Por Vinicius Galvão, publicado pelo Instituto Liberal
Com a crescente rejeição da população brasileira à oligarquia petista e aos seus asseclas, declarada por meio de manifestações cada vez mais maciças, o público começa a rebelar-se contra o maior esquema de poder já concebido no âmbito político brasileiro. A revolta, vista de dentro e de perto, não é senão uma reação esperada de um povo que, face à desilusão destilada por toda uma geração de políticos incompetentes e corruptos, sente-se traído por aqueles que outrora prometeram justamente o oposto do presente estado de coisas.
Tendo por base a análise superficial dos acontecimentos recentes no cenário político brasileiro, se poderia concluir que o esquema de poder comunista arquitetado pelo Partido dos Trabalhadores desde sua criação em 1980 tivesse fracassado em seu todo, sem deixar o mais mínimo resquício de subsistência nas instituições que vem aparelhando desde que subiu ao poder em 2002.
Contudo, tratando-se a política de uma estrutura quase que totalmente subordinada à cultura, sua análise de conjuntura jamais deve se limitar tão somente a seus efeitos visíveis e imediatos, porquanto suas motivações se guardam dentro do inconsciente coletivo antes de surgirem na realidade concreta, tal como assinala o poeta austríaco Hugo von Hofmannsthal: “Nada se torna realidade na política de um país se antes não está presente, como espírito, na sua literatura”[1].
Em um ambiente onde a cultura é corroída há décadas por uma classe político-cultural, e onde a educação é vista como um instrumento de controle e formação social, como no caso brasileiro, é natural que não somente o campo político viesse a ser afetado pela imoralidade, como também todas as demais esferas e instituições se contaminassem, criando uma atmosfera de anomia permanente, justificando tanto o número de 60.000 homicídios por ano[2]quanto os piores lugares nos testes internacionais de educação[3].
Há pelo menos cinco décadas a “ocupação de espaços”, mandamento prescrito por Antonio Gramsci, vem sendo o principal objetivo da elite pensante deste país, tornando a ideologia marxista tanto mais imperante e hegemônica quanto mais despercebida aos olhos de seus antagonistas.
A prova dessa soberania reside, sobretudo, no fato de que (i) até o ano de 2015 não havia um único partido político de direita ou que fosse capaz de representar os anseios da maior parte da população que, estando fora do raio de alcance da cultura letrada, continua eminentemente conservadora (ii)qualquer opinião contrária a do establishment é desde logo rechaçada e vista como uma ameaça à ordem vigente sob as mais variadas e possíveis desmoralizações que vão desde sua premeditada exclusão até a imputações de adjetivos carregados de carga emocional negativa (machista, xenófobo, racista, etc.), prática decorrente de um dos principais mandamentos leninistas: “Xingue-os do que você é. Acuse-os do que você faz” (iii) quase não há, na análise dos programas de TV, rádio, jornais, revistas, etc., canais de expressão eminentemente direitistas ou conservadores (alcunhar tais termos à revistaVeja, à Rede Globo ou a qualquer outro órgão midiático por conta de suas denúncias de natureza política é não compreender o aspecto da promoção cultural marxista, que tais entidades realizam com sucesso).
Com isso, é natural que todas as esferas do Estado viessem a ser aparelhadas pelos agentes que sempre partilharam da mesma ideologia da classe pensante marxista que há 50 anos já dominava o ambiente cultural, seguindo à risca mandamentos de Gramsci e orientando a classe política para que, subindo ao poder, tornasse o partido-Estado um ente “onipresente e invisível”.
Amostras de que a classe petista se fundamentou nestes mandamentos foram seus incontáveis escândalos de corrupção. O que foi, por exemplo, o caso do Mensalão senão um esquema de poder totalitário que visava tornar o Partido dos Trabalhadores o gestor único da sociedade?
É certo que o comunopetismo já se deteriorou e encontra-se arruinado, ante o fato de que nem a própria esquerda reconhece sua legitimidade no poder.
Contudo, a hediondez dos crimes comunistas jamais serviu de impeditivo para que, logo após a desconstituição de um de seus esquemas no poder, se ressurgisse um outro ainda mais nefasto e hediondo: os 20 milhões de mortos pela Revolução Russa foram precursores dos 65 milhões de mortos pela Revolução Chinesa[4].
Isto porque o comunismo, mais do que uma ideologia, é um movimento revolucionário que se perpetua e se reinventa ao longo dos séculos justamente por ser capaz de abarcar em si as teorias mais discrepantes, ocupando os dois polos da construção dialética (o “sim” e o “não”, o “ser” e o “não-ser”), transfigurando-se no que quer que lhe convenha diante das adversidades que encontre pelo caminho. Assinala o filósofo Olavo de Carvalho: “(…) a unidade do movimento comunista é de tipo estratégico e organizacional, não ideológico. O comunismo não é um conjunto de teses: é um esquema de poder, o mais vasto, flexível, integrado e eficiente que já existiu”, A título de exemplo, a promessa do “progresso” por meio da destruição é só um dos elementos aparentemente contraditórios que sustentam o corpo revolucionário, deixando seu adversário atônito, sem que jamais saiba identificar de onde emana a força que o corrói.
Exemplo prático deste domínio dialético é a chamada “estratégia das tesouras”, tática leninista que consiste em homogeneizar a disputa política entre a extrema-esquerda e a direita da esquerda, fazendo com que esta se apresente como o menor dos males frente às propostas temíveis oferecidas por aquela. A tática reduz todo o plano político à uniformização ideológica, transformando a concorrência entre reais opositores (essência mesma de uma democracia) a um jogo de cartas marcadas onde só um lado vence.
É esta uma das táticas que vêm sendo aplicadas dentro do cenário político brasileiro pelo menos desde a década de 90 com a falsa oposição PT-PSDB, descoberta há muito por poucos e há pouco por muitos[5].
Ignorar que a nossa cultura continua intoxicada por um esquema de poder que visa tão somente atingir um estado coisas caótico é o mesmo que deixar que se implante, coniventemente, um terreno fértil para que o jogo de poder esquerdista se perpetue e o espectro político seja cada vez mais movido à esquerda.
[1] Carvalho, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. 18ª Ed. Rio de Janeiro. Record, 2015. Pgs 324
[2] “Brasil registra quase 60 mil homicídios em 2014, diz relatório”. Disponível em: <http://www.parana-online.com.br/editoria/pais/news/910559/?noticia=BRASIL+REGISTRA+QUASE+60+MIL+HOMICIDIOS+EM+2014+DIZ+RELATORIO>. Acessado em 03 de Abril de 2016.
[3] Quintela, Flávio. Mentiram (e muito) para mim. 1ª Ed. São Paulo. Vide Editorial, 2014. Pg. 122.
[4] Courtois, Stéphane. O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror, Repressão. 6ª Ed. Bertrand Brasil, 2015. Pgs. 7.
[5] Garschagen, Bruno. Pare de acreditar no governo: por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado. 7ª Ed. Rio de Janeiro. Record, 2015. Pgs. 216-225.
* Vinícius Correia Galvão é estudante de Direito da Universidade Estadual de Maringá – UEM.