O presidente Bolsonaro investe contra a ciência, influenciado pelo olavismo, que adora teorias conspiratórias e despreza o rigor acadêmico. A retórica de Bolsonaro, de chamar de “maus brasileiros” aqueles que espalham dados ruins sobre desmatamento da Amazônia, em nada ajuda. A demissão do diretor do Inpe pegou mal. Mas é preciso ser justo nas críticas. Todo esse caso envolvendo o Inpe parece exagerado.
A demissão, para começo de conversa, parecia inevitável após o diretor Ricardo Galvão rebater o presidente em público, da forma que fez. O ministro Marcos Pontes disse que o ex-diretor tornou a situação insustentável ao procurar a imprensa para rebater o presidente, em vez de tentar o diálogo. “Se tivesse me procurado, tudo poderia ter sido resolvido no diálogo. O fato de ter falado direto com a imprensa causou perda de confiança”, afirmou. “Tem influência do presidente (na demissão), mas tem a minha parte, porque se tornou difícil contornar a situação”. É compreensível.
Já a escolha do novo diretor parece atender ao quesito meritocrático. Embora de carreira militar, o coronel da Aeronáutica da reserva Darcton Policarpo Damião conhece bem a área. Tem mestrado em Sensoriamento Remoto pelo Inpe e doutorado em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), e é professor no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Ou seja, não se trata de um leigo a ser manipulado pelo governo.
Damião assume o cargo com a promessa de dar “transparência total” aos dados sobre desmatamento no País. Em entrevista exclusiva ao Estado, ele apontou “teoria da conspiração” quando se sugere que informações sobre áreas que sofrem desmate podem ser censuradas. “Ninguém vai esconder nada, dado nenhum, até porque não se consegue fazer isso”, afirmou. “Quero olhar para frente, não para trás, pensando no que é melhor para o Brasil”, acrescentou, desviando da polêmica com seu antecessor no cargo.
Sobre a confusão dos dados em si, especialistas independentes também disseram que houve erro de comunicação. O professor Alexandre Galvão Patriota, livre-docente do Departamento de Estatística do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que os questionamentos do governo aos dados sobre o desmatamento da Amazônia “fazem sentido”. “Não foi um problema técnico do Inpe, foi de divulgação na mídia. O Deter não pode ser usado como detecção definitiva de desmatamento, mas sim de alerta. O Inpe deixa isso claro em seus relatórios metodológicos”, explica Patriota.
O próprio ministro Ricardo Salles já tinha fornecido explicações técnicas sobre o assunto, reconhecendo que houve aumento no desmatamento, mas sugerindo cautela com os dados divulgados sem o devido filtro. O que o governo criticou, segundo o ministro, foi o sensacionalismo da imprensa ao deturpar os dados ou ignorar os problemas na medição. E ele tem um ponto.
Por fim, vale frisar que há mesmo um alarmismo ambientalista, que muitas ONGs financiadas por grupos estrangeiros alimentam uma visão romântica das nossas florestas, pois no fundo seguem a máxima de que devemos preservar tudo intocado, enquanto o resto do mundo se desenvolveu desmatando suas florestas. “Florestas lá, fazendas aqui”, diz o slogan.
A questão das reservas indígenas segue a mesma linha de raciocínio: é como se o progresso estivesse vetado aos índios, que precisariam viver eternamente no completo subdesenvolvimento só para o deleite de uma elite culpada inspirada em Rousseau. Vamos manter os “bons selvagens” isolados, como bichos exóticos num zoológico humano, só porque isso é charmoso?
Em suma, o governo Bolsonaro erra na forma, tem um viés anti-científico, mas não está necessariamente errado em tudo quando o assunto é ambientalismo e desmatamento. O alarmismo dos ecoterroristas tomou conta de boa parte da mídia. E é preciso resgatar o bom senso urgentemente. Com respeito aos dados, sem dúvida. Mas questionando a exatidão desses dados, e também a intenção “nobre” de muitos ambientalistas…
Rodrigo Constantino
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