Outro dia a jornalista Míriam Leitão acusava Jair Bolsonaro de não entender o básico de economia. Estranha a ausência da mesma crítica a Marina Silva, Ciro Gomes ou Luciano Huck, outros potenciais candidatos. Mas o ponto aqui é outro: por acaso a própria Míriam entende de economia? E de política?
A julgar por sua coluna de hoje, a resposta é não. Analisando a crise venezuelana, eis que Míriam Leitão culpa o “populismo”, que pode ser tanto de direita como de esquerda, em vez de dar nome aos bois e responsabilizar o único culpado pelo inferno no país vizinho: o socialismo. Diz ela:
A Venezuela desce a ladeira há tantos anos que ninguém se surpreendeu pelo fato de três agências de risco terem declarado que o país está em default, e o Brasil ter reclamado junto ao Clube de Paris por não estar recebendo do país vizinho. O populismo, seja de esquerda ou de direita, sempre termina em desastre, que aprisiona o país por anos, como ocorre na Venezuela.
O encontro com a verdade, que o populismo adia com discursos de ódio contra os supostos inimigos, algum dia chega. E na Venezuela tem estado presente há muitos anos, mas agora está num ponto de não retorno. Nesta quinta-feira, os credores reunidos na Isda, uma associação internacional de detentores de títulos, ainda conversarão com o governo, mas a tendência é a de se juntarem às agências Standard&Poors, Moody’s e Fitch e também declararem que a Venezuela não paga dívidas.
[…]
Essa mesma farinha eu vi sendo negociada em comércio paralelo no canto de um corredor do Palácio Miraflores, em 2003, quando fui entrevistar Hugo Chávez. O desabastecimento é crônico. O caso da Venezuela tem inúmeras lições sobre o que se deve evitar em qualquer país. Políticas públicas, sejam quais forem, se não tiverem uma base de sustentação fiscal acabam desmontando a economia. O país vive há anos um quadro de recessão, inflação e crise cambial. Foi levado a isso pelo populismo chavista. O longo retrocesso da Venezuela mostra o que não fazer com a economia e a democracia.
Você pode tentar, como eu fiz, realizar uma busca no texto pela palavra “socialismo”. Será em vão. Não encontrará uma só menção. É como se o desastre da Venezuela não tivesse ligação alguma com o socialismo, ou o “socialismo do século XXI”, como Chávez se referia a ele.
Enquanto a esquerda nacional vibrava com as promessas “sociais” de Chávez, a direita liberal já dizia, lá atrás, que tudo acabaria em miséria e escravidão, conforme todos os experimentos socialistas. Mas é um espanto Míriam voltar sua atenção para o “populismo” em abstrato, que pode ser tanto de direita como de esquerda, para não ter que entregar o verdadeiro autor do crime: o socialismo esquerdista.
As bandeiras defendidas pelos socialistas da Venezuela são as mesmas que o PSOL, o PT e a Rede pregam para o Brasil. Querem concentrar mais poder e recursos no estado, desconfiam do livre mercado, demonizam conceitos como a responsabilidade fiscal, rejeitam as privatizações, querem um banco central subserviente ao governo etc. Ou seja, é a plataforma de esquerda que foi adotada na Venezuela, e foi ela que afundou o país.
Ao mencionar populismo de direita, Míriam certamente quer atacar Bolsonaro uma vez mais. Mas Bolsonaro tem defendido a responsabilidade fiscal, a independência do banco central, as privatizações. Ou seja, Bolsonaro tem pregado em seus discursos o oposto do que fez a Venezuela, e do que deseja a esquerda brasileira para nosso país.
Por que, então, Míriam não tem a coragem ou a honestidade de apontar o dedo para o real culpado, o socialismo? Teria alguma ligação com o fato de ela mesma ter uma queda por tal ideologia, por nunca ter feito o luto de seu passado comunista?
O agradecimento que fez a Maria do Rosário pela “solidariedade” das combatentes contra a ditadura às ofensas de Bolsonaro leva a concluir que é por aí mesmo. Míriam se sente bem mais em casa entre petistas do que entre os liberais que estão apoiando Bolsonaro. É por isso que condena o “populismo”, de “esquerda ou direita”, em vez de culpar logo o socialismo, verdadeiro responsável pela desgraça venezuelana. Já Bolsonaro ataca sem rodeios o socialismo…
Rodrigo Constantino
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