Prestes a completar cinco anos e com um documentário no forno, o MBL (Movimento Brasil Livre) quer sanar o debate público que admite ter ajudado a deteriorar. Em entrevista à Folha, o coordenador nacional Renan Santos, 35, reconhece que ele e seus colegas abriram “a caixa de Pandora de um discurso polarizado”.
Apesar de jovem, Renan demonstra uma maturidade política muito acima da média. Ele lembra que o MBL ajudou não só no impeachment de Dilma, que foi fundamental para impedir o destino venezuelano do Brasil, mas também na divulgação de ideias que hoje o ministro Paulo Guedes tenta implementar, de cunho liberal.
Mas ele aponta que o foco foi todo no liberalismo econômico, deixando de lado o liberalismo político. “Tanto que a ideia de democracia é questionada. Tivemos um déficit de atuação nesse ponto”, diz.
Para Renan, há uma direita dividida no país hoje, com uma ala reformista e outra mais moralista e radical, que investe na narrativa antipolítica e mais revolucionária, com alguns chegando a pedir intervenção militar. Com humildade, Renan reconhece que o discurso adotado pelo MBL ajudou a parir essa polarização: “A gente tem uma responsabilidade num agravamento do discurso público? Temos. Temos que fazer essa mea culpa. O que queremos é que os outros agentes políticos também a façam: a esquerda, a imprensa…”
O discurso mais tribal de “nós contra eles” é sedutor, justamente por ser simplista, remeter a torcidas organizadas de futebol, mas não é saudável para a democracia, para o convívio com o contraditório. Essa coisa de “mito”, de endeusar um político, um governante, tampouco é compatível com o ceticismo liberal e conservador, pois lembra culto à personalidade, algo típico de regimes autoritários. Ele admite que o PT é muito pior do que Bolsonaro, o que é um tanto evidente, mas não poupa críticas aos defeitos do bolsonarismo e do governo atual, apesar de destacar o lado bom: “Tem uma dose grande de patrimonialismo, uma visão da máquina pública diferente da que nós reformistas temos. E tem o Paulo Guedes, é um governo que lida com essas contradições.”
Por fim, Renan aposta na reforma política, tentando construir pontes: “Falamos em voto distrital misto e candidaturas independentes. O tema do nosso congresso nacional deste ano é reforma política. Queremos chamar elementos da esquerda para discutir, da direita.”
Enfim, o MBL completa cinco anos com muita maturidade e espero que exerça um papel importante nesse debate político civilizado de que tanto precisamos.
Rodrigo Constantino
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