O presidente Bolsonaro, por decreto, mudou algumas regras para a posse de armas nesta semana. As mudanças não agradaram praticamente ninguém. Quem já era a favor do desarmamento vai considerar qualquer flexibilização indevida e perigosa. E quem entende que a posse e mesmo o porte de arma são direitos básicos para a legítima defesa do cidadão considerou as mudanças tímidas demais, até cosméticas.
Facilitar o acesso do brasileiro decente às armas foi uma das mais importantes promessas de campanha de Bolsonaro. Por isso o especialista no assunto, Bene Barbosa, chamou o decreto de “ducha de água fria”. Aqueles que lutam há anos contra o Estatuto do Desarmamento esperavam muito mais do novo governo. É verdade que, por decreto, as mudanças seriam mesmo limitadas, e mexidas mais profundas demandam aprovação no Congresso.
Esse tem sido o tom até aqui em outras áreas, como a economia. Em que pese uma equipe de primeira, com um time de liberais com incrível preparo, as declarações do próprio presidente e das alas política e militar de seu governo têm sido um tanto desanimadoras. Antes mesmo de Paulo Guedes apresentar uma proposta ao Congresso já houve falas que “desidratam” a urgência de uma reforma profunda.
Concessões demasiadas nessa fase acendem a luz amarela: sinal de que nada perto do que efetivamente necessitamos será aprovado no final, após todas as emendas parlamentares promovidas por grupos de interesse que desejam preservar seus privilégios. Se este for o caso, os mercados vão sentir, os investidores vão ficar decepcionados e a sangria fiscal vai continuar. Estancá-la tem que ser a prioridade. E Bolsonaro foi eleito para realizar as mudanças necessárias.
Claro que ninguém sério esperava milagres, um messias salvador com uma bala de prata. E, justiça seja feita, temos visto mudanças de postura em diversos aspectos. Só pensar em como estaria o Brasil nas mãos do PT é motivo suficiente para celebrar o governo Bolsonaro como se fosse, de fato, um milagre. Mas a direita é mais exigente, calcada em princípios, e quer uma guinada para valer. Comparar com a era petista não é algo aceitável, pois ser melhor do que a quadrilha socialista que destruiu o Brasil, convenhamos, não é grande coisa. É o mínimo.
Bolsonaro tem tudo para ser um bom presidente, quiçá um estadista. Mas, para tanto, terá que comprar brigas relevantes, mexer em vespeiros, desafiar de verdade o status quo. Ele foi eleito para isso. E seu núcleo duro precisa também aprender a conviver com as críticas, especialmente as construtivas, em vez de atacar a imprensa sempre que algum deslize é apontado. Se for nessa direção, poderá ter sucesso. Caso contrário, os resultados serão medíocres.
Artigo originalmente publicado pela revista IstoÉ
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