O presidente Bolsonaro declarou guerra à imprensa tradicional, seus seguidores fanáticos embarcam nesse chamado com uma virulência ímpar. Algo similar aconteceu nos Estados Unidos com Trump. Não se tratam apenas de críticas ao viés “progressista” dos jornalistas e principais veículos de comunicação. Isso, muitos à direita fazem há anos. É uma estratégia para calar questionamentos incômodos.
Claro que essa tática só surte efeito porque a mídia, de fato, apresenta forte viés ideológico. A cobertura da campanha e do governo de Trump por CNN, MSNBC, CBS, NYT e Washington Post, entre outros, tem sido vergonhosa, para dizer o mínimo. Pegam qualquer assunto e distorcem para sempre pintar o presidente como um lunático, um potencial fascista, o sujeito mais perigoso para a democracia no planeta.
A grande imprensa adotou a narrativa dos mais radicais do Partido Democrata e mais parece torcedora do que instrumento de informação. A credibilidade desabou e Trump, que vem do showbiz, tira proveito disso. Seu maior aliado é o “jornalismo” partidário. O homem parece em eterna campanha, usando seu Twitter para rebater essas “fake news”, nem sempre de forma republicana.
Bolsonaro parece se inspirar no fenômeno americano. Os principais veículos jornalísticos odeiam o que ele representa e nunca conseguiram esconder o preconceito. Substituem com frequência análise por torcida, assim sobram rótulos depreciativos para se referir ao presidente. Na era das redes sociais, isso não passa impune. A reação é essa militância que pretende destruir a mídia.
O problema é jogar o bebê fora junto com a água suja do banho. Em vez de criticar o viés da imprensa, essa milícia virtual quer eliminar todo o jornalismo para colocar em seu lugar sites que bajulam abertamente o “mito”, que distribuem “fake news” com sinal trocado e que fazem campanha escancarada para o governo. Chamar isso de jornalismo é piada de mau gosto.
Mal ou bem, foram os principais jornais e revistas que expuseram os escândalos da era petista, mesmo com seu viés esquerdista. Ninguém pode acreditar seriamente que os militantes bolsonaristas vão cobrar respostas do governo para temas delicados. A reação ao petismo e ao viés da mídia é legítima, sem dúvida, mas o tiro sai pela culatra quando se deseja calar todo e qualquer jornalista que investiga, questiona e traz à tona fatos que incomodam.
“Essa nova militância […] transfigurou-se numa patrulha virtual que fica, 24 horas por dia, monitorando comentários e postagens a fim de, prontamente, agir, de maneira enérgica e viral, em favor dos concordantes e, mais energicamente, na tentativa de destruir e silenciar os discordantes”, resumiu Paulo Cruz em artigo na Gazeta do Povo. Lamentável.
Artigo originalmente publicado pela revista IstoÉ