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Morte de soldado da Força Nacional mostra um Rio em guerra mesmo durante a Olimpíada

O evento é global e o mundo todo acompanha os jogos que ocorrem no Rio. O aparato de segurança é impressionante. Mas mesmo assim temos indícios de que o “outro” Rio, aquele que não aparece nas lentes da imprensa, o mais verdadeiro, continua ali, ignorando os milhares de seguranças e a Olimpíada. Em certos territórios, quem manda é a bandidagem. E isso ficou muito claro no tiroteiro aos soldados da Força Nacional que entraram por engano na Vila do João, culminando na morte de um deles:

Internado desde a última quarta-feira no Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, o soldado da Força Nacional Hélio Vieira Andrade não resistiu aos ferimentos. Oriundo do estado de Roraima, ele foi atingido na cabeça por um tiro quando, junto a outros dois colegas de farda, entrou por engano na comunidade Vila do João, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. A informação da morte do militar foi confirmada pelo Ministério da Justiça. O militar chegou a passar por cirurgia, após ser levado até a unidade em estado gravíssimo.

Lamento pelo jovem soldado e seus familiares. O ocorrido mostra a crescente ousadia dos marginais, que não ligam nem mesmo para o imenso efetivo militar pelas ruas da “cidade maravilhosa”. Apesar de uma força de segurança com 85 mil pessoas, fora outros 23 mil soldados, o crime continua assolando o Rio. Foi também o ponto que Merval Pereira abordou em sua coluna de hoje:

Esse é o dado mais alarmante da situação. Depois de ações das Forças Armadas de retomada de territórios, e da implantação do programa de Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs, cujo objetivo era justamente não deixar que bandidos dominassem áreas da cidade, estamos diante da explicitação do fracasso dessa política, que inicialmente foi vitoriosa e parecia ser uma solução viável para a nossa segurança pública.

De nada adianta fazer incursões pelas chamadas comunidades para prender os autores dos disparos contra a Força Nacional, pois o que é preciso retomar é uma política de segurança que impeça os traficantes e milicianos de dominarem áreas da cidade.
A tese de que a venda de drogas não é a prioridade das ações se segurança, mas sim a liberação de territórios do domínio de gangues, está correta em tese, mas só se o controle territorial for mantido e a bandidagem for mantida sob controle, sem exibições de armas nem tentativas de ditar as regras dos locais em que atuam.

O triste dessa história é que a cada dia se revela que os bandidos simplesmente perderam o respeito até mesmo pelas Forças Armadas, e já não têm medo de atuar numa cidade que está super policiada. Estávamos acostumados a que, nos grandes eventos, a criminalidade ficasse sob controle, mas não é o que estamos vendo nessa Olimpíada.

O fracasso das UPPs está evidente. Essas “comunidades” não estão nada “pacificadas”. Continuam territórios sob o domínio de “estados paralelos”, controlados pelos traficantes. E estes estão cada vez mais armados, desafiando a polícia, demonstrando uma ousadia ímpar. O Rio vive em clima constante de guerra, e o pior de tudo é que muitos não percebem mais isso, banalizaram a situação absurda, como conclui Merval:

O pior sintoma de que estamos nos acostumando com situações que apenas ocorrem em locais em guerra é a explicação para uma bala perdida ou para um ataque a um ônibus. Atacar um drone que passou por cima da comunidade por não querer ser espionado, é uma atitude de guerra de quem tem o controle daquela área. Atirar pedras – se não foram balas – em um ônibus identificado como da Rio2016, pode ser um protesto por uma desapropriação mal feita, mas é uma atitude de guerra, assim como queimar ônibus em protestos contra a inação da autoridade pública.

O mundo está ligado nos jogos que acontecem no Rio, sob forte esquema de segurança. Mas será inevitável capturar também esses outros acontecimentos paralelos. E os gringos ficarão chocados, pois só mesmo o brasileiro, em especial o carioca, perdeu o elo com a realidade e passou a considerar “normal” coisas tão bizarras. Espera-se no Iraque ou na Síria esse tipo de notícia, mas não no Rio, durante a Olimpíada mais protegida da história. Imagina na Olimpíada? Não: imagina depois da Olimpíada…

Rodrigo Constantino

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