A socialista Michelle Bachelet foi eleita neste domingo a nova presidente do Chile.
A candidata de centro-esquerda da coalizão Nova Maioria (ex-Concertação) venceu o 2º turno no país com 62,16% dos votos, contra 37,83% da centro-direitista Evelyn Matthei.
Do total de 13,6 milhões de eleitores, 5,672 milhões foram às urnas. A alta abstenção de 53% marca a primeira eleição presidencial do país com o voto não-obrigatório. No 1º turno, 48% dos eleitores não foram votar.
O Chile, como sabemos, é o país mais avançado do ponto de vista institucional na América Latina. Com boa estabilidade política e econômica, o país tem avançado mais que seus pares nas últimas décadas.
Boa parte disso se deve ao período de reformas econômicas liberais da era Pinochet. Apesar de ser uma ditadura política, o fato inegável é que Pinochet deixou um legado positivo na área econômica, com as reformas lideradas pelos craques de Chicago.
Previdência privada, voucher educacional, estatais privatizadas, abertura econômica, preços livres, enfim, o típico manual de reformas liberais, que colocaram o Chile em trajetória de crescimento sustentável.
Mesmo quando a esquerda chilena chegou no poder, não ousou mexer nessas vacas sagradas. Foi uma esquerda bem mais responsável do que a média latino-americana. De fato, seria até chamada de “neoliberal” para os nossos padrões brasileiros.
A própria Michelle Bachelet seguiu essa tendência mais social-democrata quando foi presidente. Mas não foi capaz de entregar resultados bons, e o povo chileno, desejando mudanças, elegeu Sebastián Piñera sob um discurso liberal.
O rico empresário foi um bom presidente em termos gerais, mas enfrentou muitas dificuldades na questão da educação, sob constante pressão de manifestantes, e no aspecto social – os chilenos reclamam da desigualdade material no país.
Eis que Bachelet volta ao poder agora, só que com um discurso muito mais à esquerda que o normal para os padrões chilenos. Venceu com uma lista de propostas sensacionalistas, que ameaçam as conquistas econômicas do Chile.
Alega que será uma presidente de todos, mas há claramente o risco de retrocesso, de alimentar demais essa divisão típica das esquerdas latino-americanas, que jogam pobres contra ricos, como se estes fossem responsáveis pela situação daqueles.
O Chile ainda tem instituições mais sólidas que o restante, e não se desfaz da noite para o dia o legado das reformas liberais. Para começo de conversa, há a previdência privada, em situação muito melhor do que as demais na região (e até no mundo), servindo como fonte importante de capital para investimentos produtivos.
Mas nenhuma vitória é garantida ou eterna, ainda mais na América Latina. Ficaremos atentos, torcendo para que Bachelet tenha a responsabilidade de reconhecer o que fez do Chile um país melhor que os vizinhos, e preservar tais pilares. Que o Chile siga sendo um exemplo para nós, apesar de uma socialista novamente no poder.
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