Em nova entrevista ao GLOBO, o vice-presidente Mourão deu novas declarações polêmicas, e que vão de encontro ao essencial de quem apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro. O tema que despertou mais atenção – e revolta – foi o do aborto, destacado pelo jornal em sua manchete. Para o general, seria uma questão de escolha da mulher, ou seja, pro inferno com o direito à vida do bebê no ventre. Eis o trecho:
Como o senhor vê a situação da ministra Damares após a reportagem da Época?
Eu não tenho elementos, porque eu não li a reportagem . A ministra Damares tem me causado uma excelente impressão, porque é uma mulher de posições bem definidas, firmes, ela não se apavora com as coisas. Então, essa questão de adoção em área indígena sempre tem ruídos. Se a moça está feliz com ela, se a menina está feliz com ela acho que é o mais importante.
Como o senhor acha que tem que ser tratado dentro do governo os temas de gênero?
O governo tem que tratar de forma objetiva. É uma questão de saúde pública. Doenças sexualmente transmissíveis são uma questão de saúde pública. A questão do aborto também é algo que tem que ser bem discutido, porque você tem aquele aborto onde a pessoa foi estuprada, ou a pessoa não tem condições de manter aquele filho. Então talvez aí a mulher teria que ter a liberdade de chegar e dizer “ preciso fazer um aborto”.
Até mesmo nos casos em que a mulher não tenha condições de manter o filho?
Minha opinião como cidadão, não como membro do governo, é de que se trata de uma decisão da pessoa.
O senhor acha que poderiam ser ampliadas essas possibilidades de aborto?
Pessoalmente, eu acho que poderia.
Mourão tem feito afagos constantes e crescentes nos “progressistas”, e parece ter gostado da imagem de “moderado” que até opositores esquerdistas resolveram lhe colocar – uma postura tática e hipócrita, como já argumentei. Para a turma da elite “descolada”, o aborto pode ser uma questão de simples escolha da mulher, mas para a imensa maioria da população brasileira não é. Afinal, trata-se de outra vida em jogo, não de uma extensão do corpo da mulher, ou de um parasita que pode ser eliminado sem mais nem menos.
Os democratas “progressistas” aqui nos Estados Unidos estão cada vez mais radicais na questão do aborto, e aqueles mais moderados vêm alertando para a perda de eleitores por conta dessa postura. Na Virgínia, uma política do Partido Democrata chegou a apresentar um projeto de lei em que o aborto seria permitido em qualquer circunstância até o final do terceiro trimestre! Isso mesmo: prestes a sair pelo canal vaginal, a mãe poderia simplesmente matar o bebê formado. O governador, também democrata, endossou a fala da companheira de partido.
É algo simplesmente monstruoso! Mas mostra bem a visão democrata sobre o assunto. É como se ao atravessar a vagina o bebê ganhasse vida e status humano, e somente ali. Antes, pode-se fazer o que bem desejar. Na verdade, alguns já falam em infanticídio mesmo, em “aborto” pós-parto. É a barbárie indígena de volta à civilização, pela pena dos “ungidos” que se consideram mais esclarecidos e humanitários do que os “alienados” conservadores, esses seres atrasados que ainda seguem uma moral religiosa e cristã. O horror! O horror!
A banalização da vida humana está na pauta da esquerda faz tempo, e ela tem conseguido, aos poucos, fazer com que o monstruoso de ontem se torne o aceitável de hoje e o inevitável de amanhã. Por isso a guerra é cultural. E por isso a fala de Mourão é simplesmente lamentável. Pode ter lhe rendido uns likes de “progressistas” e mais alguns elogios de jornalistas, mas gerou revolta na base de apoio do governo, com razão. Mourão tem falado demais. Deveria lembrar que quem faz isso acaba dando bom dia para cavalo…
Rodrigo Constantino