Por Lucas Berlanza, publicado no Instituto Liberal
O final da semana passada foi de muita baixaria na Internet. Os dados de algumas pessoas inscritas em um site de relacionamentos adúlteros – o que, me perdoem, já é baixaria por si só, mas diz respeito apenas a quem se propõe a isso – foram vazados. Pois bem; umblogueiro e crítico de cinema, um senhor de nome Pablo Villaça, aparentemente com muitos seguidores – mas que, me perdoem mais uma vez, eu só conhecia de ouvir falar -, resolveu promover um ataque escroque contra o colunista de Veja, Rodrigo Constantino, divulgando a suposta informação de que seu e-mail constaria dos vazados. Sem nenhuma preocupação em prejudicá-lo em sua vida pessoal e, quem sabe, perante sua família, Villaça quis com isso ridicularizar o fato de Constantino defender a instituição do casamento. Tamanha irresponsabilidade baseada em nenhuma prova, procurando transferir um debate que deveria ser apenas ideológico para uma tentativa mesquinha de agredir o oponente em sua intimidade, poderia valer um processo nas fuças. Então, muito espertinho, o senhor Villaça excluiu seu comentário e escreveu uma longa mensagem com a “lenga-lenga” de que havia dado um mau passo, muito em função do que a “onda neodireitista fascista” o faz passar (que peninha!). Constantino respondeu com um vídeo em tom duro, muito adequado, e recebeu uma nova resposta, também em vídeo, do senhor Villaça. É aí que entra este que vos escreve.
Em questão de segundos em seu longo vídeo com novos ataques que não farei questão nenhuma de comentar, o senhor Villaça mencionou o meu artigo sobre o novo projeto de filme de Wagner Moura, compartilhado na coluna de Rodrigo Constantino. Disse que o artigo ataca Wagner Moura por estar simplesmente fazendo um filme sobre o guerrilheiro marxista Marighella, e que isso lhe parecia “macartismo”. Então vamos refletir um bocadinho sobre isso com o senhor Villaça.
Em primeiro lugar, mesmo alguns dos nossos leitores questionaram a oportunidade daquele artigo, acreditando que devemos simplesmente deixar em paz figuras como Wagner Moura – ou como o próprio senhor Villaça. Não valeriam o esforço de rebatê-las. Respeitosamente, discordo. Infelizmente, em um país como este em que vivemos, o nível do debate acaba sendo travado nessa esfera; figuras como Moura e Villaça são influentes e acumulam seguidores que não apenas apreciam suas habilidades ou talentos nos seus ramos particulares, que não discuto, mas também as suas ideias tortas, que entram na bagagem por osmose. Rebatê-las é uma maneira importante de colocar as nossas ideias também em circulação, considerando que elas têm um longo caminho a percorrer ainda em sua busca por representatividade.
As figuras de que falo apresentam alguma expressão no meio cultural, e se aproveitam disso para palpitar em defesa da esquerda e do governo. O senador do Partido Republicano dos Estados Unidos, Joseph McCarthy (1908-1957), a quem o senhor Villaça, indiretamente, me compara, possui um legado controverso, tanto para analistas à esquerda, quanto para a alguns analistas à direita – estes últimos por considerarem que seus excessos de temperamento podem ter atrapalhado, em certa medida, mais do que ajudado à causa anticomunista em solo americano. Não sou um grande conhecedor de sua trajetória para bater martelo a respeito, mas uma coisa é certa: McCarthy se notabilizou por denunciar a presença, em plena histeria diante da ameaça comunista na Guerra Fria – histeria que, diga-se de passagem, era plenamente justificada, já que falamos do perigo até nuclear de uma monstruosidade totalitária que estendia suas teias sobre o mundo -, de agentes do comunismo internacional em postos do governo americano e em setores do ramo artístico e cultural, e ele estava comprovadamente CERTO quanto ao mérito da questão! Essa infiltração existiu, não apenas nos EUA, como em muitos outros países, inclusive o Brasil. Não é, afinal, para mim, vergonha nenhuma ser comparado ao “macartismo”, que, se existiu em um momento em que era perfeitamente compreensível cometer alguns excessos de retórica diante da ameaça planetária em vigência, direcionava seus ponteiros contra um problema real que, a seu modo, ainda hoje existe, e precisa ser combatido democraticamente e com argumentos precisos. Afinal, o Gramcismo segue exercendo seus efeitos, sobretudo em nosso país, a todo vapor, e não fazemos nada além do necessário ao diagnosticá-lo e contestá-lo.
Dito isso, me pergunto sinceramente se o senhor Villaça leu o texto que critica. Quero crer que, se leu, tem sérios problemas cognitivos e não conseguiu entender, porque a alternativa é a falta total de caráter – se bem que ele já demonstrou não ter mesmo, diante do que fez com o Rodrigo Constantino. Em momento algum eu disse ou direi que fazer um filme sobre um comunista – como fazer um filme sobre um nazista, sobre um psicopata, sobre um estuprador, sobre um ladrão de galinhas, whatever – é o problema. O problema – melhor dizendo, o primeiro problema – é querer procurar apoio do governo para fazer isso. Acredito que o mínimo que temos direito de fazer é reclamar quando nosso bolso coça, não é mesmo?
Entretanto, o cerne do artigo era uma declaração imbecil do ator global, segundo a qual, repito, “sempre vai ter uma direita burra, careta, que vai dizer que é um filme sobre um terrorista”. Se o senhor Villaça leu o meu texto, perceberá que o próprio Marighella se definia como um terrorista, portanto a declaração de Wagner Moura, ofendendo todos que proclamam o óbvio, é nada menos que bisonha. O que quer o senhor Villaça, afinal? Incluir Moura em uma casta de intocáveis imaculados que podem fazer o circo que quiserem, ofender quem quiserem, e ficar imunes a qualquer resposta da sociedade agredida, simplesmente por estarem enaltecendo algum ícone imoral da esquerda? Estivesse ele procurando fazer uma homenagem cinematográfica ao meu ídolo pessoal, Carlos Lacerda, por exemplo, e será que Villaça não estaria sendo muito mais “macartista às avessas” do que, na sua mente distorcida, eu mesmo terei sido ao apenas apontar o óbvio?
No fundo, a breve declaração do senhor Villaça fez meu dia mais divertido e me proporcionou boas gargalhadas. Portanto, escrevi isso tudo só para agradecer a esse notável blogueiro e intelectual (incapaz de entender um artigo) brasileiro pela publicidade gratuita que ofereceu ao meu texto e mandar para ele, desavergonhadamente, o meu abraço “macartista” – com muito orgulho! Obrigado, Villaça!
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