente, os vê como um tributo invejável.
O ponto de vista de Dom Lourenço de Almeida Prado, que foi reitor do prestigiado Colégio São Bento no Rio, também merece destaque nessa reflexão. Acho que ele resumiu como ninguém a angústia da juventude e o suposto “conflito de gerações”. Segue um longo trecho para reflexão:
O amadurecimento é acima de tudo um processo interior de aquisição da liberdade. A conquista da liberdade, por sua vez, é, no seu início, uma supressão de entraves, desde o mais primitivo, que é o não saber andar, nem falar, até a plena capacidade de locomoção, de ir e vir na cidade civilizada. Mas é, acima de tudo, a formação das qualidades da alma, do saber e da arte, na área da inteligência, e das virtudes, na área da vontade, que como a luz que liberta das trevas, dão os critérios de escolha, a lucidez que gera a segurança.
[…]
O mundo moderno é perturbado pelo equívoco igualitarista. […] Na escola, o aluno e professor são postos frente a frente como adversários numa luta de classes, na qual o aluno é o oprimido. O resultado é uma revolta que, no fundo, é um desafio: provocam a autoridade ao extremo para ver se ela existe. […] No fundo é a angústia da criança desamparada na busca dos verdadeiros adultos, daqueles que têm maturidade tranquila e não são, apesar da idade, inseguros, iguais a ela. […] não existe, a rigor, um conflito de gerações; existe uma polarização que pode gerar conflitos, mas que é, em si mesma, convívio de complementaridade.
[…]
E os adultos estão aí, estimulados por uma falsa psicologia, que alardeia conflitos, ou perplexos porque não se lembram, no momento, da lição do compêndio a ser aplicado ao caso ou receosos de passar por quadrado, procurando imitar o jovem com uma voz em falsete e com um olhar esdudadamente compreensivo. Quebra-se, assim, um polo da complementaridade e, então, vem o conflito de verdade.
[…] pode-se considerar como uma contribuição a esperar-se do jovem um certo tom de imprevidência ou uma certa audácia, acompanhada de uma coragem tangenciando a imprudência que dá ao jovem um saudável espírito de aventura e uma quase presunção de que possa abraçar o mundo. Tudo isso é positivo, mas tudo isso precisa ser contrabalançado, pela presença complementar, quase diria equilibradora do mais velho, de quem se espera, acima de tudo, a sabedoria (fala-se da insubstituível sabedoria dos anciãos, fruto da experiência, do sofrimento, das saudades, que a escola não ensina, mas ensinam os anos de vida). A sabedoria se exprime em prudência, ciência, medida nas coisas, segurança no decidir, medo de improvisar e a consciência de que é portador do facho para quem vem depois.
[…]
Concluindo, creio não ser demais relembrar que o nome tradicional desse encontro de geração é educação.
Que belas palavras! E como estamos longe dessa postura em termos gerais! Em vez de transmitir essa segurança, essa moderação, esses limites aos mais jovens, os “progressistas” jogam lenha na fogueira, atiçam os apetites, justificam quaisquer comportamentos, por mais hedonistas e destrutivos que sejam, parecem querer ver o circo pegar fogo, idealizando a juventude que já lhes escapou. É covardia, pura covardia.
Mas são esses mesmos “progressistas”, aliciadores dos jovens rebeldes, que depois passam a mão na cabeça dos que se desviaram para o crime, tentando impedir sua punição, e clamando, como panaceia, por uma “educação” que foi obliterada e destruída pela própria agenda progressista. É um disparate. Esses jovens estão sem referência, sem freios, sem limites, em boa parte pelas bandeiras progressistas disseminadas pela sociedade. Eles esperam tudo do estado, seu “messias salvador”.
E esses adultos covardes, que se recusam a agir como adultos e educar de verdade, depois procuram aliviar o jovem delinquente de responsabilidade por seus atos, talvez numa tentativa de aliviar a própria culpa e responsabilidade pelo quadro caótico que ajudou a criar. Os jovens estão desamparados pela covardia dos adultos, mas em vez de tirar disso uma lição sobre a importância dos limites e de uma educação mais firme e madura, esses “progressistas” pedem mais paternalismo estatal, diluindo ainda mais a responsabilidade individual numa geleia moral que acaba por tratar bandidos como “vítimas da sociedade”.
Sim, a maturidade está mesmo em falta no mundo, especialmente no Brasil, o “país dos coitadinhos”.
Rodrigo Constantino