A esquerda radical sempre contou com aqueles mais dissimulados, com fala mansa e postura mais amigável, para enganar os trouxas. Se todos aparecerem como revolucionários raivosos e babões, vão assustar a clientela de classe média ou alta, a elite entediada. É preciso “dourar a pílula”, como dizem.
E durante a revolução bolivariana na América Latina, arquitetada pelo Foro de SP, havia os dois perfis nessa estratégia das tesouras: o mais carnívoro, como Hugo Chávez, e o mais “herbívoro”, como Pepe Mujica.
Não importa que o sujeito tenha sido guerrilheiro, bandido pela causa: ele adotou o figurino de líder humilde, pobretão descolado, “progressista” da maconha, desapegado do poder e de bens materiais, e essa narrativa vendeu bem, especialmente entre os mais jovens iludidos.
Escrevi alguns textos metendo o pau nessa fantasia, mostrando o radicalismo do homem real por trás do mito, mas a maioria não quis saber: fui detonado pelos esquerdistas “moderados”, que enxergavam em Mujica um “fofo”. Lembram de Pedro Bial o entrevistando? Quase teve orgasmos com as respostas de Mujica! Bial, o liberal…
Pois bem: a ditadura de Maduro intensificou a opressão, mandou tanques para cima do povo, atropelando vários, e um jornalista quis saber o que Mujica achava disso tudo. A resposta breve do ex-presidente uruguaio trai seu extremismo: “basta não ficar na frente dos tanques”, disse o “simpático” comunista.
Pois é, nada como o tempo, senhor da razão. Esse aí nunca me enganou! Num texto, falei do “culto ao pobrismo” como simulacro de humildade. Em outro, mostrei a hipocrisia de quem elogiava a “simplicidade” de Mujica, mas apontava para a falta de decoro de Bolsonaro. Em mais um texto, mostrei como o Mercosul se recusou a condenar a Venezuela por pressão justamente do “moderado” Mujica.
Enfim, os tipos feito Mujica são ainda piores do que os que se mostram mais radicais, justamente porque enganam mais gente. Aliás, Alexandria Ocasio-Cortez e Bernie Sanders ainda não condenaram Maduro pela escalada na repressão. São “socialistas democratas”, que defendem o modelo sueco, não o venezuelano. Sei…
Ilhan Omar acusou… Trump pela crise venezuelana, pois condena as sanções ao país de Maduro, enquanto pede sanções contra… Israel. Esse é o Partido Democrata moderno, cada vez mais parecido com um PSOL da vida.
No Brasil, temos a esquerda “moderada” com gente como Tabata Amaral. Tão fofa! Em seu Twitter, ela prega a tolerância: “Precisamos interromper esse ciclo vicioso de ódio e violência que se instaurou em nossa sociedade”. Lindo! Mas sobre a Venezuela, nem uma só palavra!
Desconfie de toda esquerda “moderada” que se recusa a condenar diretamente a ditadura de Maduro. São falsos como uma nota de três reais. Até o esquerdista Caio Blinder, que sofre de ódio patológico por Trump, chamou de “esquerda sem vergonha” quem fica ao lado de Maduro depois de tudo.
Infelizmente, há muita gente na esquerda ou oficialmente ao lado de Maduro ou em silêncio cúmplice. Há, ainda, aqueles como Miriam Leitão, que enxergam um dilema, uma encruzilhada entre Maduro e Estados Unidos, pois Guaidó é apoiado por Trump e isso seria terrível.
A crise venezuelana, causada pelo socialismo, é o melhor divisor de águas que existe: não condenou veementemente a ditadura de Maduro, então só pode ser conivente com a opressão! Não há meio termo possível aqui. Quem tem juízo e decência está indignado e revoltado com Maduro e seus companheiros. Quem está calado ou culpando quem se meteu na frente dos tanques tem a alma podre. Mais podre do que as unhas de Mujica!
Rodrigo Constantino