Os corruptos pegos nos “furos” de reportagem da Veja costumam alegar que tudo não passa de uma farsa, cobram os vídeos, as fitas de áudio, questionam as fontes sigilosas. Dessa vez, no caso da farsa da CPI da Petrobras revelada pela revista semana passada, não dá para apelar a tais subterfúgios, pois o vídeo e o áudio ficaram disponíveis para todos. O que fazer então? Fingir, alguns dias depois do choque, que tudo foi muito normal, apenas um caso de “media training” para os participantes da CPI.
Como diria Ancelmo Gois, “media training” é o cacete! Mas o colunista do GLOBO diria isso pelo uso da língua inglesa, o que considero uma besteira proveniente de nosso complexo de vira-latas e antiamericanismo boboca. Eu digo isso com outro enfoque. Uma reportagem da Veja desta semana desmonta a nova farsa de que tudo não passou de um treinamento normal das partes envolvidas.
Dilma chegou a afirmar, em fala pra lá de confusa, como sói acontecer, que era “estarrecedor” esperar perguntas técnicas sobre o assunto que não fossem formuladas pela própria Petrobras. Ou seja, segundo a presidente, só os funcionários da estatal podem formular perguntas pertinentes sobre possíveis desvios na compra da refinaria no Texas, e por isso não há nada de mal em organizar uma reunião na sala contígua ao gabinete da presidência da Petrobras para os diretores e parlamentares trocarem figurinhas, ou seja, perguntas e respostas.
Ninguém cai nessa. Ao menos não alguém com um pingo de inteligência. O que as imagens e o áudio mostram por meio de uma caneta com câmera escondida que os presentes desconheciam é uma tremenda armação que desmoraliza o intuito de qualquer CPI, que é investigar os “malfeitos” dos políticos. É coisa muito séria, muito grave!
Na Carta ao Leitor da Veja desta semana, consta uma metáfora futebolística bem ao gosto do ex-presidente Lula, que não deixa margem a dúvidas sobre o que aconteceu naquela sala:
Imagine um treinador que prepara o goleiro do time para uma eventual decisão por pênaltis e reúne vídeos com cobranças dos adversários. O goleiro terá, assim, informações sobre as características e peculiaridades de cada cobrador. Isso é normal. O que ocorreu na reunião relevada por VEJA, porém, equivale a combinar antes as cobranças com os batedores de pênalti adversários e, desse modo, desmoralizar o esporte, ludibriar o juiz, fazer de palhaços a plateia presente ao estádio e os telespectadores. Isso não é normal. É crime.
Rodrigo Constantino