Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo

Ministro Weintraub é cercado por manifestantes com filha pequena no colo: precisamos todos de mais educação e civilidade!

A política virou arena de tribalismo, de torcida organizada de futebol, e isso tem sido extremamente prejudicial ao país e à democracia. Quando adversários políticos passam a ser encarados como inimigos mortais numa batalha de vida ou morte, não há mais espaço para o contraditório, para a tolerância, para a humildade em se reconhecer a falibilidade humana. Do outro lado vemos apenas um inimigo a ser eliminado, pois julgamos suas intenções como terríveis.

Isso tem acontecido no mundo todo, não só no Brasil. Ben Shapiro dedicou seu programa desta segunda para falar dessa polarização nefasta na política americana, com cada vez mais gente de ambos os lados incapaz de “cruzar o corredor” para conversar com o outro, entender seus pontos de vista, tentar debater de forma civilizada.

A política virou um “dilema dos prisioneiros”: ninguém mais aceita padrões objetivos e impessoais de moral, e sem confiança nisso resta apenas o ataque ao outro lado. É essa desconfiança mútua que está por trás das agressões crescentes, dos rótulos excessivos, do cinismo. Na guerra tribal, vale tudo pela vitória. A única coisa que importa é derrotar o inimigo, mais nada.

Se eu seguir os padrões morais de conduta enquanto o outro engana, mente, rouba, estarei em desvantagem política. Daí a crença de parte da direita de que é preciso jogar duro, sujo mesmo, exatamente como o adversário. A direita nacional-populista lança mão dos mesmos métodos do petismo, e chama liberais e conservadores de “frouxos” ou “ingênuos” por ainda defenderem princípios nesse ambiente tóxico.

Mas se não defendermos tais princípios, quem o fará? A esquerda tem muita responsabilidade por essa situação, pois foi ela que sempre chamou de “fascista” quem discordava do socialismo, que investiu em narrativas cafajestes e mentirosas sem qualquer apreço pela verdade, que apostou tudo no discurso tribal de “nós” contra “eles”. O bolsonarismo, em boa parte, é uma reação a isso, uma resposta truculenta, como Trump na América.

Só que isso tem gerado um círculo vicioso, não virtuoso. Se vale confrontar petistas em locais públicos, humilhar adversários diante de seus parentes, xingar e intimidar, então chegará o dia em que a pedra será vitrine, a pomba será estátua. E esse dia chegou. O ministro da Educação Abraham Weintraub foi cercado por manifestantes que passaram a ataca-lo, sendo que ele tinha sua filhinha pequena no colo. Onde está a civilidade nisso? Vejam as imagens:

Você tem todo direito de detestar o ministro e suas ideias, de achar que ele é um perigo para o futuro da nação, mas você não tem o direito de ataca-lo diante de seus filhos pequenos em local público. Isso é errado, simplesmente errado.

Sei que muitos bolsonaristas vão usar o caso para mostrar a truculência da esquerda, e o próprio ministro citou Che Guevara, que matou crianças, para comparar com seus agressores. Mas eis o ponto: é preciso ter coerência aqui, caso contrário seremos apenas hipócritas, como costuma ser a esquerda.

Não é certo fazer o que fizeram com o ministro, e também não é certo fazer isso com os adversários do outro lado, com Ciro Gomes, com petistas. Muitos bolsonaristas assumem a premissa de que petista é ladrão e destruiu o país, quase nos levando para o destino venezuelano, o que está certo. Mas partem dessa premissa para defender o constrangimento ou o ataque em público, como justiceiros, como linchadores morais, ignorando que é preciso defender o devido processo legal, a punição por meio da Justiça, o fortalecimento das instituições.

O país está saindo do controle, com cada um se sentindo no direito de agredir, intimidar, humilhar, pois está seguro de sua correção, de sua nobre causa, combatendo fascistas ou comunistas terríveis por todo canto. Essa mentalidade tribal é a morte da democracia e da civilidade, que pressupõem um convício amistoso com quem pensa diferente. O Brasil está submetido ao heavy metal, e precisa de um pouco de bossa nova, de mais calma e tranquilidade para poder avançar.

Que o caso lamentável ocorrido com o ministro e sua família sirva de reflexão para todos os lados. E isso não é coisa de “isentão”, mas de quem quer preservar justamente os pilares da civilização ocidental. Petistas e bolsonaristas ajudaram a alimentar esse clima, e basta lembrar de José Dirceu convocando a militância para bater nos adversários nas urnas e nas ruas. É hora de recuar. É hora de resgatar princípios básicos de decência humana.

Quem atacou o ministro pensou naquela pequena criança em seu colo? E que nobre causa vale esse trauma? Pois é…

Rodrigo Constantino

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.